
(Jornal do Brasil) - Pressionada,
ainda antes de sua vitória nas urnas, pela oposição, o discurso neoliberal de enxugamento do
Estado, e pelos erros - em princípio bem intencionados - cometidos nas
desonerações, durante seu primeiro mandato, a Presidente Dilma Roussef fez mal
em trocar a equipe econômica, e, de olho nas agências internacionais de
"qualificação", ter cedido à chantagem do "mercado",
colocando banqueiros para cuidar da economia brasileira, seguindo a receita
ortodoxa de mais juros e mais arrocho, sob o mal disfarçado rótulo de
"ajuste".
O campo neoliberal, dogmático e
entreguista, e o sistema financeiro internacional, decidido e determinado a
fazer com que o Brasil se submeta novamente, de corpo inteiro, a seus ditames,
hipócritas e autoritários, agem como o lobo no cerco ao pobre cordeiro da
fábula de La Fontaine.
De nada adiantou o Brasil ter
abaixado a cabeça e tentado fazer o "dever de casa", comprometendo-se
a promover o "ajuste" e aumentando os juros. O rebaixamento - sórdido
e imbecil aplicado por uma empresa multada em mais de um bilhão de dólares por
ter enganado investidores, profissional e moralmente descreditada no exterior,
entre outras personalidades, pelo Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, que
já chamou de palhaços seus analistas - veio do mesmo jeito, no bojo da
estratégia geral de paulatino, lento "sangramento" do atual governo,
por meio da Standard & Poors.
Agora, segue o baile, com o país
paralisado, por causa da previsão de um ridículo déficit de 30 bilhões de reais
no orçamento, que poderia ser de 60 ou 90 bilhões, que ainda assim não chegaria
sequer a 10% de nossas reservas internacionais e o governo continua deixando
que a imprensa e a oposição, dentro e fora do Congresso, ditem a pauta
nacional, apedrejando o "aumento" dos impostos sobre o
"povo", de um lado, com a CPMF, ao mesmo tempo em que impedem, com a
outra mão, o aumento da taxação sobre os bancos, que estão - vide seus lucros -
deitando e rolando com o constante aumento dos juros, principalmente, os da taxa
SELIC.
Ora, o que o governo tinha que
fazer é dizer que vai tirar 10 ou 20 bilhões de dólares das reservas
internacionais, de 370 bilhões de dólares, acumuladas nos últimos anos, para
cobrir esse suposto "buraco", cuja importância a imprensa conservadora
tem multiplicado, já que significa uma quantia simbólica perto do PIB de mais
de 2 trilhões de dólares (no ano passado alcançou 2.345 trilhões de dólares).
Ele poderia também suspender a
proposta de imposto sobre a CPMF - que a população acha, erroneamente, que vai
sangrá-la, quando ele é quase simbólico e facilitaria o combate à sonegação e à
lavagem de dinheiro - taxando
imediatamente os bancos, para aumentar a arrecadação, sem mexer no bolso do
contribuinte, usando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para evitar
a explosão das tarifas.
E colocar os empresários da área
produtiva, a FIERJ e a FIESP, para conversar com o Banco Central (leia-se
COPOM) para baixar, paulatinamente, os juros, aliviando a situação fiscal do
governo e revertendo psicologicamente a percepção exagerada de crise e de
recessão promovida pela mídia conservadora, já que a queda recente da inflação,
principalmente de alimentos, permite isso.
Isso, sem mexer no câmbio, cuja
trajetória vem valorizando as reservas internacionais com relação ao real,
diminuindo a dívida líquida pública, e reativando setores industriais de uso
intensivo de mão de obra, que estão voltando a exportar.
Se o Brasil estivesse quebrado e
sem saída, tudo bem.
Mas temos mais de um trilhão de
reais em dólares, as sextas maiores reservas do mundo, e somos, depois da China
e do Japão, o terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos,
números que - devido à proverbial incompetência do governo e do PT na área de
comunicação, além da blindagem dos grandes meios de comunicação - continuam
fora do alcance da percepção e do conhecimento da imensa maioria do povo
brasileiro.
Em uma situação de cruenta guerra
política, e, principalmente, ideológica, como é o momento, com o avanço do
fascismo nas ruas e na internet, não há, para qualquer governo, pior tática do
que abandonar seus princípios para ceder paulatinamente à pressão do
adversário, na esperança de que essa pressão se alivie.
Até porque ela só tende a piorar
cada vez mais, sadicamente - como o aperto implacável e constante,
ininterrupto, do Garrote Vil, volta a volta do torniquete, no pescoço dos
prisioneiros, pelas mãos dos carrascos na Espanha, nos tempos da ditadura de
Franco.
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