Rodrigo Pinto, via BBC Brasil
http://limpinhoecheiroso.com/
Os super-ricos brasileiros detêm
o equivalente a um terço do Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas
produzidas do País em um ano, em contas em paraísos fiscais, livres de
tributação. Trata-se da quarta maior quantia do mundo depositada nesta modalidade
de conta bancária.
A informação foi revelada no
domingo, dia 28, por um estudo inédito, que pela primeira vez chegou a valores
depositados nas chamadas contas offshore, sobre as quais as autoridades
tributárias dos países não têm como cobrar impostos.
O documento The price of offshore
revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria
McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, mostra que os super-ricos
brasileiros somaram até 2010 cerca de US$520 bilhões (ou mais de R$1 trilhão)
em paraísos fiscais.
O estudo cruzou dados do Banco de
Compensações Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial
e de governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor.
Em 2010, o Produto Interno Bruto
Brasileiro somou cerca de R$3,6 trilhões.
“Enorme buraco negro”
O relatório destaca o impacto
sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de
dinheiro enviado a paraísos fiscais.
Henry estima que, desde os anos
de 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$7,3
trilhões para US$9,3 trilhões a “riqueza offshore não registrada” para fins de
tributação.
A riqueza privada offshore
representa “um enorme buraco negro na economia mundial”, disse o autor do
estudo.
“Instituições como Bank of
America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço”
John Christensen, diretor Tax Justice Network
Na América Latina, chama a
atenção o fato de, além do Brasil, países como México, Argentina e Venezuela
aparecerem entre os 20 que mais enviaram recursos a paraísos fiscais.
John Christensen, diretor da Tax
Justice Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o
estudo, afirmou à BBC Brasil que países exportadores de riquezas minerais
seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por
bancos, principalmente norte-americanos, para enviarem seus recursos ao
exterior.
“Instituições como Bank of
America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço. Como
o governo norte-americano não compartilha informações tributárias, fica muito
difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recursos”,
afirma.
“Isso aumentou muito nos anos de
1970, durante as ditaduras”, observa.
Quem envia
Segundo o diretor da Tax Justice
Network, além dos acionistas de empresas dos setores exportadores de minerais
(mineração e petróleo), os segmentos farmacêutico, de comunicações e de
transportes estão entre os que mais remetem recursos para paraísos fiscais.
“As elites fazem muito barulho
sobre os impostos cobrados delas, mas não gostam de pagar impostos”, afirma
Christensen. “No caso do Brasil, quando vejo os ricos brasileiros reclamando de
impostos, só posso crer que estejam brincando. Porque eles remetem dinheiro
para paraísos fiscais há muito tempo.”
Christensen afirma que no caso de
México, Venezuela e Argentina, tratados bilaterais como o Nafta (tratado de
livre comércio EUA-México) e a ação dos bancos norte-americanos fizeram os
valores escondidos no exterior subirem vertiginosamente desde os anos de 1970,
embora “este seja um fenômeno de mais de meio século”.
O diretor da Tax Justice Network
destaca ainda que há enormes recursos de países africanos em contas offshore.
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