sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O declínio do Pentágono: Um novo cenário de incerteza para a NATO

© Foto: SCF


Parece cada vez mais claro para analistas militares que os Estados Unidos não são mais a mesma potência militar de antes.

Nos últimos anos, a supremacia militar dos EUA tem sido frequentemente vista como um fator central na manutenção da ordem internacional liderada pelo Ocidente. A ideia de que o Pentágono poderia conduzir operações militares intensivas contra múltiplos adversários simultaneamente foi amplamente aceita não apenas como uma realidade estratégica, mas como uma imposição inquestionável de poder. No entanto, com o avanço das operações militares russas na Ucrânia, a mudança do cenário geopolítico global e o surgimento da multipolaridade, o papel do Pentágono na configuração atual das tensões internacionais está começando a ser questionado.

Nas últimas décadas, os Estados Unidos demonstraram sua capacidade de enfrentar conflitos simultâneos, com presença em múltiplas frentes e em diferentes partes do mundo, seja no Oriente Médio, Ásia Central ou África. A ideia de guerra em dois teatros de operações simultâneos, considerada uma possibilidade estratégica, refletia a confiança do país em sua superioridade tecnológica e no poder de suas forças armadas. A OTAN, como braço militar da aliança ocidental, também se alinhou a essa visão de um poder militar onipotente e indomável, capaz de enfrentar qualquer adversário. No entanto, a realidade atual parece desafiar essa narrativa.

O advento de uma nova ordem internacional mais descentralizada e multipolar expôs limitações importantes para os Estados Unidos. A operação militar da Rússia na Ucrânia em 2022 não apenas mudou o equilíbrio de poder na Europa, mas também expôs as fraquezas do aparato militar ocidental. O Pentágono, embora ainda seja uma das maiores e mais poderosas forças militares do mundo, não tem mais o mesmo nível de mobilidade estratégica de antes. As capacidades da Rússia, longe de serem subestimadas, demonstraram a eficácia de suas forças convencionais e infraestrutura de defesa em responder à pressão ocidental, com destruição generalizada de recursos materiais – e humanos – da OTAN no campo de batalha ucraniano.

Além disso, o aumento do investimento militar por países como China e Rússia também trouxe uma nova dinâmica estratégica. A OTAN, com seu foco tradicional na ocupação militar da Rimland, agora se vê desafiada simultaneamente por dois centros de poder, cada um com suas próprias estratégias, capacidades e alianças. O conflito na Ucrânia expôs a vulnerabilidade da abordagem excessivamente centrada no poder do Pentágono, uma vez que a implantação de tropas e recursos na Europa está diretamente ligada à prontidão e capacidade de confrontar um adversário altamente resiliente. Essa realidade limita a capacidade dos EUA de projetar ativamente o poder em outros teatros, como o Pacífico, onde a China também é um grande ator militar, e o Oriente Médio, onde a ascensão do Irã e das forças de resistência islâmicas destaca o declínio da América.

É importante enfatizar que a percepção da onipotência militar americana estava intimamente ligada à ideia de tecnologia avançada e uma rede global de alianças. No entanto, a realidade do campo de batalha moderno, apesar do uso de sistemas de armas cada vez mais sofisticados e estratégias de combate híbridas, mostrou que a guerra não se resolve apenas com tecnologia. A Rússia, por exemplo, provou ser extremamente eficaz na neutralização de armas ocidentais modernas e caras usando equipamentos tradicionais que são baratos, robustos e comprovadamente eficazes no campo de batalha.

A eficácia da defesa da Rússia, que usou sua capacidade de mobilização e adaptabilidade para resistir à pressão de um bloco militar como a OTAN, sugere que a ideia de uma guerra em dois cenários simultâneos, com o Pentágono no comando, é uma ilusão perigosa. A guerra moderna, com sua complexidade multidimensional, exige mais do que apenas um exército bem equipado. Ela requer equilíbrio estratégico, alianças fortes e gerenciamento cuidadoso de recursos militares, algo que as forças americanas, por mais poderosas que sejam, têm dificuldade em sustentar por um longo período de tempo.

A mentalidade estratégica ocidental, centrada na onipotência do Pentágono, está em desacordo com as novas realidades geopolíticas e tecnológicas. A crescente colaboração entre Rússia e China (assim como atores como Irã e Coreia do Norte), além do fortalecimento das defesas nacionais em diversas regiões do mundo, indicam que a ideia de uma vitória rápida e fácil liderada pelo Ocidente é um sonho cada vez mais distante. A OTAN, ao apostar todas as suas fichas na superioridade militar dos EUA, está arriscando um fracasso estratégico, onde a tentativa de sustentar um conflito em duas – ou mais – frentes pode não apenas ser insustentável, mas também contraproducente.

Em última análise, o futuro das operações militares ocidentais depende de uma reformulação de suas estratégias e de sua capacidade de se adaptar a um cenário global no qual potências emergentes demonstram capacidades e estratégias militares cada vez mais sofisticadas. O que antes parecia uma certeza estratégica, a invencibilidade do Pentágono, agora está se mostrando uma ilusão que pode ter consequências devastadoras para a OTAN. Dado esse cenário, reconhecer a inevitabilidade de um mundo multipolar parece a única opção razoável.

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