Neste
nosso mundo uma criança da escola primária já pode ir à falência se o seu
business plan falhar.
Francisco
Louçã / www.cartamaior.com.br
De
um lado, Rosario Marín, mexicana naturalizada norte-americana, a primeira
imigrante a ocupar o cargo de Secretária do Tesouro (o equivalente a ministro
das finanças) nos Estados Unidos. Foi no primeiro governo Bush, em 2001. Fez
depois parte do governo Schwarzenegger na Califórnia, de 2006 a 2009. Ei-la no
México a explicar o seu sucesso, foi uma das mulheres mais poderosas do mundo.
Do
outro lado, Rebeca Grynspan, que foi vice-presidente da Costa Rica entre 1994 e
1998 e depois secretária-geral adjunta das Nações Unidas.
Explica
a republicana e conservadora Marín: vim de uma família pobre, subi à minha
custa, o Estado não foi preciso, são as famílias e as pessoas quem devem lutar
pela vida, é assim o sucesso.
Responde
a progressista Grynspan: o conto do sucesso à sua custa é uma lenda para muito
poucos, uma criança subnutrida aos dois anos será pobre toda a vida. O mundo
actual está a impor o desastre da pobreza e mesmo a criar novos perigos. Veja o
caso das alterações climáticas: os custos dos desastres ambientais não são pagos
pelos seus responsáveis directos, e que custos são esses (em dez anos, 2 mil
milhões de pessoas foram afectadas, com 945 mil milhões de dólares de custos).
Não basta o sucesso de uma pessoa quando se sacrificam povos e gerações. E um
exemplo interessante para ser ouvido por uma política norte-americana: a Costa
Rica acabou com o seu exército, utiliza os recursos na escola e na proteção da
natureza. Os resultados são redução do analfabetismo e da pobreza.
São
dois mundos, não são? E qual é o real?
Responde
um outro interveniente no debate, Jacques Rogozinski, o director da sociedade
nacional de crédito, o banco mexicano de desenvolvimento. Cada um por si, é o
ar do tempo. E dá um exemplo soberbo, uma amiga que lhe mandou um mail de
Washington a contar do orgulho da filha mais nova, que teve as suas primeiras
aulas de empreendedorismo (está na primeira classe da primária) e que, como a
irmã mais velha (terceiro ano da primária), está a elaborar um business plan
para mostrar as suas capacidades empresariais.
Dizia-me
um dos participantes: neste nosso mundo uma criança da escola primária já pode
ir à falência se o seu business plan falhar.
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Economista
e professor universitário português, Francisco Louçã é dirigente do Bloco de
Esquerda.
Créditos
da foto: O Som ao Redor/Reprodução
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