Por Barbara Gancia
Via Facebook / http://jornalggn.com.br/
Não sou PT, nunca fui. Mas, só de birra, está começando a me
dar vontade de deixar crescer uma barba e/ou a sibilar. O que vier com mais
facilidade, eu mando ver.
Explico. Esse ódio crescente e tão palpável quanto um
transatlântico que jorra do coração dos "conservadoressauros" na
direção daqueles que, juntos são milhões, mas não conseguem nunca acumular mais
riqueza do que o famoso 1% dos ricos já deu.
Pessoal alega que foi o Lula que começou a "luta de
classes", mas, sejamos sinceros, já se vendia carro blindado e já existia
cadeia superlotada, rebelião na Febem, tiro na cara pra roubar Rolex na Oscar
Freire bem antes de o Lula ir trabalhar na Villares.
Mas voltemos a essa gentalha pobre que incomoda.
Hoje, eles não só ocupam espaço e saem gritando no shopping
em rituais primitivos chamados de rolezinhos, como passaram a ser identificados
por "massa de manobra" ou "vagabundos que votam no PT pra ganhar
Bolsa Família".
Pois então, esse ódio que antes ficava lá contido, ele
começa a mostrar a fuça. Seja lá pelo motivo que for. Não, eu não acho o Zé
Dirceu santo e, sim, eu creio que, deixado livre para dispor do poder que
tinha, ele teria realizado uma pequena revolução bolchevique a seu modo, por
meio de uma reforma fiscal na surdina.
Se isso seria bem-vindo? Não creio, se fosse feito sem
consultar a população e se não fosse à luz do dia.
Mas, voltemos à crua realidade do que temos em mãos, e não
daquilo que poderia ter sido.
Agora que o PT e o Lula não metem mais medo no empresariado,
o pessoal que costumava se restringir a frases econômicas como "eu voto na
Arena" ou "eu votei no PSDB" começa finalmente a explicar melhor
as razões pelas quais sempre teve como princípio nunca jamais nemfu votar num
partido de esquerda.
Isso acontece porque a feroz desigualdade que impera no país
impõe, digamos, "estilos de vida" deveras conflitantes.
Você se encontra de um lado ou do outro.
Se mora na periferia, não tira selfie com policial e não
participa e panelaço contra nenhum político. Seja ele de que partido for, já
que ninguém que está acima de você ou que você seja obrigado a chamar de
"doutor" inspira confiança.
E se você não mora na periferia e tem a sorte de possuir um
jogo de panelas para brincar de imitar o Cartel de Medellin na hora do jantar
-ueba!- ou se se ufana de vestir a camisa do 7x1 pra cantar aquela musiquinha
insossa, " ...com muito orgulho, com muito amor... Eu, sou..." ... se
você tira foto com polícia, se nenhum PM nunca olhou feio pra você, nunca
arrastou seu irmão no meio da noite da cama em que ele dormia e o levou embora
de camburão porque ele se parece muito com um traficante do bairro; se você
acha que vence na vida quem estuda e trabalha e que todos nós podemos fazer
isso -sem discriminar entre ricos e pobres-, sem essa de vitimização, já que
basta olhar para os Estados Unidos ou, quem sabe, pra Índia onde há inúmeros
exemplos de gente humilde que venceu sem recorrer ao crime, vai dizer que não
há?
Parece então que o que nós temos é um problema imenso de
comunicação entre duas populações distintas obrigadas a coexistir.
Trata-se de uma diferença de pontos de vista e de
experiências de vida tão vultuosa, que acaba produzindo um mar de preconceito,
indiferença, desconfiança, ignorância e desdém.
Seria lindo se fosse só isso. E olha que isso já seria uma
catástrofe depois de 515 anos empreendendo esta nossa aventura civilizatória.
Mas provavelmente não é à toa que Pero Vaz de Caminha já
tenha conseguido enfiar um pedido de emprego para um parente na sua famosa
missiva, no primeiro episódio de nepotismo da história do nosso país, aos 10
minutos do primeiro tempo, naquele que depois viria a ser o paraíso da vantagem
em benefício próprio e do desprezo pela coletividade, o bem maior e o interesse
público.
Na minhas páginas nas redes sociais, todo dia tomo porrada
(forte) de indivíduos que se auto intitulam "reaça" disto e
"reaça" daquilo. Ontem um quadrúpede desses tentou me explicar que
"reaça" e "esquerdista" são cosas equivalentes.
E é esse o pior dano que se está perpetrando ao eliminar sem
dó nem piedade o PT da face da terra -como já se fez antes com Collor, Jânio,
Vargas etc.
Sem um lado de cá e uma oposição para contra balacear não
existe possibilidade de haver uma fagulha que dê (re) início ao processo
democrático.
Golbery do Couto e Silva, ministro chefe da Casa Civil de
Geisel e Antônio Delfim Neto deram força para o surgimento de Lula como
liderança sindical antevendo um futuro democrático de raiz bipartidária.
A despeito dos problema com a propaganda e o financiamento
das campanhas políticas, sem o equilíbrio Labour/Tory, Democratas/Republicanos,
Democrazia Cristiana/Partito Socialista não pode haver nem sequer esboço de
arremedo de fiofó de burro de democracia pra inglês ver.
Já não são bem tolerados no país fenômenos que nós não
captamos, temos trauma ou consideramos (vá entender) démodé.
"Conservador" por exemplo, é algo que desce mal
para o brasileiro. Em outras sociedades, o termo tem vários significados.
Estritamente na política, sinaliza que o camarada é a favor de menos
interferência do Estado na economia, da valorização dos direitos do indivíduo e
da não interferência de instituições como a igreja ou quaisquer outras na vida
privada. Soa como uma descrição da filosofia do Bolsnaro ou do Tuminha pra
você? Pois é, pra mim também não. E Serra, exilado do regime militar e Dilma,
presa política da mesma turma, trocarem gentilezas com antigos algozes e
fazerem alianças que ultrapassam qualquer limite de vergonha na cara com o
inimigo de ontem, faz sentido?
Não será talvez por esse tipo de "licença poética"
que o sonho de um Estado democrático está naufragando e, mais uma vez,
grileiros, corruptores manjadíssimos, patrocinadores de candidatos marionetes,
falsos profetas, contrabandistas, pilhadores e gente que usa o governo como
mero entreposto para seus fantásticos negócios está vencendo a parada novamente
e pela undécima vez?
Faz sentido ainda não ter sido julgado o mensalão mineiro?
Faz sentido os senhores Renan e Cunha ainda estarem lá firmes e fortes?
Reafirmo: não sou petista, nunca fui, e nem me julgo particularmente de
esquerda.
Mas esse desequilíbrio é indicação grave de golpe branco em
andamento, treta por baixo do pano, arranjo de que tipo não se sabe, mas coisa
boa dali não sai.
Ou por bem julgam tantos deste lado e também do outro e
medimos forças e o país sai lambendo suas feridas, ou anistiamos a todos e vai
todo mundo fritar pastel.
Esta caça às bruxas, em que o camarada está se transformando
em milícia odiosa que sai à caça do "inimigo" na internet e no boteco
da esquina do escritório, e acusa quem quer que lhe dê na telha de bandido e
ladrão e filho e um égua só porque o outro (que até ontem era seu amigão) não compartilha
de sua ideologia começa a se parecer demais com a Alemanha de Hitler circa
1934.
Cadê o Renan, gente, lembra do processo cabeludo que caiu
naquela cabeça cheia de fio implantado por conta de um caso extraconjugal?
E o envolvimento dele no Petrolão, não há nada ainda? Claro
que há, em abundância. Só não vê e não mostra quem não quer!
E o problema lá de Furnas e do Aécio? Há uma montanha de
coisas em estados de todas as mais variadas importâncias, está faltando dizer
isso a quem, ao Papai Noel? Sim, porque ao papa, pode crer, sendo argentino e
odiando a Kirchner como odeia, a esta altura, ele já está ao par de tudo.
E o Sarney, onde andará, por sinal? Lembra quando o Lula
dizia que ele até não era de todo mau e que nós devíamos respeitar a
experiência que o bigode tinha acumulado nestes anos todos?
Pois não é que, depois que ele desapareceu, eles deram um
jeito de cobrir com uma lona.
Agora virou circo de verdade, completinho.
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