domingo, 23 de fevereiro de 2025

Esta é a manchete: todos os jornalões são golpistas

Empresa na área de tecnologia da comunicação (ao fundo), marcas dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo, e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reprodução | ABR)

Denúncia de Gonet mobiliza as corporações de mídia, não em defesa da democracia, mas na disseminação de dúvidas sobre responsabilidades dos chefes do golpe

Moisés Mendes
brasil247.com/

Perguntadores amplificam suas perguntas em tempos difíceis. Essa indagação tem sido frequente: por que jornalistas escrevem sobre veículos e colegas simpatizantes de golpes e ditaduras?

Porque as organizações de mídia sempre são ou tentam ser protagonistas de ações golpistas. A maioria consegue. Não são apenas uma linha auxiliar nas situações que levam a tentativas de golpe.

Sempre são parte dos trilhos do golpe. Foi o que aconteceu em 64, depois no golpe contra Dilma em 2016 e na caçada e prisão de Lula em 2018, numa sequência que resulta, por perda do controle da situação, na aberração do Bolsonaro presidente.

É o que ameaça se repetir agora, não necessariamente como suporte a um novo golpe no curto prazo, mas no planejamento e construção do que pode acontecer daqui até 2026.

Há uma tentativa dos jornalões, por omissão ou ação deliberada, de encobrir as responsabilidades dos chefes golpistas que deram vários passos até chegarem ao fracasso do 8 de janeiro.

Está configurada uma articulação para que a denúncia elaborada por Paulo Gonet seja desmontada. Por isso não há como não ver esse jornalismo como protagonista, de novo, de uma armação.

Há surpresas generalizadas com essa articulação, falsas e verdadeiras. Surpreendem-se sinceramente os que subestimaram a velha imprensa analógica no seu esforço para a transição ao mundo digital.

Os jornalões estão vivos e relevantes em seu novo ambiente. E atuando de forma descarada na proteção ao chefe do golpe e seus cúmplices do entorno mais próximo. Por isso precisamos voltar a falar do protagonismo do jornalismo no jogo mais sujo da política.

Nada é mais público do que a produção jornalística. E os jornalistas são parte do suporte à democracia, ou integram os contingentes vacilantes, ou os blocos dos omissos, ou as facções declaradamente golpistas.

Mas jornalistas não gostam de 'falar mal' uns dos outros por se considerarem uma categoria quase inatacável. Por arrogância, por vínculos históricos com os poderosos e por autodefesa corporativa.

Mas todos sabemos que as ações arbitrárias contra a democracia e as instituições, desde a invenção da imprensa, só prosperam com a ajuda do jornalismo das corporações. Não só pela adesão pessoal de seus quadros de celebridades, mas por engajamento orgânico e institucional.

É aí que se apresenta, entre outras, a surpresa de muitos com a longa vida e a vitalidade dos jornalões. Porque suspeitavam que essa imprensa não teria, no contexto de novas estruturas de produção virtual de todo tipo de conteúdo, a relevância que já teve.

Pois o jornalismo analógico sobrevive em tempos digitais, como reduto do conservadorismo, por manter o espírito que o caracteriza como aliado histórico dos poderosos. Essa é a audiência que o sustenta.

Mesmo que esses poderosos, em aparente contradição, planejem se livrar de Bolsonaro para renovar lideranças e ter perspectiva de futuro. Consumidos por conflitos, os jornalões não conseguem se livrar do que são.

São cada vez mais anti-Lula, antes de fingirem que ainda são liberais e anticomunistas. São, por atavismo, acionados contra o que não conseguem dominar desde o final do governo de Fernando Henrique em 2002.

Esse é a ilusão da grande mídia hoje: manter Bolsonaro vivo mais um pouco, para que Lula continue acossado, se possível até o ano que vem.

Parece uma aposta suicida na direção de um precipício que pode produzir um bolsonarismo resetado e atualizado mais adiante. Mas é assim mesmo.

Para tentar destruir Lula, vale o risco de ressuscitar a extrema direita, depois do fracasso na eleição e do fracasso do golpe.

Se não fosse assim, a Folha de S. Paulo não teria fabricado três manchetes, uma atrás da outra, por três dias seguidos, desde a apresentação da denúncia de Gonet. Todas as manchetes pautadas contra o procurador-geral e Alexandre de Moraes.

E o mesmo jornal foi incapaz de produzir uma só manchete que contribua para o esforço de enquadrar os golpistas, apesar de essa ser a urgência da democracia.

E não estamos falando de colunismo engajado, mas da produção de pautas pelos núcleos de comando das redações. Temos de volta, sem sutilezas, a grande imprensa de direita que se entregou ao fascismo por não conseguir criar alternativas à moda do tucanismo e não ter outra saída política.

Folha, principalmente essa, Estadão e Globo farão contra o trabalho de Gonet e Moraes o que há fizeram outras vezes, porque não podem perder a essência do que são. Vamos dar em manchete: todos os jornalões são golpistas.



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