quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Acadêmicos norte-americanos repudiam presença de Moro nos EUA

Professores, intelectuais e estudantes fazem duras críticas à participação do juiz Sérgio Moro em evento de universidade
Fania Rodrigues

                Brasil de Fato / https://www.brasildefato.com.br/

Sociólogo brasileiro, Felippe Ramos (à direita), questiona Moro sobre possível politização de processos judiciais / Reprodução do Youtube

Não é novidade que o juiz federal Sergio Moro seja convidado para palestras nos Estados Unidos e que manifestantes realizam protestos para repudiar sua presença. Mas um fato novo aconteceu nesta segunda-feira (6) em um evento realizado na Universidade de Columbia, em Nova York. A presença do juiz responsável pela Operação Lava Jato foi questionada também no meio acadêmico estadunidense. Os organizadores do debate realizado ficaram surpresos com a forte reação de professores e alunos dos Estados Unidos, que criticaram a presença do juiz em abertura de evento promovido pela Universidade de Columbia e pela New School for Social Research. 
As reações mais fortes vieram de professores e estudantes da New School, que tem tradição progressista. Em entrevista à imprensa brasileira, a professora de Filosofia Nancy Fraser, uma das mais respeitadas intelectuais e acadêmicas de New School, criticou abertamente o evento. “Estou muito chateada com tudo isso, este evento não tem um debate universitário, representa apenas um lado”, afirmou a filósofa. Na Universidade de Columbia, também houve críticas por parte de professores, que expressaram ao próprio Sérgio Moro, durante o debate, seus questionamentos em relação à condução da Operação Lava Jato. 

“Essa reação da academia a gente não esperava. A presença de Sergio Moro sempre gera polêmica e a intenção era essa. O Moro acaba sendo símbolo de várias questões polêmicas, de setores da direita. Em geral a academia americana é a mais à direita”, afirma um dos organizadores do evento, Gustavo Azenha, diretor do Lemann Center for Brazilian Studies Columbia, em entrevista ao Brasil de Fato.

Segundo Azenha, outras pessoas foram convidadas para debater temas relacionados à democracia, combate à corrução e à Operação Lava Jato, em dois dias de evento (o primeiro deles realizado na Universidade de Columbia e o segundo na New School). A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) também foi convidada a participar, mas não pôde comparecer. O procurador da Lava Jato Paulo Roberto Galvão também fará uma participação.

Durante o evento, professores e alunos também tiveram a chance de fazer perguntas a Sérgio Moro. No microfone aberto o juiz foi questionado sobre uma possível ligação com agências de inteligência americanas. Outra pergunta incômoda foi quando uma pessoa do público questionou se ele achava pertinente um juiz ficar falando abertamente em eventos de temas que impactam no caso da Lava Jato. E também teve que responder sobre possível cerceamento da defesa e dos advogados do ex-presidente Lula e comentar a foto em que aparece sorrindo ao lado do senador Aécio Neves (PSDB).

O sociólogo Felippe Ramos, que mediou o debate, explica que não era um evento em homenagem ao juiz de Curitiba. “Era um debate onde ele teve de responder perguntas críticas. Em uma das questões que formulei questionei a politização dos processos da Lava Jato. Também perguntei sobre a instabilidade institucional devido ao aumento do conflito entre os poderes, resultado da Lava Jato, com consequências ruins para o Brasil, e que contribuíram para o aprofundamento da crise”, conta Ramos, doutorando da New School.

Durante a exposição de Moro algumas pessoas protestaram e o acusaram de ser parcial no processo que investiga o ex-presidente Lula. Moro negou ser parcial e ter contribuído para a crise política e econômica.

Ramos esclarece ainda que não é a primeira vez que a Universidade de Columbia leva pessoas polêmicas para debater. “Foi a Columbia quem trouxe o ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em um momento de maior polêmica entre ele e o governo dos EUA”, compara o sociólogo.

Manifestantes foram retirados por seguranças

Durante o evento na Universidade de Columbia, manifestantes do movimento Defend Democracy in Brazil fizeram um manifesto e foram retirados por seguranças de dentro evento. Do lado de fora, cerca de dez manifestantes ergueram faixas e cartazes em repúdio ao juiz Sergio Moro.

Em dezembro de 2016, o juiz curitibano já havia sido alvo de protesto em uma universidade na Alemanha. Na época, um grupo de 30 juristas e acadêmicos brasileiros enviou uma carta à Universidade de Heidelberg argumentando que Moro “não tem credibilidade para discursar sobre combate à corrupção no Brasil, por ser parcial em favor do PSDB e do PMDB”.

Nessa terça-feira (7), será realizada a segunda parte do mesmo debate na New School. Na abertura, foi reservado um espaço ao diretório estudantil, que terá direito a uma fala no início da mesa de debate. Os estudantes devem se manifestar sobre a presença do juiz curitibano.

Posição do Lemann Center

O diretor do Lemann Center esclarece que o evento não foi patrocinado pelo empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann, controlador da AB InBev. “O centro de estudos recebe recursos anuais de um fundo da Fundação Lemann, mas essa instituição não tem nada a ver com o evento que realizamos. O Lemann Center for Brazilian Studies Columbia é totalmente independente”, afirma Gustavo Azenha.

No Brasil, Jorge Paulo Lemann é acusado por partidos de esquerda de ter patrocinado grupo como Movimento Brasil Livre (MBL), que foi às ruas pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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