A Marcha é totalitária, concentradora de renda,
golpista e não quer nem saber de mudança climática, meio ambiente. Agroecologia
então, nem pensar.
Najar Tubino / www.cartamaior.com.br
A expansão agrícola no Brasil continuará no mesmo
nível nos próximos 10 anos e os dois destaques continuam os mesmos: soja e boi.
A soja crescerá em área quase 10 milhões de hectares – de 31,5 para 41,1
milhões – e a produção de carne de 8,4 milhões de toneladas para 11 milhões de
toneladas. Os preços continuarão subindo, portanto, a expansão está garantida.
As previsões constam no relatório do Ministério da Agricultura e inclui
estatísticas da OCDE e da FAO. Não custa recordar: desde 1997 a área de
produção de grãos do Brasil cresceu 34 milhões de hectares, foi a maior
expansão registrada no mundo, segundo estes organismos internacionais. A soja
ocupava 22,7 milhões de hectares em 2005 e quase dobrará a área até 2025.
Significa crescer um milhão de hectares por ano, ocupando segundo o relatório
do MAPA áreas de pastagens naturais e terras ainda disponíveis na fronteira
agrícola.
O agronegócio define a fronteira agrícola
brasileira pelo logotipo MATOPIBA, que reúne as iniciais dos estados do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – que por sinal já é o sexto produtor de
soja. O campeão seguirá o Mato Grosso com quase 30 milhões de toneladas. A
safra 2015/16 deverá produzir 95 milhões de toneladas, cerca de 35% exportada
para a China, e em 2025 atingirá 126,2 milhões de toneladas. Pergunta: se a
soja ocupará o lugar do boi, pra onde os pecuaristas levarão suas criações?
Para o norte, que é a triste realidade desse país, que assumiu de vez a fórmula
de substituir a floresta por boi e soja. No MATOPIBA a terra custa metade do
preço e as plantações ocupam áreas extensas, bem, ao gosto das corporações do
agronegócio. Lá ocorrerá o crescimento da soja – Balsas (MA) ampliará a área de
150 mil hectares para 215 mil; Campos Lindos (TO) de 78 mil para 114 mil
hectares; São Desidério (BA) de 264 para 274 mil e Uruçuí (PI) de 110 mil para
161 mil.
O boi continua crescendo no norte
O destino está traçado. Em segundo lugar em
expansão agrícola está a cana-de-açúcar com 2,3 milhões de hectares registrando
um aumento de 25,4% na área – de 11,2 milhões de hectares para 14,3 milhões de
hectares. Para crescer ao Norte, principalmente no Pará e no norte do Mato
Grosso – estado que registra o maior número de abates no país com 5,3 milhões
de cabeças em 2014 – e atender a demanda o pelotão que vai na frente do
agronegócio oficial – àqueles conhecidos piratas – terão que abrir espaço para
implantar um milhão de hectares de pastagem anualmente, nos próximos 10 anos. O
crescimento da carne bovina irá de 9,2 milhões de toneladas para 11,3 milhões
em 2025, ou seja, praticamente dois milhões de crescimento. Uma carcaça bovina
pesa em torno de 250 kg de carne, portanto, quatro bois fecham uma tonelada. De
maneira geral seriam mais oito milhões de bois em 10 anos, na verdade bem mais,
porque nem tudo se aproveita na comercialização.
O que interessa é onde esses animais serão criados.
No Sul e Sudeste impossível, porque as áreas de pastagens já estão sendo
ocupadas ou pela soja ou pela cana. O preço histórico da arroba do boi cresceu
30% do nível histórico, e a arroba já chegou a 143 reais em São Paulo – um boi
de 17 arrobas, que é a média que os frigoríficos procuram, custa em torno de
R$2,5 mil, e um caminhão com 20 animais vale R$50 mil. Diz o relatório do MAPA:
“- As projeções de carnes para o Brasil mostram que
esse setor deve apresentar intenso crescimento nos próximos anos e a
expectativa é que a produção de carne no Brasil continue seu rápido crescimento
na próxima década. Os preços ao produtor devem crescer fortemente durante os
próximos 10 anos, especialmente carne de porco e carne bovina, o preço das aves
crescerá de forma mais modesta”.
O Brasil produzirá em 2025, 33,7 milhões de
toneladas de carnes (aves, boi e porco) registrando um aumento no período de
30,7% - a produção de 2015 é projetada para 25,8 milhões de toneladas.
Líder na produção de grãos
Por outro lado, o feijão com arroz brasileiro vai
continuar em declínio, com perdas de 700 mil hectares, no caso do arroz, e mais
de um milhão de hectares no feijão, em termos de área plantada. A produção de
arroz aumentará de 12,4 milhões de toneladas para 13,3 milhões de toneladas,
mas a previsão é que o consumo continue no patamar de 12,2 milhões de
toneladas. Os técnicos da Embrapa não concordam com a redução da área do arroz,
porque quase 70% da produção é do Rio Grande do Sul – cultivo irrigado e
estabelecido há décadas. A produção do feijão é de 3,4 milhões de toneladas e o
consumo de 3,5 milhões com importação de 100 a 200 mil toneladas. Cabe destacar
que os plantios irrigados do Centro-Oeste estão produzindo feijão para
exportação – Índia e China.
Só para registrar mais uma expansão de plantio
industrial – eucalipto. Os dados não são atualizados – menos de cinco milhões
de hectares – mas a produção de celulose crescerá de 17 milhões de toneladas
para 22,4 milhões em 2025 e continuará sendo exportada em sua maioria – 80%, em
torno de 11,8 milhões de toneladas daqui a 10 anos. A produção de papel vai de
10,7 milhões de toneladas para 13,1 milhões de toneladas. Enfim, o Brasil em
2025 será o líder do agronegócio mundial produzindo 258 milhões de toneladas de
grãos, que ocuparão mais de 65 milhões de hectares. Somando mais 200 milhões de
hectares de pastagens – que em 2025, terá que ser no mínimo 210 milhões de
hectares temos a maior parte da área ocupada pelo agronegócio .
Projeções nunca divulgam o consumo de venenos
É óbvio que nestas projeções internacionais ou
mesmo nacionais não constam os números dos insumos utilizados, como
fertilizantes e agrotóxicos. Faz parte do pacote, vamos dizer, é intrínseco,
mas nada agradável divulgá-los. Primeiro porque os fertilizantes continuam
sendo importados e segundo porque não seria nada agradável dizer que o país é
campeão na produção de grãos com 258 milhões de toneladas, mas que é o líder
absoluto no consumo de venenos – de 209 milhões de toneladas na safra 2015/16
com o consumo de mais de um milhão de toneladas de agrotóxicos. Portanto, são
no mínimo, mais 20% de venenos que serão usados em 2025 – mais 200 mil
toneladas, por baixo.
Isso considerando o estado de arte do agronegócio,
sem mudança climática e sem novas pragas. Por exemplo, no dia 10 de setembro a
Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF) divulgou o seguinte texto, a
respeito de um painel técnico realizado em São Paulo, para discutir novas
pragas:
“- O agronegócio brasileiro está sob ataque. Nos
últimos meses três novas pragas agrícolas foram detectadas no país, fato que
serviu para reaquecer as discussões sobre a importância da defesa
fitossanitária”.
Os fungicidas perderam a eficácia
As três novas pragas identificadas são as
seguintes: uma planta chamada Amaranthus Palmeri, detectada nas plantações de
algodão no Mato Grosso, já é comum nos Estados Unidos. A segunda é a mosca
“Melanogromyza”, conhecida pelos pesquisadores, mas encontrada em plantações no
RS. E a terceira uma prima da lagarta “helicoverpa armigera” chamada
“helicoverpa punctigera” encontrada no Ceará. Mais uma citação, do presidente
da Crop Life Latin America, José Perdomo:
“- As pragas estão de todos os lados. Por isso
investimos US$7,5 bilhões por ano no desenvolvimento de sementes mais
resistentes e em defensivos mais eficazes. Nos últimos anos lançamos 195 novos
produtos de proteção e 68 sementes transgênicas”.
As corporações produtoras de veneno se
autodenominam “a defesa vegetal” e seus produtos não são venenos, são
defensivos. É filosofia pura, que custa ao próprio agronegócio US$11,5 bilhões
de dólares em agrotóxicos – número de 2014. Mas tem mais, em tempos de “sob
ataque”. A pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, comentou a volta da
ferrugem asiática nas lavouras de soja, que mais uma vez é a praga do momento.
“- O fungo Phakopsora Pachyrhizi, da ferrugem, está
se tornando resistente. Os fungicidas a base de triazóis, estrobilurinas e
carboxamidas, cujas moléculas controlavam até 90% dos fungos tiveram a
eficiência reduzida para um intervalo entre 20 e 40%. O problema é que há casos
extremos de até 10 aplicações em lavouras, além da falta de rotações de
culturas e da extensa janela de plantio”.
Liberar novos venenos
Janela de plantio é o seguinte: depois da safra
principal uma segunda safrinha, em seguida – caso do Paraná, que plantou 132
mil hectares, e para quem tem irrigação, ainda há uma terceira possibilidade.
Ou seja, comida à vontade para os insetos e fungos o ano inteiro. Isso que a
ANVISA tem registrado 22 ingredientes ativos de agrotóxicos e 113 produtos para
combater a ferrugem asiática.
Ainda existe outro detalhe: em julho de 2013, o
inseticida “endossulfan”, cancerígeno e banido na União Europeia e Estados
Unidos, foi finalmente banido do Brasil. Mas ele era usado como o coringa dos
venenos – para qualquer infestação. E as corporações perderam uma fatia do seu
faturamento. Então, agora, “sob ataque” é preciso liberar novos venenos, que
dizem eles, já são usados no Paraguai e na Argentina. E recuperar o
faturamento. Quanto ao restante dos brasileiros e o que chamamos de segurança
alimentar, quer dizer, produção interna de alimentos saudáveis, nenhum registro
nas estatísticas da OCDE, da FAO e do MAPA. É como não existisse. A Marcha dos
Insensatos é totalitária, concentradora de renda, golpista e não quer nem saber
de mudança climática, meio ambiente. Agroecologia, então, não consta no
dicionário deles.
Créditos da foto: EBC
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