por Narciso Alvarenga Monteiro de
Castro* // http://www.conversaafiada.com.br/
Em 14 de junho de 2012 foram
comemorados os trinta anos do fim da Guerra das Malvinas entre o Reino Unido e
a República Argentina, que, como todos sabem, terminou com a rendição dos
soldados argentinos em Porto Stanley.
Foi a primeira “guerra tecnológica”
e precedeu outra, a Guerra do Golfo, onde os artefatos high-tech puderam ser
demonstrados aos olhos do mundo e em tempo real.
Para nós, brasileiros, as lições
mais importantes do conflito, além de testemunhar o heroísmo dos soldados
portenhos e principalmente de seus pilotos de caça, foram: os Estados Unidos (e
de resto a Europa) se alinham automaticamente aos seus e um submarino de
propulsão nuclear deixa fora de ação toda uma esquadra convencional.
Um pouco antes, a Marinha do
Brasil já ensaiava os primeiros passos buscando o domínio do ciclo atômico, com
os Almirantes Maximiano da Fonseca, Mário Cezar Flores, Álvaro Alberto e,
principalmente, o Vice-Almirante Dr. Othon Luiz Pinheiro da Silva.
Para um país de larga extensão
costeira, fica claro que a estratégia baseada na dissuasão é a mais eficaz. Os
primeiros submarinos da esquadra foram adquiridos em 1914 de procedência
italiana. A tradição de construção de navios em nossas terras vem antes de
1808, com a chegada de D. João VI e nunca foi interrompida, apesar dos altos e
baixos.
Hoje, o país pode se orgulhar de
dominar a sensível tecnologia da construção de submarinos ou submersíveis,
adquirida da Alemanha. Mais recentemente, um acordo estratégico assinado com os
franceses deu um passo além: a aquisição de tecnologia para projetar
submarinos, que ao final, capacitará o país a lançar o seu primeiro submarino
de propulsão nuclear.
Um submarino convencional é
movido a motor diesel e baterias. Segundo o Contra-Almirante Othon tal
embarcação não passa de um jacaré ou uma foca, fácil de ser abatida. A
explicação é simples. Para submergir, os motores precisam ser desligados, pois
produzem gás, que não teria como ser expelido devido a maior pressão.
Então, o tempo que um submarino
convencional pode ficar escondido (stealth) é o tempo de duração de suas
baterias, uns poucos dias. Ao subir à superfície, para recarregar as baterias e
o ar, pode ser facilmente abatido, pois, além disso, é muito lento.
Um submarino de propulsão nuclear
pode ficar meses embaixo da água, o tempo que os seus tripulantes aguentarem
sem sofrer um colapso nervoso. É muito mais rápido, devido ao seu propulsor, um
reator atômico, que utiliza urânio enriquecido a 20%, o U-235.
Fica clara a opção escolhida
pelos que pensaram a Estratégia Nacional de Defesa (que não pode ser separada
da Estratégia Nacional de Desenvolvimento).
Somente cinco países constroem
submarinos com propulsão nuclear: Estados Unidos, Reino Unido, França, China e
Rússia, todos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Apenas três países dominam todo o
ciclo do combustível atômico e possuem reservas de urânio: os Estados Unidos, a
Rússia e o Brasil.
Nosso país tem mais de 300 mil
toneladas de urânio em suas jazidas, sendo que somente um terço delas foi
prospectada. O consumo hoje é de mil toneladas/ano, o que seria suficiente para
mais de 300 anos de fornecimento.
O Brasil na década de 80 assinou
um tratado de salvaguardas com seu vizinho argentino. Foi um tratado
equilibrado, pois previa reciprocidade. Muitos anos depois, foi obrigado a
assinar um tratado de não proliferação nuclear, no final do governo de Fernando
Henrique, visivelmente desequilibrado, pois só previu obrigações para o lado
brasileiro, sem nenhuma contrapartida das grandes potências.
Tentam fazer que o país assine um
“protocolo adicional” que pode significar que o país abra sua tecnologia
nuclear aos estrangeiros. Nenhum país do mundo fornece ou vende tecnologia
nuclear sensível, como ficou claro no acordo nuclear Brasil-Alemanha na década
de 70 do século passado, aliás, ainda em vigor.
Por tudo isso, soa muito estranha
a prisão do Vice-Almirante R1 Othon Luiz, ocorrida na chamada 16a fase da
Operação Lava Jato, por supostos recebimentos de 4,5 milhões de reais, na
construção da Usina Angra 3.
Othon já foi investigado pelas
próprias Forças Armadas e foi inocentado na década de 90, sendo certo que
diversos comandantes militares não simpatizavam com seus projetos ou seus
métodos.
Some-se a isto, a campanha contra
a Petrobrás, que estava em franca expansão com as descobertas do Pré-sal, bem
como a prisão do Presidente da Odebrecht.
O desenvolvimento do reator que
equipará o subnuc brasileiro vai sofrer atrasos e os vinte técnicos terão que
ser remanejados com o contingenciamento das verbas, devido a intensa campanha
da mídia, que acompanha o desenrolar da Operação Lava Jato.
O projeto do VLS (veículo
lançador de satélites) vem sofrendo constantes abalos e até suspeita de
sabotagem. O moderno avião transporte de cargas e tropas, o KC-390 da Embraer,
também sofrerá atrasos, devido ao ajuste fiscal do governo Dilma.
É inconcebível que um suposto
combate à corrupção possa conduzir ao desmonte em programas estratégicos da
nação. Seria até risível se pensar que americanos, russos ou franceses
encarcerariam seus heróis, seus cientistas mais proeminentes, ainda que
acusados de supostos desvios.
Portanto, somente aos
estrangeiros ou seus prepostos no país, pode interessar o atraso ou o fim dos
programas estratégicos brasileiros. É mais que hora de uma intervenção do
governo ou, no mínimo, uma supervisão bem próxima da nossa Contra Inteligência
para a verificação do que realmente está por trás das investigações da PF (FBI?
CIA?), MPF e dos processos a cargo da 13a Vara Federal de Curitiba.
*Juiz de Direito do TJMG
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12