Essa legislatura da Câmara dos Deputados é certamente uma das piores da história desta atual etapa democrática. A direita fisiológica e corrupta nunca teve tantos parlamentares como agora. E o campo progressista nunca foi tão mal representado.
É preciso ter claro que isso não aconteceu por destino. Nos governos Lula e Dilma, em nome da governabilidade, o campo progressista se apequenou. Foi negociando pautas, recuando em posições históricas e permitindo que pessoas absolutamente oportunistas e sem caráter fossem dominando a cena não só à direita como também à esquerda.
Em 2002, por exemplo, PT, PCdoB, PDT e PSB eram muito melhores do que hoje e tinham quadros mais respeitados dentro e fora de suas agremiações.
Parte dessas lideranças estava no Congresso e tinha interlocução com a representação de direita. Mas, ao mesmo tempo, isso não os fazia se tornar de direita. Não foi o que aconteceu no último período.
Hoje o PSB é um partido de centro-direita. Na Câmara dos Deputados sua representação é horrível. Muitos são da bancada BBB (Bíblia, Boi e Bala) e pouquíssimos reivindicam ideias de esquerda.
O PDT é um partido em zigue-zague. Melhorou com a filiação de Ciro Gomes porque passa a ter um candidato com chances na disputa presidencial e Ciro é notadamente um político de posições majoritariamente progressistas.
Já o PT da Câmara é um quase desastre perto do que foi. Sua bancada é formada praticamente por vereadores nacionais. Gente que se elegeu com base em redutos e por conta de máquinas locais. E por isso os deputados mais ideológicos que restaram têm muita dificuldade em liderar e representar o partido na Casa.
O PCdoB ainda mantém uma certa unidade, mas também teve diminuída sua qualidade na representação. Tanto que na última janela partidária perdeu dois deputados jovens para a Rede. E um deles votou a favor do impeachment da presidenta Dilma.
Como em política não há espaço vazio, com esse esfarelamento dos partidos progressistas, a direita foi avançando até se consolidar numa das lideranças mais mafiosas da história do Congresso, Eduardo Cunha.
O período Cunha na Câmara ainda será motivo de muitos estudos. Porque ele não impôs uma ideologia ou a maioria de um campo na direção da Casa. Na base da chantagem e do suborno, como começa a ficar claro nas últimas delações, foi exercendo um papel de ditador num espaço de representações.
Cunha era isso e não podia ser diferente, mas esse foi o seu grande veneno diário, uma água profana, que lhe destruiu pelas tripas.
Quando Cunha foi afastado pela PGR ele já começava a se tornar um pato manco. Alguém muito menor do que tinha sido no primeiro semestre de 2015. E com um número de inimigos muito grande para liderar a Casa.
A vitória de Rodrigo Maia por expressiva diferença sobre Rogério Rosso numa votação secreta é expressão disso. O Cunhismo, que teve o apoio do presidente golpista Michel Temer, foi derrotado porque já não interessava mesmo nem a parte do tal Centrão, vítima de chantagem.
E o campo progressista acabou se alinhando a Maia no segundo turno porque está na bacia das almas. Busca ser uma minoria que tenha qualquer interlocução com o novo presidente da Casa.
Maia representa uma direita mais ideológica. E que se por um lado é melhor do que a simplesmente corrupta, por outro, será mais profissional para defender as reformas liberais que assustam trabalhadores e o movimento social.
Não se pode imaginar que Maia vai tirar da pauta, por exemplo, as reformas da Previdência e a Trabalhista. Mas talvez ele não encaminhe CPIs persecutórias como a da UNE e a da CUT. E por este motivo não se pode igualá-lo a Cunha e mesmo a Rosso.
O momento não é duro. É duríssimo. Quando há quem se reivindique progressista comemorando a vitória do Demo sobre o Coisa Ruim é porque o fundo do poço já ficou pra trás faz tempo. Esse é o momento atual.
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Com a vitória de Maia quem mais sai fortalecido é Aécio Neves, que trabalhou o tempo todo para que ele fosse o vitorioso. Aécio já tinha indicado Maia para ser o líder do governo Temer, mas na época perdeu a disputa para o Centrão.
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O PT fez um papel ridículo ao apoiar Marcelo Castro no primeiro turno da Câmara e foi triturado nas redes sociais por conta disso na noite de ontem. Menos por Castro, que votou contra o impeachment, e mais pelo fato de ele ser do PMDB. Mas uma verdade que ficou escondida é que o PCdoB não fez nada mais digno ao lançar Orlando Silva à presidência da Casa. Orlando só foi candidato para favorecer Maia. Já que havia a preocupação de que, se os deputados do PCdoB votassem em Castro já na primeira votação, ele fosse para o 2° turno e Maia não. Tanto que nos seus agradecimentos, Maia separou honrarias especiais a Orlando e Aldo, a quem só faltou chamar de grande líder.
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