A oposição, aí incluindo seus tentáculos na mídia, tem o
direito de comemorar a derrota política imposta pelo chamado “blocão” contra o
governo nesta terça-feira, ao criar uma comissão para investigar negócios da
Petrobrás na Holanda.
É uma vitória que vale especialmente para a centro-direita
(ou direita mesmo) que apóia o governo de má vontade, apenas por apego ao
poder, como é o caso de parcela do PMDB e quase todo PSD, cujos membros saíram
do DEM à procura de sombra e água fresca.
Entretanto, esse movimento tem dois lados.
De um lado, mostra a força do blocão, que agora tentará usar
isso para ampliar as chantagens contra o governo.
De outro, revela, para o governo, quem são seus verdadeiros
aliados, e quem está pronto para lhe passar a perna na primeira oportunidade.
Em ano de eleição, é muito bom saber, com certeza, quem está
do seu lado de verdade.
O Congresso tem 513 deputados. O blocão conseguiu exatamente
a metade do total: 257 deputados.
A turma de Eduardo Cunha assinou uma declaração de guerra.
Uma guerra surda, porque entre aliados em tese, mas por isso mesmo ainda mais
fratricida e sangrenta.
No Painel da Folha, há a informação de que Eduardo Cunha
disse a Michel Temer que o PT tem um “projeto hegemônico que afasta aos poucos
os partidos da coalização”.
Pode até ser. Mas Cunha tem um ponto-fraco. Ele confia
demais em jogadas palacianas, e esquece que o poder político, seja do PT, seja
do PMDB, seja do governo, seja da oposição, só tem uma fonte real: o voto.
O PMDB foi o único partido da base que perdeu filiados em
2013. Por quê? Porque não está mudando. Não está discutindo teses, programas,
ideologias, projetos de país. O adversário do PMDB não é o PT, é seu próprio
espelho. É um partido grande, capilarizado, que governa milhares de municípios,
e que poderia contribuir muito mais para o debate político nacional se
investisse mais em… debates, e menos em figuras questionáveis como Eduardo
Cunha.
Afinal, o que quer o PMDB? Que o PT, ou qualquer partido que
estiver no governo, lhe garanta algum tipo de cota fixa, imutável, em troca de
seu apoio no Congresso?
Na verdade, o PMDB faz um jogo duplo. Ele apóia o governo,
de um lado, mas surfa no antipetismo, de outro. Até aí tudo bem, é da política.
Mas haverá um momento em que o partido terá de se decidir.
Essa postura de ameaçar o governo com um possível apoio a Aécio Neves apenas
ridiculariza o PMDB, porque revela um partido sem substância, disposto a apoiar
qualquer um, desde que lhe pague bem. Ao agir assim, as eleições se tornarão
cada vez mais caras para o PMDB, porque ele terá cada vez menos o voto das
pessoas politizadas, e precisarão cada vez mais do voto fisiológico, comprado a
peso de ouro de um eleitor cada vez mais cético, num mercado eleitoral cada vez
mais competitivo.
Tem uma senhora cujos serviços de faxina eu contrato de vez
em quando que me contou uma coisa engraçada. È triste por um lado, até porque
isso não deve ser legal, mas engraçado também. Os políticos lhe dão dinheiro
para que ela distribua aos eleitores da região. Compra de voto descarada. O
eleitor vai à casa dela, dá o número do título, e recebe R$ 50.
Aí entra a parte engraçada. Tem eleitor que vendeu seu voto
para mais de cinco candidatos diferentes. Ou seja, o político, quando pensa que
está enganando o eleitor, está é levando uma rasteira, merecida, do cidadão. O
cidadão pega o dinheiro, evidentemente porque está precisando, mas não vota no
candidato que lhe deu o recurso. Ou pode até votar num daqueles que lhe deu
dinheiro, mas vota naquele de sua preferência. Ou seja, o recurso à compra de
voto fica cada vez mais caro, pois o voto é secreto, protegendo o eleitor.
Voltando à “vitória” do blocão sobre o governo, tenho a
impressão que muitos parlamentares que se recusaram a participar do jogo sujo
de chantagem política liderado por Eduardo Cunha se identificarão com esta
frase de Darcy Ribeiro, que o colega de Twitter, Mario Marona, lembrou nesta
manhã, ao publicar a foto abaixo.
“Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
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