Estas
agências dão opiniões baseadas não no que é melhor para o governo local - e sim
no que produz mais lucros para elas.
por Michael Hudson*, no Counterpunch
(via Viomundo) / www.cartamaior.com.br
Reproduzido
originalmente em 03.11.2013
No
confronto financeiro que desponta hoje as agências de classificação estão
desempenhando um papel político de “executoras”, como guardiãs do crédito, para
pressionar Islândia, Grécia e até mesmo os Estados Unidos para que sigam
políticas orientadas aos credores, que inevitavelmente levam a crises
financeiras.
Essas
crises, por sua vez, forçam governos devedores a vender patrimônio público em
condições de estresse. Perseguindo esse trabalho de cães de guarda dos bancos
mundiais, as agências de classificação estão intensificando uma estratégia
política que refinaram ao longe de mais de uma geração, na arena corrupta da
política doméstica dos Estados Unidos.
Em
1936, como parte das reformas do mercado financeiro norte-americano, promovidas
pelo New Deal [políticas públicas do ex-presidente Franklin Delano Roosevelt
para enfrentar a Depressão econômica], os reguladores proibiram os bancos e
administradores financeiros institucionais de comprar títulos considerados
“especulativos” pelos “reconhecidos manuais de classificação”.
Empresas
de seguro, fundos de pensão e fundos mútuos submetidos à regulamentação pública
foram obrigados a “levar em consideração” a visão das agências de análise de
crédito, o que deu a elas um monopólio sancionado pelo governo.
Essas
agências fazem dinheiro oferecendo suas “opiniões” (pelas quais nunca são
legalmente responsáveis) a respeito da possibilidade de remuneração de várias
graduações de títulos, de AAA (as dívidas asseguradas por governos, as que têm
graduação top porque os governos sempre podem imprimir dinheiro para pagar) até
as profundezas dos títulos junk.
As
agências Moody’s, Standard and Poor’s e Fitch se concentram principalmente em
ações e títulos emitidos por corporações, estados e municípios.
Fazem
dinheiro duas vezes na mesma transação quando cidades e estados equilibram seus
orçamentos transformando patrimônio público em entidades privadas, que emitem
novos títulos e ações.
Esse
incentivo empresarial cria nas agências de análise uma antipatia por governos
que se financiam na base do “pague de acordo com a necessidade” (o que Adam
Smith apoiava), aumentando impostos sobre imóveis e outros bens, ao invés de
tomar emprestado para cobrir os gastos.
O
efeito dessa parcialidade hereditária é dar opiniões baseadas não no que é
melhor, economicamente falando, para o governo local — e sim no que produz mais
lucros para elas, agências.
Governos
locais são pressionados quando o nível de endividamento sobe e provoca uma
situação financeira severa. Os bancos cortam suas linhas de crédito e exortam
as cidades e estados a pagar suas dívidas vendendo seu patrimônio público mais
viável*.
Oferecer
opiniões a respeito destas práticas se tornou um grande negócio para as
agências de análise. Então, é compreensível porque seus modelos de negócios se
opõem a políticas – e a candidatos políticos – que apoiam a ideia de basear o
financiamento público na cobrança de impostos — e não no endividamento. Esse
interesse próprio influencia suas “opiniões”.
*PS
do Viomundo: No caso do Brasil, a Petrobras.
Créditos
da foto: reprodução
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