quinta-feira, 14 de abril de 2016

Crônica de um golpe anunciado, por Wagner Gonçalves

Crônica de um golpe anunciado, por Wagner Gonçalves // http://jornalggn.com.br/
Estamos assistindo, estarrecidos, uma pantomima na Câmara dos Deputados. São gestos e expressões faciais que dizem mais que as palavras.  A galope, corre o impeachment, e, a passos de tartaruga, o procedimento aberto na Comissão de Ética para cassar um príncipe maquiavélico. Este, destemido, ponta de aríete do complô, com denúncia aceita e pedido de afastamento no Supremo Tribunal Federal, faz o jogo aberto e de cartas marcadas. É preciso pedalar por cima da Presidente da República. “É preciso anular seus 54.511.000 votos e reduzir o Estado Democrático de Direito ao direito que nos interessa”. “É preciso acabar com o Lula, porque senão ele volta em 2018”. “É preciso garantir o aparente direito de defesa, para maquiar a nulidade que estamos forjando. ” Tudo vale a pena, quando a pena recai sobre a outra ou o outro.   

Escudado na demora da Corte Suprema em analisar seu afastamento e com apoio maciço da “grande mídia”, que de grande só tem a parcialidade, age com a desenvoltura dos inconsequentes, já que outros, muitos outros, lhe estão a incensar a ambição, o poder e sua “própria inocência”. Estes, nos quartos sombrios e malcheirosos das conspirações, quedam-se em silêncio aparente, porque já se teve início a violação planejada. Não importa mais nada. Nem o ódio incensado no País, nem as divisões entre familiares, amigos, nem os ataques desvairados contra artistas por suas posições políticas, nem agressões em restaurantes e nas ruas, nem uma única fala lúcida da oposição contra o radicalismo; contra atos violentos a representantes do Governo Dilma, nem contra profissional que se nega a atender paciente, ao argumento de ela ser “petista”. Petistas hoje, se não estiverem juntos, correm risco de morte. Assim, chega a ser “compreensível” que o ex-Presidente Lula seja levado, coercitivamente, a depor “em um aeroporto para seu próprio benefício”. (sic)
Assiste-se agora o retrato do ódio na esplanada dos Ministérios. Uma cerca divide o “território”. De um lado, ficarão aqueles que apoiam o impeachment; de outro, os que entendem ser um golpe. Joga-se o País num conflito de consequências imprevisíveis. Que oposição é essa? Quer cadáveres na Esplanada? Será possível conter os ânimos, qualquer que seja o resultado? A direita-facista, na época da ditadura, forjou atentados, atribuindo-as à esquerda? Lembram-se do “Riocentro”?  Isso não pode acontecer de novo? A quem interessa o quanto pior, melhor?
O príncipe já disse que se o impeachment não passar, Dilma não governa. Tem ainda nas mãos mais de oito pedidos. É ele o senhor da conveniência e oportunidade na apreciação das solicitações.   De outro lado, ataques constantes são feitos para anular nomeações de Ministros, num momento crucial para a governabilidade. Procuram-se filigranas jurídicas, verdadeiras pérolas de irrazoabilidade. 
Quais os limites dos conspiradores? Cadáveres nas praças do País? Ou pensam em chamar os militares? Aliás, muitos já os estão chamando para o enterro final do Estado Democrático de Direito. Um golpe sabe-se como começa, mas nunca se sabe como termina.
Wagner Gonçalves - Advogado, Ex-Subprocurador-Geral da República, Ex- Procurador Federal dos Direitos do Cidadão do MPF, Ex-Presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República.

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