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Rafael Vieira
Em uma carta enviada 100 anos atrás, Walter Benjamin escrevia — para a perplexidade e estranhamento de seu principal amigo e confidente — sobre a “liberação vital e uma compreensão intensiva da atualidade de um comunismo radical”.1 O correspondente era Gershom Scholem, historiador da judaicidade.
Benjamin ocupa um lugar bastante singular dentro da tradição marxista, seja pela articulação de autores e temas bastante próprios, seja pelo esforço de expandir o marxismo para áreas até então pouco habituais. Retornar a alguns desses motivos pode ser um ponto de partida importante para apresentar algumas questões caras ao autor e que, em certo sentido, vêm sendo negligenciadas por parte de sua recepção contemporânea, para quem muitas vezes o marxismo torna-se uma espécie de excentricidade extemporânea. Entre parcela dos intérpretes (apesar das contratendências) predomina a imagem de Benjamin como um tipo de gênio melancólico incompreendido, dissociado de alguns problemas cruciais de seu tempo. Isso termina por apagar o senso de urgência que atravessa uma parte considerável de seus escritos. Voltar, portanto, a essas questões parece importante não somente para compreender alguns dos dilemas que levaram o filósofo ao marxismo, mas igualmente lidar com o tempo que os percebe — o nosso.