terça-feira, 11 de outubro de 2016

Ser ou não ser, eis a questão do PT

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Ser ou não ser, is a questão do PT. 25248.jpegOs recentes pronunciamentos de Olívio Dutra, Tarso Genro e Luciana Genro condenando a corrupção entre membros da esquerda brasileira, principalmente no PT, serviram basicamente para levar mais água ao moinho da direita.

Basta ver o destaque que a mídia golpista deu agora aos pronunciamentos desses personagens, em outras oportunidades quase sempre ausentes das páginas dos jornais e dos espaços do rádio e televisão.

Não significa isso que alguém seja a favor da corrupção, mas isolar esse fato do seu contexto político e social, só serve aos interesses da direita.

Obviamente os três políticos citados, todos com um passado exemplar, não são neófitos no trato com os meios de comunicação e devem saber muito bem como a técnica jornalística manipula os pensamentos mais complexos para reduzi-los a uma manchete que atenda aos seus interesses.

Assim, por exemplo, a longa e correta exposição de Olívio sobre os erros cometidos pela direção no PT, depois que o partido chegou ao poder, ficou reduzida a uma frase: Olívio disse que o PT merece uma lambada.

Tarso, um pensador com análises complexas sobre a realidade nacional, se transformou apenas num crítico das práticas petistas e alguém que quer ver Lula longe do partido.

Luciana é quase tão adversária do PT, partido que a lançou na política, quanto o pessoal do PSDB, segundo a mídia ao "copidescar" seus pronunciamentos.

É claro, que são reduções drásticas do que pensaram e disseram, mas é assim que funcionam os meios de comunicação. São redutores de qualquer pensamento um pouco mais articulado, para facilitar o entendimento de seus leitores, no caso dos jornais e quase primários, quando transpõem o que dizem os políticos para a linguagem da televisão.

É preciso deixar bem claro que o procedimento dos políticos corruptos deve ser separado das instituições que representam. No caso de partidos políticos é preciso saber o que pregam nos seus programas sob pena de destruir o que ainda restam das instituições democráticas do País e não apenas o comportamento dos seus membros.

Condenar os políticos corruptos do PT não deve significar a condenação do partido, embora seja isso exatamente o que a direita pretende hoje no Brasil com o apoio da mídia, do judiciário e do parlamento.
Nessa hora de grandes decisões, não é justo que políticos de esquerda possam dar armas aos inimigos.
Cabe a eles não aceitar formas atenuantes do tipo "sou da ala honesta do PT". É preciso assumir o partido como um todo, onde, como em todas as instituições, existem os bons e os maus, os honestos e os corruptos.

O que importa é saber qual o projeto do PT (e por extensão o PSOL e outros partidos de esquerda) em oposição aos projetos golpistas do PMDB e PSDB, por exemplo.

Não podem os políticos de esquerda seguir aquela postura que Slajov Zizek condena, tipo o sujeito que fuma cigarros eletrônicos, bebe Coca-Cola light ou só toma café descafeinado. Se somos fumantes ou viciados em refrigerantes e café, devemos aceitar nossos vícios e aproveitar o prazer que eles possam dar e assumir os prejuízos que trazem.

Não interessa ao PT discutir a questão ética nesse momento, não porque ela não seja importante, mas porque a questão atual é política e não ética.

É preciso entender as razões que motivaram o golpe para melhor combatê-las.

Quem quer pautar uma discussão ética nesse momento são os meios de comunicação, da forma mais elementar possível e limitada apenas à questão de quem é honesto e quem não é.

Para isso montaram tribunais de exceção que operam com uma lógica invertida: todos são culpados até que provem que são inocentes.

Cabe aos partidos de esquerda recolocar a discussão sob a ótica da política, a única que poderá sustentar o pouco que ainda temos de democracia no Brasil.

Nesse momento, assumir a esquerda e seu mais importante partido, o PT, como um todo, com seus erros e acertos é um risco político, mas é o que se espera dos que firmaram o compromisso de lutar pelos direitos do povo brasileiro.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

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