sexta-feira, 28 de outubro de 2016

TCU autoriza Tesouro e BNDES a cometerem imbecilidades, por J. Carlos de Assis

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Movimento Brasil Agora

TCU autoriza Tesouro e BNDES a cometerem imbecilidades

por J. Carlos de Assis

O Tribunal de Contas da União, órgão burocrático do Congresso que se tornou na bagunça institucional brasileira a maior autoridade nacional em impeachment, caminha para se tornar também a maior autoridade em finanças bancárias imbecis. Isso caso seja aprovado o voto do relator, Raimundo Carreiro, pelo qual o banco fica obrigado a devolver ao Tesouro, sem problemas legais, R$ 100 bilhões de empréstimos que este último lhe concedeu em 2009 e 2010 para financiar uma economia fortemente atingida pela crise internacional.

Não gosto de festejar medidas estúpidas quando afetam milhares de empregos dependentes de múltiplas cadeias produtivas na economia, principalmente desempregados e suas famílias. Seria melhor que não acontecessem. Diante desta, porém, minha primeira reação foi: que se fodam! Esses R$ 100 bilhões a serem devolvidos ao Tesouro mergulharão no buraco negro da dívida. Serão esterilizados depois de retirados da economia real através do BNDES. Primeiros prejudicados serão a base golpista de Temer, os quase falidos empresários paulistas.

O BNDES, que em 2009 e 2010 teve cerca de R$ 180 bilhões do Tesouro para contrabalançar a terrível contração de crédito derivada da crise mundial iniciada em 2008, foi o principal responsável, com seu programa de financiamentos, pela recuperação da economia da contração em 2009 e pela posterior expansão de 7,5% em 2010, um espanto para todo o mundo. Agora o governo Temer tem a autorização do TCU para fazer a política inversa: tirar de uma economia em forte processo de contração por dois anos mais de R$ 100 bilhões!

Se eu tivesse a retórica do senador Requião, lembrando Tancredo, diria: “canalha, canalha, canalha”. Só um rematado canalha pode fazer algo parecido. A rigor, porém, a questão não é de canalhice. É de burrice. Tenho comentado com camaradas da sombria profissão de economista que Henrique Meirelles não é mau sujeito. Lula gostou muito dele, fez dele seu presidente de Banco Central. Dilma flertou com ele. Nem Lula nem Dilma tratariam com um canalha. Contudo, o equipamento intelectual de ambos não estava preparado para avaliar um imbecil em economia.

A desgraça é que somos reféns dele. Alguém que tenha tido a ousadia de propor algo tão idiota, ao mesmo tempo que mortalmente perigoso para a economia e a sociedade, como a PEC-241 (agora PEC-55 no Senado), tem que ser levado a sério. Principalmente quando amparado na certeza de que terá mais de 300 capachos também imbecis na Câmara, que não entendem nada de economia, e, que, como dizia Lula nos bons tempos, são capazes de vender até a mãe por um cargo público ou por uma emenda parlamentar no governo.

Veremos como se desenvolverá essa pantomima. Quando à devolução de dinheiro do BNDES ao Tesouro os assessores mais espertos da Fiesp, da Firjan e de outras entidades empresariais acabarão por acordar e correr a Brasília, com suas malas pretas, para tentar impedir a consumação da imbecilidade, não por espírito público mas cuidando dos próprios bolsos. Já a PEC-55 está nas mãos do Senado. Estou convencido de que haverá número suficiente de senadores para reverter as extravagâncias da Câmara. Na próxima semana, o Movimento Brasil Agora fará um seminário a respeito na UnB, em Brasília, voltado sobretudo para o esclarecimento suprapartidário dos senadores a respeito dela.
J. Carlos de Assis - Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ.

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