
A vocação para submissão de parcelas do Judiciário
e da área de segurança brasileiras às autoridades norte-americanas é
impressionante.
Como exemplo, temos a “colaboração” prestada pelo
Ministério Público e pela Operação Lava-a-jato a procuradores norte-americanos
que estão recolhendo provas contra a Petrobras e oferecendo acordos de delação
premiada a presos brasileiros submetendo-se colonizada, e alegremente - nas
barbas do Ministério da Justiça – às autoridades de um país estrangeiro, como
se elas tivessem jurisdição em território nacional, em uma causa que envolve
uma empresa de controle estatal que pertence não apenas aos seus “investidores”
diretos, mas a todos os cidadãos brasileiros.
Depois, temos a romaria de procuradores e juízes
aos EUA, para receber “homenagens” relacionadas a assuntos internos nacionais,
e a recente presença de ministros da Suprema Corte em reuniões do Diálogo Interamericano
- uma espécie de Foro de São Paulo às avessas - nos EUA. Já imaginaram um
procurador norte-americano se deslocando para o Brasil para ser premiado por
sua atuação, na investigação, digamos, de corrupção na General Motors, ou na
AMTRAK, uma das maiores empresas estatais dos EUA - tradicionalmente
deficitária - com mais de 20.000 funcionários, e presente nos 48 estados da
Federação?
Como se não bastasse, agora, chega a vez do Rio de
Janeiro tomar a iniciativa de anunciar a próxima abertura de um escritório da
agência norte-americana de controle de drogas no Estado, a pretexto de prestar,
às autoridades fluminenses, "consultoria" no combate ao tráfico e ao
contrabando de armas.
Perguntar não ofende.
Considerando-se que as áreas de defesa e de relações
internacionais são prerrogativa da União, e o fato de a agência norte-americana
ser federal e não estadual, não seria o caso desses convênios e acordos
passarem antes pelo crivo e aprovação do Itamaraty, do Ministério da Defesa, do
Ministério da Justiça e da Comissão de Defesa e Relações Externas da Câmara dos
Deputados?
Quando é que o Brasil vai começar a impedir ou a
controlar as atividades de agentes norte-americanos de inteligência - espiões,
leia-se, porque de outra coisa não se trata - em nosso território?
Essas áreas, tão solícitas em implorar o prestimoso
“auxílio” norte-americano, e em aparecer nos Estados Unidos, em eventos mais
"sociais" do que outra coisa, já ouviram ou conhecem o significado do
termo reciprocidade, aplicado à relação
entre estados soberanos?
Já se imaginou a Polícia Federal brasileira abrindo
um escritório nos EUA, para prestar "consultoria" à polícia
nova-iorquina no combate ao tráfico de armas?
Isso nunca ocorreria, pelo simples fato de que a
população, a imprensa, o Judiciário e o Congresso dos EUA não o aceitariam,
porque, ao menos nesse aspecto, eles têm vergonha na cara.
Vergonha, em nosso lugar, com esse tipo de atitude,
não é outra coisa que países latino-americanos - com exceção do México, cada
vez mais um estado norte-americano - vão sentir ao saber dessa notícia.
Vergonha, em nosso lugar e não outro sentimento, é
o que vão ter nossos parceiros do BRICS, ao saber dessa notícia, já que todo o
mundo sabe como os EUA agem: primeiro abrem um escritório em uma determinada
área, depois um monte de escritórios de "cooperação" em várias outras
áreas, e, depois, dificilmente dão o fora, sem
criar problemas, a não ser que sejam derrotados e escorraçados, como
ocorreu ao fim da guerra do Vietnam.
Ou alguém aqui imagina a Rússia, a Índia e a China
convidando a polícia e os órgãos de inteligência norte-americanos a instalar
escritórios e operar em seus respectivos territórios?
Não.
Eles não fazem isso, assim como não admitem que
imbecis, em seus comentários de internet, em portais russos, indianos ou
chineses, preguem a entrega de suas empresas ou de seu país aos EUA, ou
encaminhem petições de intervenção à Casa Branca, como comumente ocorre, nestes
tempos vergonhosos que vivemos, em portais e sites brasileiros.
Talvez por isso, a Rússia, a China e a Índia, sejam
potências espaciais, militares e atômicas, enquanto nós estamos nos transformando, cada vez mais, em um ridículo simulacro de
província norte-americana, apesar de sermos, com mais de 250 bilhões de dólares
emprestados, o terceiro maior credor individual externo dos EUA.
Em tempo: em sua comunicação com a imprensa, o
governo do Rio de Janeiro conclui dizendo que não pode dizer quando vai começar
a operar o escritório norte-americano em território fluminense.
O anúncio oficial da instalação não será feito por
nenhuma autoridade brasileira.
Ele será feito – incrível e absurdamente - como se
estivesse ocorrendo em território norte-americano, pelo próprio governo dos
EUA.
Nesta toada, conviria começar a pensar, com
urgência, na realização de um plebiscito para a entrega do Brasil aos Estados
Unidos.
Com isso, os bajuladores poderiam exercer seu amor
aos gringos sem precisar de visto, ou de se deslocar para Miami ou Nova Iorque.
Aprenderíamos o inglês como primeira língua, sem
necessidade de pagar as mensalidades do curso de idiomas.
E todos nós receberíamos em dólares, trabalhando e
descansando quando Deus nos permitisse, já que nos EUA não existe sequer a
obrigação de pagar férias remuneradas, por exemplo.
A questão é saber, se, juntamente com as riquezas e
o território brasileiros, os EUA, tão ciosos de sua nacionalidade - aceitariam
receber, sob sua bandeira, a "estirpe" de invertebrados morais,
hipócritas, entreguistas, submissos e antipatrióticos em que estamos nos
transformando.
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