sábado, 14 de dezembro de 2024

Sobre o embargo a Cuba

Fontes: Desejo de escrever

Juan Torres López
rebelion.org/

O embargo que os Estados Unidos impõem a Cuba há décadas é um caso único. Pela sua duração e efeitos, foi a medida mais cruel e desumana já tomada contra um povo na história.

Formalmente, os EUA justificam o embargo julgando que não há democracia na ilha e que o Governo é inimigo do povo. Além disso, desde 1982, sob a presidência de Reagan, Cuba tem sido considerada um país “patrocinador do terrorismo”.

Tanto o embargo como as sanções não são apenas desumanos, mas injustos, e sem qualquer outra base que não seja o desejo de punir a população cubana porque o país escolheu um caminho de desenvolvimento que gera rejeição por razões ideológicas e de interesse econômico.

Os Estados Unidos não defendem nem procuram estabelecer a democracia

Mesmo aceitando que não existe uma democracia de estilo ocidental na ilha, é uma prova clara de que Cuba não é o único país do mundo onde isto ocorre. O seu Governo não é dos mais cruéis nem age contra os interesses do seu povo, como se pode verificar pelas ações dos Estados Unidos.

É falso que a grande potência americana sancione Cuba porque a sua intenção é defender a democracia. Isto é demonstrado por um fato perfeito e amplamente contrastado durante mais de um século: Washington apoiou e apoia, protege e financia muitos regimes políticos não democráticos em todo o mundo, e ajudou direta ou indiretamente com dezenas de golpes de Estado a colocar um fim para ela em todos os continentes.

A investigação acadêmica mostra que, desde o final da Segunda Guerra Mundial até à queda do Muro de Berlim, os Estados Unidos procuraram derrubar governos em diversas ocasiões. De acordo com um relatório da Universidade Carnegie Mellon, entre 1946 e 2000 ocorreram 81 operações de influência eleitoral, tanto abertas como encobertas, por parte dos Estados Unidos. E na maioria das intervenções o resultado foi a promoção de ditaduras.

Só o golpe que Washington induziu e apoiou ativamente na Guatemala em 1954 causou a morte ou o desaparecimento de 200.000 pessoas. Ali, como noutras ocasiões em que interveio, foram as suas forças militares que cometeram a maior parte das atrocidades.

Por outro lado, dos 24 golpes de estado militares ocorridos em todo o mundo entre 2009 e 2023, metade não recebeu uma condenação formal do Governo dos EUA.

Quer você goste ou não, os Estados Unidos foram e continuam a ser o país que mais frequentemente derrubou ou ajudou a derrubar regimes políticos democráticos.

Os Estados Unidos organizaram e financiaram grupos terroristas

Incluir Cuba entre os países que promovem o terrorismo é, simplesmente, um mal que até alguns líderes americanos negaram. O próprio presidente Barack Obama, em 2015, deixou de considerar Cuba um “Estado que promove o terrorismo”. Segundo Ben Rhodes, antigo Vice-Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, por uma razão simples: “Simplificando, Cuba não é um Estado patrocinador do terrorismo”.

A acusação dos Estados Unidos contra Cuba de promover o terrorismo é especialmente maliciosa e injusta vindo precisamente desse poder. Foi documentado que a Casa Branca financiou, protegeu e encorajou um grande número de grupos e organizações terroristas em vários países, incluindo, entre eles, o DAESH (também conhecido como ISIS), a Al-Qaeda, o Boko Haram na Nigéria e o Al Shabab na Somália.

Sem falar no apoio a atos terroristas isolados que os seus próprios documentos desclassificados revelaram. As próprias instituições dos Estados Unidos reconheceram apoiar ou estar envolvidas em tentativas de assassinato ou assassinatos cometidos contra líderes políticos estrangeiros.

Quem é, realmente, o inimigo do seu povo?

Finalmente, o Governo dos Estados Unidos acusa o Governo cubano de ser inimigo do seu povo e de o maltratar. A verdade, porém, é que em muitos territórios e grupos populacionais americanos existem níveis de agitação piores do que em Cuba. Assim, segundo dados fornecidos pela CIA, a mortalidade infantil estimada para 2024 nos Estados Unidos é de 5,1 crianças por 1.000, e de 4 na ilha, apesar das difíceis condições impostas pelo embargo.

Segundo a mesma fonte, a população de ambos os países tem a mesma esperança de vida (80,9 nos Estados Unidos e 80,1 em Cuba, apesar da enorme diferença de recursos. Ambos os indicadores são muito melhores na ilha do que num bom número de estados ou territórios dos Estados Unidos deveriam envergonhar-se quando Cuba, injustamente e desumanamente empobrecida, os supera nestes indicadores, segundo dados das Nações Unidas ou do Banco Mundial.

Este bloqueio e as centenas de sanções adicionais não só prejudicam a economia cubana e a impedem de obter rendimentos, ou mesmo de receber pagamentos através do sistema financeiro. Representam um ataque direto à saúde da população, pois implicam que Cuba não pode adquirir medicamentos e outros recursos básicos de saúde, como ocorreu mesmo em plena pandemia da COVID-19. Além, claro, de outros produtos essenciais para a sua economia, como sementes, fertilizantes ou tecnologia.

É verdade que a situação econômica, social, educativa, sanitária e, em geral, as condições de vida em Cuba estão muito deterioradas. Mas seria o mesmo sem as sanções e o bloqueio? É também uma prova de que, apesar dos enormes custos e dificuldades que as medidas implicaram desde 1960, as condições de vida dos cubanos são melhores do que as prevalecentes em muitos outros países, ainda mais ricos.

A fome é um crime contra a humanidade

O embargo a Cuba e as sanções que lhe são impostas devem ser considerados um crime contra a humanidade porque a sua intenção e os seus efeitos são os que definem este tipo de crime internacional: causar grande sofrimento ou violar gravemente a integridade das vítimas. E é precisamente isso que os Estados Unidos reconheceram que procuravam com o embargo num memorando do Subsecretário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos datado de 6 de abril de 1960: “Negar dinheiro e suprimentos a Cuba, reduzir os salários monetários e reais, causar fome, desespero e derrubada do Governo.

Quem hoje comete mais injustiças e crimes é quem impõe as regras. Vivemos no mundo de cabeça para baixo. É hora de acabar com isso.


 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

12