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Jânio
de Freitas, a quem meio século de janela jornalística fazer saber tudo o que se
passa na política, toca hoje num tema explosivo.
O
poder que resta a Eduardo Cunha para “cobrar” fidelidades e acobertamentos
políticos, o arsenal de segredos alheios que guarda desde que foi presidente da
Telerj, nos anos 90, no Governo Collor, por indicação de PC Farias.
Não,
Eduardo Cunha não terá uma epifania ética como a que alegou ter tido, em plena
Câmara dos Deputados, o ladrão Paulo Roberto Costa. Nem se pense que pudesse
fazer “delações premiadas” como a ratatuia que se empanzinou em negócios da
Petrobras.
Seus
métodos são outros, bem outros. E não
excluem pressionar também os que o abasteciam, para atirarem denúncias ao
ventilador da mídia.
Resta
saber o quanto, com quantos e com quais serão convincentes.
Vozes da moralidade
Jânio
de Freitas, na Folha
A
situação pessoal embaraçosa, com o presumido risco de perder milhões de dólares
resguardados no exterior para não os perder, deve ter mexido com a frieza de
Eduardo Cunha. Mas Eduardo Cunha exagera, supondo-se “execrado”. Muito ao
contrário. Eduardo Cunha não está sozinho, não foi abandonado por causa de
acusações. E tanto conta com fraternidades espontâneas, como dispõe de armas
para produzir interessados em não o incomodar. Ou só fazê-lo em último
desespero de causa.
A
verdadeira atitude do PSDB, até ontem (10), de benevolência quando as provas
contra Eduardo Cunha já levam a pedidos de sua cassação, provém de duas
vertentes. Os taradinhos do impeachment preservam o presidente da Câmara porque
esperam dele que instale a ação para a derrubada de Dilma e não têm pudor de
dizê-lo. Aécio Neves não foi sugerir a Eduardo Cunha que se licenciasse coisa
nenhuma, se nem disfarçou o desejo de que seja poupado para encaminhar o
processo. O “aquilo” em que esses taradinhos só pensam não é aquilo, é o
impeachment.
A
outra vertente de proteção peessedebista a Eduardo Cunha veio dos mais velhos
que ainda influem no partido. São remanescentes do governo Fernando Henrique.
Ou seja, do escândalo das privatizações causado por grampos telefônicos que
levaram à saída forçada de ministros e de outros do governo, comprometidos com
fraudulências surpreendidas pelas gravações.
Confrontado
de repente com uma pergunta sobre a origem das fitas, o general Alberto
Cardoso, da Casa Militar, disse que foram encontradas sob um viaduto em
Brasília. A verdade era outra. A maior parte dos procedimentos para as
privatizações transcorreu no Rio, sede das empresas e do BNDES, além das
extensões de ministérios também envolvidos, como Indústria e Fazenda. Tudo se
passava, portanto, nos domínios territoriais e operacionais de Eduardo Cunha,
presidente da Telerj, a telefônica estatal do Rio, no governo Collor e até a
posse de Itamar Franco.
Logo,
nada de extraordinário que, pelas investigações ou por dedução, o circuito fechado
do governo Fernando Henrique desse as gravações como obra de Eduardo Cunha, que
em anos recentes já fora dado como responsável por grampos em série. No seu
“diário” de presidente, Fernando Henrique refere-se a Eduardo Cunha deste modo,
transcrito da revista “piauí” pela Folha: “O Eduardo Cunha foi presidente da
Telerj, nós o tiramos de lá no tempo do Itamar porque ele tinha trapalhadas,
ele veio da época do Collor”. Esse “nós” é invenção da vaidade. Fernando
Henrique estava indo para Relações Exteriores e nada teve com a exoneração
rápida de Eduardo Cunha, decidida e feita por Itamar. Sem sequer considerar
trapalhadas, mas, como muitas outras demissões, por ser ligado a PC Farias.
Gravações
clandestinas não começam no exato momento comprometedor da conversa. Quem as
instalou pode fazer coleções de conversas, personagens e assuntos. E quem sabe
que gravações podem trazer-lhe complicações, diretas ou indiretas, não ousa
contra o possível colecionador. A não ser quando o veja batido, esvaído,
inerte. Como muitos têm esperado ver Eduardo Cunha, para lembrar-se de que são
grandes defensores da moralidade. Privada e pública.
Mas
não só de grampeamentos se fazem coleções biográficas. Como ex-presidente da
Telerj, Eduardo Cunha sabe –e ninguém duvide de que também comprove– que a
estatal dava dinheiro a políticos. Quantias fixas. Mês a mês. Por nada.
E
Eduardo Cunha não só investigou. Também pagou. Se vai cobrar, ainda não se sabe
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