Onde estiver um militante do movimento social, onde
estiver um democrata, um progressista, o espírito da Frente espera estar
presente.
Roberto Amaral / www.cartamaior.com.br
A Frente Brasil Popular, recém lançada em Belo
Horizonte (5 de setembro), é a resposta das forças populares às articulações de
direita que, derrotadas nas eleições de 2014, intentam depor a presidente Dilma
Rousseff mediante o artifício de um impeachment sem base fática, sem arrimo
jurídico, apoiado tão simplesmente no ódio dos derrotados sem consolo. Mas,
para além de destituir a presidente, o projeto da direita visa ao retrocesso
social. Seu instrumento é a tentativa de isolar a presidente e imobilizar o
governo.
Coube à direita colocar na liça o ódio de classe.
Cabe-nos responder ao desafio.
A Frente Brasil Popular é ampla, no sentido de que,
não sendo estreita (esquerdista), está aberta a todas as forças que aderirem
aos compromissos de seu Manifesto, e dois são os objetivos fundamentais: (1)
barrar o golpismo e (2) fazer frente à onda conservadora que invade a sociedade
brasileira, açulando os instintos políticos mais primitivos, como a
intolerância, o autoritarismo, o sectarismo. A Frente é nacional não apenas no
sentido de que se expande por todo o nosso território, mas porque está
preocupada com as questões nacionais, a começar pela nossa soberania, pela
defesa da economia nacional, de nossas riquezas e de nosso patrimônio, ameaçado,
de que serve de exemplo o projeto do grande capital de desnacionalizar e
privatizar o pré-sal. A Frente é popular porque não resulta de uma engenharia
de cúpula, nascida como exigência dos movimentos sociais que a criaram, que a
animam e que a sustentarão. A Frente é politica – pois seus objetivos são
políticos – mas não é partidária, nem hegemonizada por partidos; também não é
antipartidária, pois está aberta aos partidos progressistas que dela desejem
participar. Política, a Frente não é eleitoral. Não olha para os pleitos de
2016 e 2018, mas não descura de sua importância. A Frente é estratégica, mira o
médio e o longo prazos, se candidata à defesa das teses progressistas e ao
enfretamento do conservadorismo, mas reconhece a necessidade de atividades táticas,
como, no imediato, a defesa do mandato da presidente Dilma. A Frente é
democrática, pois tem no diálogo e na construção de consensos seu método de
atuação, mas não tem a veleidade de ser única: não pleiteia o monopólio do
movimento social; antes, espera estimular o maior número possível de
iniciativas populares em defesa da democracia, dos interesses dos assalariados
e do avanço social.
Onde estiver um militante do movimento social, onde
estiver um democrata, um progressista, o espírito da Frente espera estar
presente.
A Frente, ao mirar o futuro, terá de, para o bem do
país que queremos construir, de sobreviver às contingências de hoje, e para tal
precisará de estabelecer prioridades. E, nas codições atuais, sua prioridade é
a preservação do mandato da presidente Dilma, não como fim, mas como ponto
essencial da resistência democrática, pois, alcançado o impeachment, por
qualquer das muitas formas que os juristas de plantão sabem engendrar, estará
aberta a porteira para a derrocada das conquistas sociais e econômicas dos
últimos anos, estará aberto o caminho para a construção de uma sociedade
autoritária. Será a vitória do retrocesso político e do neoliberalismo arcaico.
Se não for detida, agora, a onda conservadora transformar-se-á em verdadeiro
tsunami que a todos devorará, e muitos serão os anos necessários para a
reconstrução de um projeto de avanços sociais fincado na emergência das massas.
Pois a questão fulcral é mesmo essa: a direita de hoje como a direita em 1954 e
em 1964 reage à emergência as massas, emergência sempre intolerável para nossas
elites rentistas. Seu ponto de ataque é o mandato da presidente, o alvo
simbólico, a primeira fortaleza a ser atacada, mas não a última: na sequência,
como sempre, serão devoradas as franquias democráticas, restringidos os
direitos dos trabalhadores, relevada a segundo plano a soberania nacional. O
impeachment, uma vez alcançado – com o lamentável concurso de pessoas honradas
como Hélio Bicudo que, não sabendo envelhecer, dá as mãos antes limpas para o abraço
com Bolsonaro e Caiado – será o sinal para a destruição dos partidos de
esquerda, a começar pelo PT, a destruição dos quadros-ícones da esquerda, a
começar pela imagem de Lula. Iluda-se quem quiser e quem quiser que aposte no
‘quanto pior melhor’. É o mais curto caminho para o suicídio político.
Créditos da foto: Lidyane Ponciano
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