Por Antonio Luiz M. C. Costa
Da Carta Capital // http://www.carosamigos.com.br
Seria de esperar, após a eleição de Donald Trump, alguma autocrítica por parte dos executivos do Facebook, mais eficiente das ferramentas para a difusão dos boatos e mensagens de ódio que contribuem para a ascensão da ultradireita no mundo.
Foram anunciadas em janeiro ideias sobre consultar agências especializadas na veracidade de notícias e restringir anúncios pagos em publicações de produtores contumazes de falsidades, até agora com poucos resultados práticos, mas faltava uma reflexão mais geral sobre o papel da rede.
Na quinta-feira 16, Mark Zuckerberg por fim a proporcionou – e o resultado é tão assustador quanto a própria ascensão da extrema-direita. Nesse manifesto de 6 mil palavras, “Construir a Comunidade Global”, exibe-se a pretensão não de aperfeiçoar um produto, mas de substituir os quatro poderes, mídia incluída, e ditar o destino do mundo. Alguns excertos:
“Nosso próximo foco será desenvolver infraestrutura social para a comunidade – para nos apoiar, para nos manter seguros, para nos informar, para o engajamento cívico e para a inclusão de todos. A história é a narrativa de como aprendemos a conviver em números cada vez maiores, de tribos a cidades e nações. Hoje estamos perto do próximo passo. O Facebook propõe-se a construir uma comunidade global. Questiona-se se podemos fazê-la funcionar para todos e se o caminho é conectar mais ou voltar para trás. Vozes temerosas pedem a construção de muralhas.
Nosso sucesso não se baseia apenas em se podemos capturar vídeos e compartilhá-los com amigos. É sobre se estamos construindo uma comunidade que ajude a nos manter seguros, que previna danos, ajude nas crises e na posterior reconstrução. Nenhuma nação pode resolver esses problemas sozinha.
Os atuais sistemas da humanidade são insuficientes. Esperei muito por organizações e iniciativas para construir ferramentas de saúde e segurança por meio da tecnologia e fiquei surpreso por quão pouco foi tentado. Há uma oportunidade real de construir uma infraestrutura de segurança global e direcionei o Facebook para investir mais recursos para atender a essa necessidade”.
O Facebook, conhecido em toda parte por se esquivar de impostos e de responsabilidades legais e morais, propõe-se a exercer em escala mundial funções típicas de um governo – se não também de uma igreja – e ainda monopolizar o acesso à informação. Se Zuckerberg tivesse anunciado abertamente a intenção de se candidatar à Presidência dos EUA, como chegou a se especular há algumas semanas, seria menos preocupante.
Ganhar bilhões com convencer as pessoas a desnudar a alma na internet e vender informações sobre elas a empresas e políticos já é ruim o suficiente. Enquanto Hillary Clinton conduziu uma campanha pela tevê difundida ao público geral, Trump baseou-se na rede social para direcionar anúncios a segmentos específicos e testar as reações a pequenas variações.
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