O que está ocorrendo hoje na Europa, com os avanços
que têm como protagonistas o Syriza (Grécia) e o Podemos (Espanha), mostra o
predomínio da opção por jogar o jogo da política e enfrentar as classes
dominantes na luta pelo controle do Estado
Por Igor Fuser / http://www.revistaforum.com.br/
Com o espírito alegre pela vitória do “não” no
referendo grego, abri o livro de Chantal Mouffe, uma das pensadoras mais
lúcidas sobre a ação política radical na atualidade, intitulado “Agonística –
Pensar el mundo politicamente”. Lá encontrei algo que vale a pena compartilhar.
A socióloga belga fala sobre duas estratégias
opostas que disputam influência sobre os movimentos de luta contra a
globalização neoliberal. A primeira estratégia é a que prega a “deserção” (ou
abandono) das instituições. A segunda consiste no “envolvimento crítico” com o
Estado e os canais de participação política e eleitoral, utilizando, até o
limite, as possibilidades aí existentes para avançar na busca da transformação
social.
Os ativistas que negam a ação política
institucional já não aspiram a se transformar em maioria entre os cidadãos.
Muito menos, pretendem se tornar governo. O importante, para eles, é constituir
espaços autônomos onde seja possível desenvolver formas alternativas, não
autoritárias, de organização coletiva.
Em contraste com essa primeira corrente, atuam os
militantes dispostos a disputar a hegemonia na sociedade e a construir uma
vontade coletiva capaz de travar a luta pela orientação do Estado. Para isso,
afirma Mouffe, é necessário determinar com clareza quem é o adversário a ser
combatido. Essa definição demarca o campo entre “nós” e “eles”, em uma guerra
de posições (como dizia Gramsci) que mobiliza partidos, movimentos sociais e
sindicatos em uma multiplicidade de lugares.
O que está ocorrendo hoje na Europa, com os avanços
que têm como protagonistas o Syriza (Grécia) e o Podemos (Espanha), mostra o
predomínio da opção por jogar o jogo da política e enfrentar as classes
dominantes na luta pelo controle do Estado.
É para o Estado, afinal, que convergem as
expectativas de todos os atores sociais. As políticas públicas, a cobrança dos
impostos, o “sim” ou o “não” ao desmanche de direitos sociais promovido pelo
capital financeiro – tudo isso passa pelas instituições da democracia
representativa. Abandoná-las, como defendem os neoanarquistas, é deixar a
burguesia com a faca e o queijo na mão, para nos devorar.
Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/User:Ggia
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