A história, se não é sempre a mesma, é bem semelhante.
O Brasil vive ciclos: sai das ditaduras, com o apoio da classe média, e experimenta a democracia mas quando esta começa a se aprofundar, um pouquinho que seja, no sentido de trazer as massas populares para a cena política, ela – a começar pelas elites que a balizam – “cansa da brincadeira”.
O povo é, para ela, um amor fugaz.
E, como tantas vezes na nossa história, a “corrupção” e “o populismo” são os motes aos quais se agarra para promover o “fechamento” político que, por pruridos progressivamente abandonados, recusam-se a confessar ser seu interesse.
Foi assim com a UDN e seu “mar de lama”, levando Getúlio à morte e, depois, sua recusa em aceitar a ascensão de JK; foi assim na derrubada de João Goulart, o “comunizante”, é agora assim com Lula.
Os núcleos decisórios do país mal disfarçam sua alegria.
A bolsa dispara, o dólar despenca, os apresentadores da Globo e de seus satélites contém a custo os seus sorrisos.
Afinal, a “eleição” no Judiciário é feita somente com eleitores bem-postos, bem vestidos, bem morados e bem pagos.
Essa é a democracia ideal, aquela onde os pobres não votam e obedecem, porque decisão da Justiça não se discute, ainda que ela lhe tire o direito de votar e três homens só vejam completa perfeição onde centenas de juristas, professores e advogados de grande reconhecimento encontraram centenas de vícios.
Completa perfeição? Que digo eu? Os únicos “defeitos” de Moro foi dar a Lula “apenas 9 anos e meio” e o elevaram para 12, e castigar demais na primeira sentença os empreiteiros corruptos, que ganharam um “abatimento” substancioso em suas penas e o direito de irem já para casa, com suas tornozeleiras, que já-já lhes tiram. Para Lula, cana o quanto antes.
A fala inicial do relator João Gebran reclamando do uso da expressão “tropa de choque” é irônica, porque acabou narrando o comportamento de três “julgadores” que pensaram de forma absolutamente igual sem um milímetro de divergência, como num ensaiado passo de ganso sombrio, e passo rápido, com um placar que ajuda ao máximo a exclusão de Lula do pleito.
Há, porém, um efeito que se volta contra ela própria quando cede ao autoritarismo por cansada da democracia.
É que o apetite autoritário não tem limite e os cães ferozes acabam saindo de controle. Excluíram o povão em 1964, mas quatro anos depois foi ela, com seus filhos, seus jovens, que caíram aos dentes mortais da ditadura.
Talvez fosse bom que lembrassem que a história dos povos, ao contrário de seu enfado pela democracia, não cessa de brotar, nem cansa de esperar.
Os milagres do povo são represáveis, mas não são contíveis eternamente . Como a água, encontram o caminho para o mar.
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