Por Silvio Cascione
e Walter Brandimarte, da Reuters / http://www.revistaforum.com.br/
O Banco Central
corre o risco de prejudicar desnecessariamente a economia brasileira se
continuar a subir os juros nos próximos meses.
Economistas de sete
dos principais bancos do país demonstraram em conversas recentes com a Reuters
desconforto com a possibilidade de que a taxa básica Selic suba além do atual
patamar de 13,25 por cento ao ano.
Embora as
expectativas de inflação continuem acima do centro da meta de 4,5 por cento
para o fim de 2016, há dúvidas sobre a confiabilidade dos modelos estatísticos
usados para as projeções, que podem estar subestimando o efeito do aumento do
desemprego sobre os salários e os preços de serviços.
Em vez de continuar
a subir os juros, o BC deveria coordenar as expectativas de inflação,
sinalizando com mais clareza que não pensa em reduzir a Selic no futuro próximo,
disseram os economistas.
O Comitê de Política
Monetária (Copom) se reúne nesta semana e deve elevar a Selic em mais 0,5 ponto
percentual, para 13,75 por cento ao ano. Com base na comunicação atual do BC,
vários economistas acreditam que a Selic pode continuar subindo em julho e
setembro, chegando talvez a 14,50 por cento.
A continuidade da
alta dos juros contrasta com a piora da economia. Em abril, a taxa de
desemprego subiu a 6,4 por cento e quase 100 mil postos de trabalho foram
fechados.
“Já tem uma pressão
(inflacionária) muito fraca por conta da recessão. Nesse sentido, (subir os juros)
é um exagero”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima
Gonçalves, em São Paulo.
O economista-chefe
do Bradesco, Octavio de Barros, afirmou recentemente no Twitter que o discurso
de continuidade da alta dos juros diante do aumento do desemprego é “caricato”.
“É compreensível e
legítimo que o Banco Central tenha a ambição de chegar ao centro da meta, mas
dadas as circunstâncias… bastaria manter a taxa de juros inalterada por um
determinado período”, disse Barros à Reuters.
A taxa Selic subiu
3,25 pontos percentuais desde outubro. No mesmo período, as expectativas de
crescimento da economia desabaram: hoje, o consenso de mercado é de que o
Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolherá 1,2 por cento neste ano, na
maior recessão em 25 anos.
O BC tem aumentado
os juros para reduzir a inflação, atualmente acima de 8 por cento ao ano, para
o centro da meta do governo até o fim do ano que vem. A alta da Selic também é
parte dos esforços do governo para recuperar credibilidade entre investidores,
após anos de políticas criticadas por economistas e agências de risco.
Na terça-feira, o
presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou que a política monetária precisa
estar “vigilante” para reduzir as expectativas de inflação. Atualmente, a projeção
do cenário de referência do BC para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), que baliza a meta de inflação, ao fim de 2016 é de 4,9 por cento.
Comentários do
diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira, em reuniões recentes
com economistas também foram interpretados como sinais de continuidade da alta
dos juros na semana que vem, segundo participantes dos encontros.
Procurado, o BC
disse que não comentaria sobre avaliações de analistas de mercado.
PROJEÇÕES INCERTAS
Integrantes da
equipe econômica, em condição de anonimato, também expressaram desconforto
recentemente com a continuidade da alta dos juros, mas evitaram críticas ao BC.
Os juros altos têm
diminuído os investimentos, piorando a situação da economia e a arrecadação de
impostos necessária para o ajuste fiscal. Agricultores, por exemplo, reduziram
praticamente à metade a compra de colheitadeiras no primeiro trimestre, segundo
dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Os economistas que
agora questionam a necessidade de mais aumentos dos juros são os mesmos que
criticaram o BC pelo corte da Selic entre 2011 e 2012. Na época, o crescimento
econômico não decolou e a inflação continuou a piorar.
“Esse é um Banco
Central que perdeu a credibilidade, então para resgatar a credibilidade perdida
ele tem que dar uma dose adicional (de juros)”, disse o ex-diretor do BC Paulo
Vieira da Cunha.
Muitos economistas
ainda veem a continuidade do aumento dos juros como “apropriada”. Mas, mesmo
entre eles, há a avaliação de que os modelos estatísticos e econométricos não
são robustos o bastante para prever o impacto do desemprego sobre a inflação.
A questão foi
debatida durante as reuniões de Awazu com economistas na semana passada,
segundo participantes.
Para o
economista-chefe do Bradesco, outro problema é a própria meta de inflação, que
usa o ano-calendário como referência e mantém o BC preso ao fim de 2016 como
horizonte relevante para a política monetária.
Nenhum economista
consultado pela Reuters defende que o BC passe a cortar a Selic. A sugestão é
que o banco comunique com mais clareza que pretende manter a Selic estável por
tempo prolongado e não cortá-la no início do ano que vem, como projeta a curva
de juros local.
A intenção ecoa
dentro da equipe econômica. Segundo disse um integrante da equipe à Reuters na
semana passada, em condição de anonimato, o BC só pensará em reduzir a Selic
quando as expectativas de inflação caírem abaixo de 4,5 por cento.
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