http://jornalggn.com.br/ por André Araújo
No último programa Fatos e Versões na GLOBONEWS, a
jornalista comentou que os petistas não mais apoiavam o ex-presidente do PT
José Dirceu porque petistas não admitem companheiros que roubam para
enriquecimento pessoal. Essa narrativa passou a ser difundida pela corrente
eficiente, poderosa e imbatível de mágicos da mídia que pintando versões e elaborando
narrativas delirantes repetidas
mil vezes até virar verdade.
A narrativa ofende a lógica e a inteligência, mas
na história da mídia são as versões que predominam sobre a história.
1. José Dirceu tem uma longa biografia a serviço de
uma causa política. A essa causa dedicou-se, arriscou a vida, foi preso, fugiu
para Cuba, arriscou novamente a vida voltando ao Brasil ainda durante o regime
militar, depois construiu um partido, o presidiu e o levou à vitória. Não é uma
biografia qualquer, de politiquinho de arrabalde. Fez história real e complexa,
relacionou-se com líderes da América Latina, com importantes personagens da
alta política dos Estados Unidos, entre os quais teve respeito mesmo depois da
queda, tem entre grandes admiradoras a jornalista herdeira do jornal The
Washington Post.
2. Ao perder o poder em 2005, fundou uma firma de
consultoria para aproveitar sua experiência e sua agenda, assim como fizeram e
fazem políticos, diplomatas, juízes, procuradores gerais, militares. Esse tipo
de consultoria é "personalíssima", se lastreia em cima da pessoa do
fundador, não é consultoria técnica, é consultoria de relacionamento, a mais
famosa dos EUA é a Kissinger Mc Larthy, do celebre ex-Secretário de Estado
Henry Kissinger. O que faz essa consultoria? Precisa ter acesso a um governo e
não consegue, mas se Henry Kissinger ligar para um líder desse Pais é atendido
e abre o caminho para a empresa que precisa do contato. Parece pouco, mas vale
muito e cobra-se de acordo. Não é atividade proibida, tanto que as firmas que
fazem são legais, trata-se de uma atividade essencial e existe em todo o
planeta, só em Washington existem centenas de firmas que vivem disso.
3. Alegou-se então que o "enriquecimento
ilícito" de Dirceu se deu através de propina e essa propina era a receita
de serviços dessa consultoria. Não tem lógica. Propina se paga sem recibo.
Seria uma estupidez um corrupto constituir uma firma legal, que exige uma
burocracia nada simples, inscrições fiscais, depois declaração anual ao Imposto
de Renda, sujeita à fiscalização, para receber propina. O método universal é a
mala ou a conta na Suíça, dar recibo nem o mais estúpido dos corruptos se
arriscaria a fazer e depois contabilizar a propina e declará-la ao fisco.
4. A consultoria em questão teve receitas de 34
milhões de reais em 9 anos, o que dá um pouco mais de 300 mil reais por mês.
Ora, os volumes de propinas geradas no caso Petrolão são de centenas de milhões
de reais. A narrativa da corrente de mídia disse a certa altura que Dirceu
"era o chefe do esquema Petrolão", mas como pode o chefe receber 34
milhões em 9 anos se um mero gerente ganhou só numa conta no exterior quase 400
milhões de reais? Que chefe burro é esse, ganha muito menos que um terceiro
escalão que ninguém sabia sequer que existia?
5. O caso de contratos "personalíssimos"
são comuns na economia; que tal um técnico de futebol semi-analfabeto, que fala
"os porjeto" ganhar 900 mil reais por mês e trabalhar em mais de 15
clubes? Um animador de televisão ganhar 2 milhões por mês, um locutor de rádio
de escassas letras ganhar 400 mil reais? São contratos "personalíssimos",
paga-se a celebridade, o nome, é o nome que tem valor, não o serviço prestado.
Veja-se, por exemplo, o caso de uma advogada que trabalhou em um famoso
processo onde em poucos meses ganhou 22 milhões de reais, não sendo antes
conhecida e muito menos fazendo parte do primeiro time de advogados do seu
setor, ganhou tudo isso de forma aparentemente inexplicável, mas legal, porque
o contrato era "personalíssimo", só valia para ela, porque pouco se
sabe e quem quis saber foi admoestado porque disseram que ninguém tem nada com
isso, embora sendo um caso bem mais obscuro do que o caso Dirceu, escrachado
para todo mundo ver, inclusive o fato curioso que a esmagadora maioria dos
clientes de Dirceu nada tem a ver com o Petrolão, portanto nem remotamente
estão ligados á fabrica de propinas.
6. Atribui-se também à propina do Petrolão a
reforma de uma casa de Dirceu, cidadão que sempre teve uma vida de classe
media, que casa seria essa e que valor poderia ter essa reforma? Qual a
proporção que pode ter a reforma de uma casa sem qualquer suntuosidade com os
valores que se mencionam no caso Petrolão , onde uma cifra de 88 bilhões foi
citada oficialmente e onde chutes sobre valores de propinas chegam de 2 a 6
bilhões de Reais? Nesse contexto a reforma de uma casa mediana é relevante, o
jornal O GLOBO chegou a citar inclusive um aparelho de TV como propina para o
Dirceu dentro do contexto do Petrolão. A narrativa chega a ser patética, de 107
milhões de dólares na conta do gerente a um aparelho de TV dado a Dirceu, qual
a noção de grandeza dessa narrativa? Aparentemente nenhuma, mas a jornalista da
GLOBONEWS disse textualmente que os companheiros do PT o abandonaram por causa
de seu recebimento de propinas para enriquecimento pessoal. Pena que não
acharam uma casa em Miami para completar a narrativa.
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