O comportamento criminoso dos
executivos do FMI não é um obstáculo para a sua seleção. Pelo contrário, foram
escolhidos porque refletem os valores da elite
James Petras // www.cartamaior.com.br
O FMI é a principal organização
monetária internacional cujo objetivo público é manter a estabilidade do
sistema financeiro global através de empréstimos relacionados com propostas a
promover a recuperação econômica e o crescimento.
Na realidade, o FMI tem estado
sob o controle dos EUA e dos estados da Europa Ocidental e as suas políticas
têm sido concebidas para aumentar a expansão, o domínio e os lucros das suas
principais empresas multinacionais e instituições financeiras.
Os EUA e os estados europeus
praticam uma divisão de poderes: os diretores executivos do FMI são europeus;
os seus homólogos no Banco Mundial (BM) são norte-americanos.
Os diretores executivos do FMI e
do BM funcionam em estreita ligação com os seus governos e, em especial, com os
departamentos do Tesouro, para decidir prioridades, para decidir quais os
países que vão receber empréstimos, quais as suas condições e quanto.
Os empréstimos e condições
estabelecidos pelo FMI são estreitamente coordenados com o sistema bancário
privado. Quando o FMI assina um acordo com um país devedor, isso é um sinal
para que os grandes bancos privados emprestem, invistam e avancem com uma série
de transações financeiras favoráveis. Pelo acima exposto, pode-se deduzir que o
FMI desempenha o papel de comando geral para o sistema financeiro global.
O FMI abre o caminho para os
principais bancos conquistarem os sistemas financeiros dos estados vulneráveis
em todo o mundo.
O FMI assume o fardo de fazer
todo o trabalho sujo através da sua intervenção. Isto inclui a usurpação da
soberania, a exigência de privatizações e a redução das despesas sociais, dos
salários e das pensões, assim como a garantia da prioridade do pagamento da
dívida. O FMI atua como uma 'cortina' dos grandes bancos, desviando a crítica
política e o desassossego social.
Diretores executivos como
capangas
Que espécie de pessoas têm os
bancos como diretores executivos do FMI? A quem confiam a tarefa de violar os
direitos de soberania dum país, de empobrecer o seu povo e de corroer as suas
instituições democráticas?
A lista inclui um vigarista
financeiro condenado; a atual diretora, que está a ser julgada por acusações de
má utilização de fundos públicos, enquanto ministra das Finanças; um violador;
um defensor da diplomacia da canhoneira e o promotor do maior colapso
financeiro na história de um país.
Diretores executivos do FMI em
tribunal
A atual diretora executiva do FMI
(julho 2011-2015), Christine Lagarde, está a ser julgada na França, por negligência
quanto a um pagamento de 400 milhões de dólares ao magnata Bernard Tapie,
quando era ministra das Finanças no governo do presidente Sarkozy.
O anterior diretor executivo
(novembro 2007-maio 2011), Dominique Strauss-Kahn, foi forçado a demitir-se depois
de ser acusado de estuprar uma empregada de quartos num hotel de Nova Iorque e
foi posteriormente preso e julgado por proxenetismo na cidade de Lille, em
França.
O seu antecessor, Rodrigo Rato
(junho 2004-outubro 2007), era um banqueiro espanhol que foi preso e acusado de
evasão fiscal, escondendo 27 milhões de euros em 70 bancos ultramarinos e
defraudando milhares de pequenos investidores a quem convenceu a pôr dinheiro
num banco espanhol, o Bankia, que foi à falência.
O seu antecessor, alemão, Horst
Kohler, demitiu-se depois de ter afirmado uma verdade inadmissível –
nomeadamente, que a intervenção militar ultramarina era necessária para
defender os interesses económicos alemães, como vias de comércio livre. Uma
coisa é o FMI agir como instrumento dos interesses imperialistas, outra coisa é
um executivo do FMI falar sobre isso publicamente!
Michel Camdessus (janeiro
1987-fevereiro 2000) foi o autor do "Consenso de Washington", a
doutrina subjacente à contra-revolução neoliberal global. O seu mandato
assistiu ao apoio e financiamento de alguns dos piores ditadores da época,
incluindo as suas fotos com o general Suharto, o homem forte e o assassino de
massas da Indonésia.
Com Camdessus, o FMI colaborou
com o presidente da Argentina, Carlos Menem, na liberalização da economia, na
desregulamentação dos mercados financeiros e na privatização de mais de mil
empresas. As crises, que se seguiram, levaram à pior depressão da história da
Argentina, com mais de 20 mil falências, 25% de desemprego e taxas de pobreza
acima dos 50% em bairros da classe trabalhadora… Camdessus, posteriormente,
lamentou os seus "erros políticos" em relação ao colapso da
Argentina. Nunca foi preso ou acusado de crimes contra a humanidade.
Conclusão
O comportamento criminoso dos
executivos do FMI não é uma anomalia nem obstáculo para a sua seleção. Pelo
contrário, foram escolhidos porque refletem os valores, os interesses e o
comportamento da elite financeira global: vigarices, evasão fiscal, suborno,
transferências em grande escala de riqueza pública para contas privadas, são a
norma para a instituição financeira. Estas qualidades adequam-se à necessidade
que os banqueiros têm de confiar nos seus homólogos "sósias" no FMI.
A elite financeira internacional
precisa de executivos no FMI que não hesitem em usar padrões duplos e que
passem por alto as grosseiras violações dos procedimentos usuais. Por exemplo,
a atual diretora executiva, Christine Lagarde, empresta 30 mil milhões de
dólares ao regime fantoche na Ucrânia, apesar de a imprensa financeira
descrever com grande pormenor como os oligarcas corruptos roubaram milhares de
milhões, com a cumplicidade da classe política ( Financial Times, 12/21/15, pg.
7). A mesma Lagarde muda de regras quanto ao reembolso da dívida [NR] ,
permitindo que a Ucrânia não cumpra o pagamento da sua dívida soberana à
Rússia. A mesma Lagarde insiste que o governo grego de centro-direita reduza
ainda mais as pensões na Grécia, abaixo do nível de pobreza, levando a que o
regime acomodatício de Alexis Tsipras apele ao FMI para se manter fora do
resgate ( Financial Times, 12/21/15, pg.1).
Evidentemente, o corte selvagem
dos padrões de vida, que os executivos do FMI decretam por toda a parte, não
deixa de estar ligado à sua história pessoal criminosa. Violadores, vigaristas,
militaristas, são as pessoas certas para dirigirem uma instituição que
empobrece 99% e enriquece 1% dos super-ricos.
Créditos da foto: reprodução
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