domingo, 9 de março de 2025

Da Grande Transformação à Grande Confusão



Nossa trajetória econômica pode ser resumida como uma caminhada tortuosa de crise em crise. Em meio à explosão da crise da dívida externa, agravada pela queda quase vertical do preço do petróleo, parecia que o país afundaria em uma espécie de "buraco negro" do qual emergiria outro país, outra economia e, por fim, uma sociedade reconstruída.

No entanto, os fatos mostram que, para evitar que o país “escorregasse por nossas mãos”, nas palavras do presidente Miguel de la Madrid, foi imposto a partir de 1982 um draconiano ajuste financeiro e, em geral, econômico, que buscava sair rapidamente do atoleiro financeiro e, ao mesmo tempo, frear uma inflação acelerada que ameaçava se tornar “hiperinflação” e nos levar de volta a cenários de outros tempos.

Essa expiação não foi totalmente alcançada com a chegada do México a um novo estágio econômico e social. O que abriu caminho em meio a tanta confusão foi um projeto de “Grande Transformação”, graças ao qual a economia logo se tornaria uma economia de mercado de pleno direito e a sociedade seria forçada a adotar formas, costumes e hábitos típicos de uma formação social articulada, sem interferência política, por algumas fantasmagóricas “leis do mercado”.

O lema inicial, um sinal dos tempos e do Norte defendido por Reagan e Thatcher, era que o México deveria ser transformado em uma economia de mercado aberta, porque somente assim, dizia-se, o crescimento econômico poderia ser restaurado e, pouco a pouco, graças ao abençoado império mercantil, até os salários e o emprego começariam a aumentar. Recordemos que a centralidade da mudança estrutural de forma “baseada no mercado” ocorreu quando o mundo transitava da lógica da Guerra Fria para uma configuração global, com um mercado mundial unificado acompanhado de uma democracia representativa comprometida com a defesa e promoção dos direitos humanos.

Hoje, mais uma vez, vemos que estas eram, na melhor das hipóteses, hipóteses de trabalho otimistas dos grupos dominantes, que não levaram à criação de novos entendimentos e cooperação; de regras e acordos, de reconhecimento da profunda divisão de um mundo atravessado pela pobreza em massa e pela instabilidade financeira.

De fato, além da força da geopolítica que ganhou força com o fim da bipolaridade, a renovada economia mexicana deveria caminhar para uma revolução capitalista, dos “ricos”, como Carlos Tello e Jorge Ibarra logo descreveram em seu livro A Revolução dos Ricos (México, Século XXI, 2012), que seria coroada com uma pioneira associação formal com a economia norte-americana. Isso foi prescrito pelo chamado “espírito de Houston” cultivado pelos presidentes Bush e Salinas e foi assim que as vanguardas da globalização mexicana buscaram alcançá-lo.

Hoje, enfrentamos o que foi em grande parte um “falso amanhecer”, como o filósofo britânico John Gray chamou aquela prodigiosa mutação planetária, que não conseguiu superar ou dissolver, conforme o caso, as heterogeneidades estruturais que impedem a expansão econômica e se manifestam hoje, como ontem, em muita pobreza, alta informalidade trabalhista e aguda desigualdade econômica e social.

Trago esta nota memorável não só pelo momento que atravessamos, paradoxal e cruel como poucos, onde o presidente da outrora “terra dos livres” hoje nega essa liberdade e suas tradições mais queridas e admiradas, ignora e fecha fronteiras e entendimentos, e esmaga os próprios acordos assinados e patrocinados por ele e seu governo; também porque temos de incluir no cerne do (nosso) fraco desempenho a trajectória de quase estagnação, pouco acima do crescimento demográfico, durante mais de 30 anos.

Gostaria também de reiterar que o investimento total desacelerou e que os esforços de investimento público atingiram níveis historicamente baixos. Insistamos: sem uma harmonia dinâmica entre o investimento público e privado, não é possível atingir os coeficientes de acumulação que uma economia do tamanho da mexicana requer para recuperar o crescimento econômico que a sociedade, com sua demografia e tamanho, exige.

Para começar pelo princípio, como já dissemos em diversas ocasiões, é urgente fazer uma reforma tributária que comece pelos impostos; Também, resgatar do esquecimento a ideia e a prática da programação e do planejamento econômico e social como forma de governo e fórum para promover formas e instituições de acordo econômico e social por meio de programas nacionais de investimento, que coloquem o desenvolvimento regional no centro da ação e das decisões públicas.

Tratar-se-ia de estabelecer, sob mandatos democráticos, uma conversa criativa entre demografia, economia e política; reconhecer nossos imensos déficits institucionais e decidir crescer. Como economia e como democracia.



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