Publicar o pecado não pode
A decisão do TSE de proibir menções ao aeroporto de Cláudio
me lembrou uma das melhores frases de Machado de Assis.
“O maior pecado depois do pecado é a publicação do pecado”,
escreveu Machado.
Quer dizer: o problema, sob a estranha lógica do TSE, não é
a existência de um aeroporto de uso privado construído com dinheiro público no
governo Aécio em Minas.
O problema é falar nele.
É uma pancada na democracia. Não basta a mídia não cobrir o
assunto, em seu esforço épico para eleger Aécio. Agora, também na propaganda
eleitoral o caso não pode ser explorado.
Quem acredita na explicação do TSE, como dizia Wellington,
acredita em tudo. A campanha tem que ser propositiva, esta a alegação.
É uma bobagem que vem envolta em pretensos ares
civilizatórios.
O real objetivo das campanhas é permitir que os eleitores
conheçam os candidatos.
Num mundo menos imperfeito, isso seria feito pela mídia. Mas
não é o que acontece.
Quando a mídia informou a sociedade sobre as rádios de Aécio
– um palanque permanente e indecente?
Quando a mídia contou que aos 25 anos Aécio, o Senhor
Meritocracia, ganhou o cargo de diretor da Caixa Econômica Federal?
Quando a mídia noticiou que aos 17 anos Aécio tinha um
emprego público em que deveria estar em Brasília no mesmo momento em que
estudava no Rio?
Nunca.
O TSE exorbitou. Caso algum candidato se sinta vítima de
calúnia no programa eleitoral, que recorra à Justiça.
Aécio ao longo de toda a vida foi protegido. Em Minas, a mídia
foi sempre controlada, por meio de publicidade, para não publicar coisas ruins
sobre ele.
Jornalistas locais disseram que já sabiam faz tempo do
aeroporto de Cláudio, mas eram impedidos de escrever sobre o assunto.
Democracia? Liberdade de expressão? Transparência?
Meritocracia?
Quer dizer: justo quando os brasileiros podem conhecer um
contendor para a presidência, o TSE ajuda na blindagem.
É um gesto simplesmente indefensável.
Se falar em Cláudio não é “propositivo”, falar na Petrobras
é?
Desde que vi os togados do STF na televisão no julgamento do
Mensalão, perdi todas as expectativas sobre a Justiça nacional.
Mas, ainda assim, pela mão do TSE, ela conseguiu se superar
em obtusidade nesta decisão.
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