terça-feira, 15 de setembro de 2015

O ajuste fiscal e a Inquisição Mercadista

inquis


Um dia, surgirá alguém com talento e fantasia para escrever sobre a Inquisição do Terceiro Milênio.

Porque é assim que temos, hoje, também um Tribunal do Santo Ofício, que exige o temor e o respeito incondicional ao novo deus, o Deus Mercado, e aos dogmas de sua adoração.

O “eu sustento que a finalidade da Ciência é aliviar a canseira humana” que Brecht colocou nos lábios de Giordano Bruno e que o levaram ao fogo equivale, hoje, a sustentar que a finalidade da riqueza é aliviar a miséria da humanidade.

Os sacerdotes desta religião torcem o nariz diante de notícias como a que dá, hoje, a Folha, de que a Presidente Dilma Rousseff “ainda se mostrava inflexível na determinação de preservar os programas sociais”. Isso, afinal, “impedirá que se chegue ao corte de R$ 20 bilhões, definido como mínimo para que o anúncio seja considerado robusto”.

E se insurgem contra qualquer possibilidade de que, em lugar de cortes que aumentem o sofrimento dos pobres, arrecade-se o necessário à “robustez” das contas públicas com míseros reajustes na estrutura dos impostos que privilegia os ricos.

Quem disser o contrário – e até o atual papa o diz – é um herege.

O presidente da Whirpool – dona da Cônsul e  da Brastemp – diz que “não há espaço para aumentar impostos” e resume: “queremos superavit” cortando despesas. Quando Lula e depois Dilma cortaram o IPI de seus produtos e entupiu-se de vendas, este senhor certamente não ficou assim, amuado.

A nova Inquisição, com seus ternos bem-cortados e seu fundamentalismo, constrói, com a ajuda de uma mídia histérica, a ideia de que o imposto é “pecado”, valendo-se da corrupção que desviou deles migalhas  ante as montanhas que lhes consumiram as parcas melhorias no ensino, na saúde, na habitação, na infraestrutura. E, claro, do Himalaia dos juros pagos pelo Estado Brasileiro, dízimo supremo que a Nação paga  aos sacerdotes da fé mercadista.

Exige, não menos, que Dilma abjure de seus compromissos e crenças, e que tire daqueles que a levaram ao poder.

Não porque isso vá economizar mais cinco ou dez bilhões de reais, mas porque isso vai agravar – com a ajuda dos que não compreendem que estamos diante de escolhas de vida ou morte – o desgaste político do Governo diante daqueles que o apoiaram e ainda apoiam ou podem voltar a apoiar.


E um passo a mais no verdadeiro auto de “fé mercadista” que se deseja: lançar à fogueira qualquer governo que não seja a ela submissa, não por necessidade, mas por natureza.

Afinal, mesmo coagido, um governo pode abjurar de suas crenças sociais tal como Galileu abjurou da ideia de que a Terra era fixa e o centro do Universo.

Murmurando, à espera do tempo, que, apesar disso, ela se move.


E que se mova, com a volta de Lula.

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