Quando o senador Hélio José (PMDB-DF), mais conhecido como Hélio Gambiarra, foi flagrado em gravações divulgadas na internet e até no Jornal Nacional dizendo "isso aqui é nosso; isso aqui eu ponho quem eu quiser, a melancia que eu quiser aqui eu vou colocar" referindo-se ao cargo de superintendente da Secretaria de Patrimônio da União no qual tentava emplacar Francisco Nilo Gonsalves Júnior, ex-assessor do seu gabinete, me lembrei imediatamente de uma história da Roma Antiga, segundo a qual o imperador Calígula gostava tanto do cavalo Incitatus que, além de brindá-lo com toda a mordomia disponível – 18 criados, colares de ouro no pescoço, mantas da cor púrpura (privilégio real) para dormir – ainda por cima tentou nomeá-lo senador, o que só não fez porque o mataram antes.
Não sei o que é mais esdrúxulo, se nomear cavalos para o Senado ou melancias para a superintendência de órgãos públicos, mas acho que uma coisa tem a ver com outra, pois somente senadores-Incitatus seriam capazes de cogitar nomear uma fruta para se gabarem do poder que usufruem, poder que deriva do fato de estar em suas mãos a decisão de aprovar ou não um impeachment que envergonha os que ainda não perderam a noção do que é certo e do que é errado, do que é democracia e do que é macartismo.
Embora a maioria dos Incitatus do Senado não se manifeste frequentemente à luz do dia (Gambiarra foi grampeado), daí a dificuldade em identificá-los um por um, alguns deles não se importam em expor suas ideias cavalares em público, para centenas de milhares de leitores, em vez de se limitarem a permanecer em suas cocheiras, bem-comportados, rédeas postas, viseiras nos olhos e a sela sempre preparada para serem montados.
O caso mais recente é o de um político que até há pouco tempo gozava de certo prestígio e que ocupou alguns cargos de alta responsabilidade, como o governo do Distrito Federal e o ministério da Educação, do qual foi exonerado por telefone, fato que foi exaustivamente citado por ele como prova do pouco apreço que o então presidente Lula demonstrara por ele, mas que, diante dos fatos agora conhecidos soa mais como privilégio.
Ele passou a integrar, com todas as honras a bancada Incitatus ao justificar, de forma extremamente peculiar sua opção de acompanhar a manada que deseja o impeachment-já, sem perder a ternura jamais, que poderia ser chamada de "voto Fernando Morais", depois de declarar no primeiro turno ter dúvidas no que votaria no segundo.
O consagrado escritor best-seller resolveu, na semana passada divulgar publicamente sua decisão de devolver um prêmio literário que tinha recebido do governo do Distrito Federal e das mãos de Cristovam, alegando que não queria nada "de um golpista".
Foi a deixa que Cristovam esperava para colocar de pé seu ovo de Colombo. "Essa turma do PT confunde partido, governo e Estado" disse ele, orgulhosamente, em entrevista à Veja, onde aparece todo pimpão numa foto em que tenta passar uma imagem inteligente, ignorando o fato de que Fernando Morais foi do PMDB, cuja carteirinha rasgou, também em público, mas nunca se filiou ao PT. Mas garantiu a sua inscrição na imensa bancada Incitatus ao afirmar, mais adiante: "Perdi as dúvidas que tinha". Quanto ao fato de ser golpista, não reclamou.
E assim, de melancia em melancia, de Fernando Morais em Fernando Morais, a bancada Incitatus vai colocando no poder um novo Calígula, cujo reinado também foi curto, mas inesquecível, graças à maldade ilimitada e às perdas e danos que infringiu à população.
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