Foi a gota d´água. Depois da aprovação sob pressão do Governo da PEC da Morte, e da tentativa de aprovar a toque de caixa na Câmara a chamada reforma da previdência, configurou-se a definitiva ruptura entre a dupla Temer/Meirelles e o povo brasileiro. Agora só resta empurrar ambos ladeira abaixo lhes cabendo apenas, nesse que promete ser o fim do festim do capital financeiro especulativo, recorrerem ao amparo pelos seus patrões banqueiros, estes com os quais a Nação também em breve fará um acerto de contas.
Como observa o senador Roberto Requião, temos sido até aqui, já há muito tempo mas de forma acentuada no governo de Michel Temer, servos do dinheiro ou, como diz a Bíblia, servos de Mamon. O Brasil não se reerguerá da crise profunda em que se encontra, mesmo porque a essência dessa crise está sendo forjada pelo próprio Governo, sem implantar em caráter de urgência um plano econômico de emergência que reverta em questão não de meses, mas de dias, a situação dramática em que se encontra.
É claro que não pode haver plano de emergência aplicado pelos próceres do Governo atual. Eles o desfigurariam e o venderiam à Febraban, como fizeram com leis e medidas provisórias vendidas a empreiteiros e outros grupos de interesse, confessadamente, nas delações da Odebrecht. O problema já não é mais quando Temer deve sair, mas como deve sair. E, sobretudo, como encaminhar a sucessão. Os atuais presidentes da Câmara e do Senado são suspeitos. Não podem conduzir um processo de eleições diretas.
Para que o poder da República não caia nas mãos de uma autoridade não eleita, como é o caso da ministra Carmen Lúcia, é fundamental que Senado e Câmara, em regime de urgência, antecipem as eleições dos presidentes do Congresso. Eles então convocariam eleições gerais em três meses, para reestruturar completamente a superestrutura política brasileira, estabelecendo também previamente uma legislação eleitoral que compatibilize democracia com as necessidades materiais e morais da Nação.
No Senado, a meu ver, há nomes dignos para assumir a presidência da Casa, mas nenhum como o senador Roberto Requião, que reúne lealdade não corporativa, coragem e competência específica em economia. Na Câmara há a jovem liderança de Leonardo Quintão, vice líder do PMDB, que tem na biografia o ativo de ter sido derrotado para a liderança por Eduardo Cunha. Esses dois líderes poderiam reger a transição, conjuntamente, a partir de um plano econômico que o senador Requião já anunciou publicamente como sugestão ao Governo – e que foi felizmente ignorado, pois caso contrário o Governo o teria negociado.
Obviamente, as sugestões ideais que faço, na qualidade de cidadão, só se justificam como algo realizável em face da gravidade da crise. Que os pusilânimes e os distraídos – não os corruptos, estes não tem salvação – tragam na mente a imagem da marginalidade armada descendo dos morros e das periferias do Rio de Janeiro e de São Paulo para dar cobertura aos miseráveis criados pelo Governo Temer em assaltos a supermercados. Não pensem que as poltronas do Senado são uma zona de conforto. Na convulsão social iminente, pessoas e famílias correm riscos. Inclusive aqueles que discutem o sexo do anjo enquanto as muralhas de Constantinopla são postas abaixo.
Tendo participado da elaboração do plano sugerido pelo senador Requião, tomo a liberdade de indicar suas linhas gerais, ancoradas inteiramente no New Deal e no Novo Plano alemão dos anos 30: 1) retomada imediata de investimentos públicos para a recuperação da Petrobrás e da cadeia do petróleo, anulando a recente privatização retalhada da empresa; 2) retomada também imediata dos investimentos públicos em logística e em construção habitacional com projetos já definidos; 3) anulação das dívidas dos Estados junto ao Governo Federal, condicionado a investimentos de infraestrutura e serviços públicos essenciais.
É claro que há muito mais, mas isto é a essência. Tendo em vista o terrorismo que os servidores de Mamon fizeram com a questão do déficit e da dívida pública, convém explicar aos que tem boa fé que, em depressão, o déficit público não é apenas tolerável, mas absolutamente necessário para a recuperação da economia. Quanto ao eventual impacto da retomada do crescimento no balanço de pagamentos, podemos utilizar o imenso volume de cerca de 370 bilhões de dólares que temos em reservas. Claro, podemos fazer tudo isso. Mas jamais poderíamos continuar pondo esse dinheiro todo nas mãos de Temer e de Meirelles.
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