O jornal britânico revelou em sua
capa desta sexta-feira que a NSA coletou cerca de 200 milhões de mensagens de
texto diárias de todo o planeta.
Marcelo Justo – Carta Maior
Londres - A investigação conjunta
do jornal The Guardian e do canal britânico Channel 4 não aguardou que o
presidente Barack Obama desse sua resposta ao plano de revisão das atividades
da NSA, a central de espionagem eletrônica estadunidense. Com uma análise do
material fornecido pelo ex-agente da NSA, Edward Snowden, o matutino britânico
revelou em sua capa desta sexta-feira que a NSA coletou cerca de 200 milhões de
mensagens de texto diárias de todo o planeta, que continham entre outros dados
sobre o lugar de emissão da mensagem, a rede de contatos e a informação
completa de cartões de crédito.
O programa “Dishfire” da NSA não
capta mensagens específicas relacionadas com pessoas sob investigação, mas sim
“tudo o que for emitido”. Uma apresentação da agência estadunidense de 2011
intitulada “SMS Text Messages: A Goldmine to Exploit” (Mensagens de texto: uma
mina de ouro a ser explorada) revela que em abril deste ano a NSA captou uma
média de 194 milhões de mensagens de texto por dia. Um programa adicional, “Prefer”,
realizava uma análise automática destas comunicações.
Segundo a investigação do
Guardian e do Channel 4, as revelações de Snowden indicam que a NSA obtinha
informação sobre mais de um milhão e meio de passagens de fronteira, mais de
110 mil nomes de cartões de negócios eletrônicos e mais de 800 mil transações
financeiras. Esta informação era compartilhada com a contraparte da NSA no
Reino Unido, o GCHQ, parte da estreita colaboração mantida pelas duas agências
de espionagem eletrônica.
Na quinta-feira à noite, o
presidente Barack Obama telefonou para o primeiro ministro britânico David
Cameron para informá-lo sobre a resposta que daria ao informe do grupo que
formou no final do ano passado para rever as atividades da NSA. Segundo a Casa
Branca, “ambos os líderes destacaram o intenso diálogo que houve entre Estados
Unidos e Reino Unido sobre esta matéria em todos os níveis”.
Este diálogo de ambos os países
“em todos os níveis” está no coração das denúncias que Edward Snowden começou a
fazer em junho do ano passado e que colocaram Estados Unidos e Reino Unido no
banco dos réus sob a acusação de invasão de privacidade de cidadãos de todo o
mundo, espionagem de governos amigos e a criação de um monstruoso “Big Brother”
internacional que supera em muito o imaginado na novel “1984” pelo autor do
conceito, o escritor britânico George Orwell.
Em uma tentativa de se contrapor
a estas acusações, a NSA negou ao Guardian que a agência tivesse recolhido
material de “maneira arbitrária” e afirmou que se trabalho se concentrava em
“objetivos estrangeiros válidos” para a segurança, submetidos a estritos
limites legais. O GCHQ se pronunciou no mesmo sentido. “Nunca comentamos com a
imprensa sobre nossas atividades, mas podemos assegurar que todo nosso trabalho
é feito com um estrito apego à lei”, disse a agência britânica.
Essa não é a opinião de uma das
telefônicas consultadas pelo Guardian. “A lei protege o direito à privacidade
de nossos clientes e não acreditamos que neste caso esse direito esteja sendo
protegido”, disse ao Channel 4 o diretor do Departamento Legal sobre
Privacidade de Vodaphone.
Google, Facebook e as grandes
multinacionais telefônicas ficaram enredadas na polêmica por denúncias de que
facilitaram às agências o acesso aos dados de seus usuários. O próprio
parlamento europeu está investigando as atividades da NSA e do GCHQ e terá um
testemunho vital nas próximas semanas Edward Snowden terá uma conferência por
vídeo com o comitê investigador.
A criação de um painel de revisão
das atividades da NSA, dirigido pelo ex-chefe de cyber-segurança, Richard
Clarke, foi uma primeira resposta do governo de Obama à polêmica que o tema
causou nos Estados Unidos. Nas conclusões que apresentou no dia 18 de dezembro,
o painel assinalou que o programa de espionagem da NSA “podia e devia ser
reformado” sem que isso colocasse em risco a segurança nacional. A palavra
agora está com Barack Obama.
Tradução: Marco Aurélio
Weissheimer
Créditos da foto: Arquivo
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