Além
de suspeitas de beneficiamento indevido de programa federal de FHC para
favorecer o banco Bandeirantes, uma investigação sobre contas da família em
Lichtenstein aguarda para sair da gaveta há 8 anos
por
Helena Sthephanowitz, para a RBA / http://www.redebrasilatual.com.br/
O
ramo materno da família do senador Aécio Neves (PSDB-MG) beneficiou-se de dois
rombos no sistema financeiro brasileiro, que o levaram a consumir R$ 1,25
bilhões de recursos do Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), parte coberta pelos cofres
públicos. Ocorreu entre 1996 e 1998, período em que o país era governado por
FHC.
Antes
da história, uma explicação rápida: o Proer foi criado por FHC, sob o argumento
de sanear o sistema financeiro, transferindo a parte boa de bancos quebrados
para outros bancos considerados saudáveis, enquanto o Banco Central ficava com
a parte podre, ou seja, o que levasse ao rombo e à quebra do banco. Digamos
assim: fou um jeito encontrado para privatizar os lucros e socializar os
prejuízos.
Pois
bem. Em seu segundo casamento, Inês Maria Neves de Faria, mãe do senador,
uniu-se ao banqueiro Gilberto de Andrade Faria, já falecido, que à época era
dono do extinto Banco Bandeirantes. Muito mais que limitar-se a ser a
"primeira dama" do banco, Inês foi acionista da empresa e fez parte
do seu Conselho de Administração entre 1992 e 1998. Chegou mesmo a responder a
processo administrativo, aberto pelo Banco Central por irregularidades e até a
ser multada.
O
banco da família de Aécio foi um dos primeiros da fila a se dar bem com o Proer
criado pelo governo tucano: ganhou – sem licitação – a parte
"saudável" do Banorte, liquidado extrajudicialmente em maio de 1996.
Resultado disso: o Bandeirantes ficou com 81 agências a mais e toda a clientela
boa do Banorte, enquanto os cofres públicos ficaram com o rombo a pagar – o
Proer de FHC liberu módicos R$ 1,256 bilhão para dar um
"empurrãozinho" na operação e, assim, "garantir a reestruturação
do sistema financeiro".
A
aquisição do Banorte pelo Bandeirantes foi polêmica desde sempre. Em 2002, o
juiz da 10ª Vara Cível do Recife, Luiz Gomes da Rocha Neto, anulou a venda,
alegando em seu voto ter detectado sinais de favorecimento ao banco da mamãe
Neves.
Na
sentença, reproduzida aqui de reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, diz o
juiz : "Em 24 horas decretou-se a intervenção do Banorte (...)
estabeleceram-se bases e diretrizes da operação; preparou-se contrato (...)
reuniu-se a diretoria do Banco Central; encaminhou-se o voto favorável do Bacen
ao Conselho Monetário Nacional; que se reuniu na mesma data, apenas com os
integrantes constantes da ata, que concedeu instantaneamente seu Aprovo; e
celebrou-se o contrato; tudo, repito, em 24 horas (...) Essa assombrosa e
questionável operação contratual representou desprezo pelo patrimônio, nome e
fundo de comércio do Banorte e foi uma carta branca ao Bandeirantes (...) Houve
muita pressa na celebração do pacto, tanto que cláusulas e condições totalmente
em aberto foram incorporadas e inexplicavelmente mantidas nos instrumentos
contratuais".
O
que tomaria ares de escândalo maior, se não tivesse sido abafado pela mídia
tradicional é que, menos de dois anos depois de ter adquirido o Banorte sem
esforço, o próprio Banco Bandeirantes anunciou estar quebrado – que levou ao
famoso caso de intervenção do Banco Central para que a empresa fosse vendida
pelo valor de R$ 1,00 (sim, um real e nada mais) para o banco português Caixa
Geral de Depósitos.
A
falência do Bandeirantes em tão curto prazo após ter adquirido o Banorte
demonstra que o Banco Central deixou de aplicar o devido rigor técnico em 1996.
Se o tivesse feito, constataria a falta de condição de assumir o Banorte, pois
já tinha problemas de alavancagem e de falhas de gestão que se agravaram logo
depois.
Mesmo
vendido à R$ 1,00 e deixando rombos para os cofres públicos e o povão cobrir,
os antigos controladores do Bandeirantes mantiveram suas fortunas. Um jatinho
avaliado em R$ 24 milhões com prefixo PT-GAF, que pertencia a Gilberto Farias,
era usado pelo senador Aécio Neves em 2011, conforme noticiamos aqui.
Paraísos
Junte-se
a este escândalo nunca devidamente abordado pela nossa mídia tradicional a
notícia divulgada pelo jornalista Luis Nassif em janeiro deste ano de que a
Operação Norbert da Polícia Federal, deflagrada em fevereiro de 2007, encontrou
na mesa da casal de doleiros Christiane Puchmann e Norbert Muller uma
procuração em alemão aguardando a assinatura de Inês Maria, uma das sócias da
holding Fundação Bogart & Taylor – que abriu uma offshore no Ducado de
Lichtenstein, conhecido paraíso fiscal.
Segundo
Nassif "os procuradores avançaram as investigações e constataram que a
holding estava em nome de parentes de Aécio Neves: a mãe Inês Maria, a irmã Andréa,
a esposa e a filha". Como o caso envolvia um senador da República, os três
procuradores o desmembraram do inquérito principal e encaminharam o caso ao
então Procurador Geral da República, Roberto Gurgel. Foi no mesmo período em
que Gurgel engavetou uma representação contra o então senador Demóstenes
Torres. O caso parou na gaveta de Gurgel. No próximo mês deverá ser apreciado
pelo atual PGR, Rodrigo Janot. Há uma tendência para que seja arquivado.
Alega-se que Aécio não seria titular da conta – que está em nome de familiares
– mas apenas beneficiário (...)".
Como
a notícia de Nassif foi publicada em janeiro, o "próximo mês" foi
fevereiro passado. Não há notícias do andamento desta investigação, que já
completa oito anos na gaveta, nem nas cortes superiores no caso de Aécio, nem
sobre o desmembramento para seus parentes serem investigados na Justiça Federal
do Rio de Janeiro.
Os
casos envolvendo Aécio Neves vão se acumulando e lotando gavetas: lista de
Furnas, bafômetro e carros de luxo pessoais em nome de rádio, Proer, primo
tesoureiro de campanha na diretoria da Cemig, Mineirão sem licitação, negócios
ruins para a Cemig e bons para a Andrade Gutierrez, construção de aeroporto em
fazenda de tio etc.
Será
que para o Ministério Público Federal abrir essa gaveta será preciso esperar
que o MP de Lichtenstein ou da Suíça aja primeiro? Assim como ocorreu com
Cunha, cuja investigação veio da Suíça, enquanto no Brasil o processo contra o
deputado estava na gaveta desde 2006.
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