Putin, sem recorrer a nenhuma ameaça verbal ou
xingamentos, mudou decisivamente o equilíbrio de poder, e o mundo sabe disso.
Paul
Craig Roberts, do CounterPunch / www.cartamaior.com.br
O mundo começa a notar a mudança profunda para a
geopolítica que representou o discurso de Vladimir Putin na ONU, no dia 28 de
setembro, quando o presidente russo declarou que a Rússia não pode mais tolerar
a política externa perigosa, estúpida e falida de Washington, que desencadeou o
caos que engoliu o Oriente Médio e agora começa a tomar a Europa. Dois dias
depois, a Rússia assumiu o controle militar na Síria e deu início à destruição
das forças do Estado islâmico.
Entre os assessores de Obama, talvez ainda haja
alguns que não tenham sido totalmente cegados pela arrogância e possam
compreender a mudança em curso. A agência russa de notícias Sputnik afirmou que
alguns dos conselheiros do presidente americano especialistas em segurança
aconselharam-no a retirar as forças militares americanas da Síria e desistir de
derrubar Assad. Eles sugeriram uma cooperação com a Rússia, a fim de parar o
fluxo de refugiados que hoje sobrecarrega os países vassalos de Washington na
Europa. A chegada em massa de pessoas indesejadas está fazendo os europeus se
darem conta do alto preço do apoio à política externa americana. Os
conselheiros mostraram a Obama que as estúpidas políticas dos neoconservadores
estariam ameaçando o império de Washington na Europa.
Analistas como Mike Whitney e Stephen Lendman concluíram,
corretamente, que Washington está de mãos atadas no que diz respeito à estratégia
russa contra o Estado Islâmico. O plano dos neoconservadores de que a ONU
decrete uma zona de exclusão aérea sobre a Síria, a fim de expulsar os russos,
não passa de delírio. A ONU nunca aprovará tal resolução. Na realidade, os russos
já estabeleceram uma zona de exclusão aérea de fato.
Putin, sem recorrer a nenhuma ameaça verbal ou
xingamentos, mudou decisivamente o equilíbrio de poder, e o mundo sabe disso.
A resposta de Washington consiste em xingamentos,
bravatas e mais mentiras, algumas das quais ecoadas por alguns dos cada vez
mais trôpegos vassalos de Washington. O único resultado tem sido evidenciar a
impotência de Washington.
Se Obama tiver alguma consciência, vai dispensar os
idiotas neoconservadores que dilapidaram o poder de Washington, e se concentrar
em, junto com a Europa, trabalhar ao lado da Rússia para destruir – ao invés de
patrocinar – o terrorismo no Oriente Médio, por trás da crise dos refugiados na
Europa.
Mas se Obama não puder admitir um erro, os Estados
Unidos continuarão a perder credibilidade e prestígio em todo o mundo.
Paul Craig Roberts foi secretário-assistente do
Tesouro americano e editor associado do Wall Street Journal. Roberts é autor dos livros How the Economy Was Lost e How America Was
Lost
Tradução de Clarisse Meireles
Créditos da foto: reprodução
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