Francisco Costa
Sugestão de Nelson Moreira Sobrinho
Excelências, e dirijo-me a todos os magistrados brasileiros,
do juiz de primeira instância, no menor, mais pobre e longínquo município, aos
Ministros do Superior Tribunal Federal – STF.
A minha posição político-ideológica é pública e notória, e
aqui declino dela, tentando a neutralidade.
Vou além: aqui e só aqui, circunstancialmente, admitirei a
culpabilidade do ex Presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Ouvi atentamente cada minuto do julgamento do recurso
impetrado pelas defesas de réus da Lava Jato, entre eles, o ex Presidente, já
aludido.
Em mais de uma oportunidade ouvi dos Senhores
Desembargadores coisas tais como: “juízes não julgam pessoas, mas fatos,
punindo os que participaram dos fatos, se ilícitos ou criminosos”, “todos os
homens são iguais perante a lei, do mais humilde ao Presidente da República”,
chegando à citação do escritor russo Fiodor Dostoievsky: “não existem homens de
bronze, são todos de carne e osso”.
Concordo com todas essas afirmações e, a partir delas,
indago sobre algumas dúvidas, minhas, suscitadas a partir do que ouvi hoje.
O ex Presidente Fernando Henrique Cardoso é proprietário de
um apartamento de luxo no mais luxuoso bairro de Paris, na Avenue Foch, ao lado
dos Príncipes de Mônaco e sheiks árabes, avaliado em 11 milhões de euros, mais
um apartamento em Nova Iorque, dois em bairros nobres de São Paulo, um na Zona
Sul do Rio de Janeiro, área nobre, e mais um fazenda de 1 046 hectares, no
município de Buritis(MG), com um aeroporto dentro, com pista maior que a do
Aeroporto Santos Dumont, que serve à ponte aérea Rio-São Paulo, graciosamente
construído pela empreiteira Camargo Correa, que no governo FHC ganhou
praticamente todas as licitações para as obras públicas em Brasília.
Cálculos modestos apontaram que para ter este patrimônio de
maneira lícita, FHC teria que ter presidido este país, acumulando os salários
de presidente e de professor, por mais de 200 anos, e me ative ao registrado e
assumido pelo ex presidente, sem considerar as contas e empresas offshore
descobertas pela PF e Banco Central, em paraísos fiscais, a partir de denúncias
vindas do exterior.
Estamos diante de fatos, ou por haver um homem de bronze por
trás não são fatos?
O ex governador e atual senador Aécio Neves construiu dois
aeroportos em fazendas de sua família, com dinheiro público, fora da rota dos
vôos comerciais, mas na rota do narcotráfico, fez aportes enormes de dinheiro
público para as suas empresas, a começar pelas suas emissoras de rádio, detém,
de maneira obscura, a quase totalidade das reservas de nióbio, minério nobre,
do planeta, foi gravado pedindo propinas e citado na Lava Jato dezenas de
vezes.
Estamos diante de fatos ou não são fatos, porque há um homem
de bronze por trás?
O ex governador, ex ministro e senador José Serra, filho de
imigrantes, nascido em uma quitinete, no subúrbio paulistano, é hoje detentor
de uma enorme fortuna, com a PF tendo descoberto contas suas em paraísos
fiscais, tendo sido acusado de ser chefe de uma quadrilha internacional, pelo
Ministério Público espanhol, com a sua filha tendo uma variação patrimonial de
mais de 60 000% em menos de um ano, partindo de uma pequena sorveteria para ser
sócia do dono da AMBEV, a segunda fortuna brasileira.
Isto nos faz estar diante de fatos ou não são fatos, porque
com um homem de bronze por trás?
A Polícia Federal apreendeu um helicóptero com quase meia
tonelada de pasta de cocaína, helicóptero de um deputado, apreendido na fazenda
de um senador. Isto é um fato ou não é um fato, porque há homens de bronze por
trás?
Um jatinho executivo foi interceptado com 647 kg de pasta de
cocaína, tendo levantado vôo de uma fazenda de propriedade de um ministro. Isto
é um fato, ou não é um fato, porque há homens de bronze por trás?
Eu poderia continuar citando nomes, e daria um livro com
centenas de páginas, mas se os senhores repararem, só citei fatos relacionados
com nomes da elite do PSDB.
Hoje, no julgamento de Lula, ouvi os nomes de diversos
partidos serem citados, mas não ouvi a citação do PSDB.
Por fim, Excelências, um advogado da Odebrecht, Rodrigo
Tacla Durán, em depoimento a uma CPI do Congressos Nacional, em depoimento de
quatro horas, acusou o Juiz que condenou Lula em primeira instância, de ser um
vendedor de sentenças e acordos com réus, para delações premiadas.
Mais que acusar, provou, com provas robustas, a começar por
e-mails de negociatas, emitidos de computadores da 13ª Vara Federal, de
Curitiba, a ele.
São fatos ou há um homem de bronze por trás?
Temos uma esquerda de carne e osso e uma direita de bronze?
Um povo de carne e osso e uma elite de bronze, com os seus interesses
defendidos por homens de bronze?
O Judiciário brasileiro é de carne e osso? De bronze? Ou,
pior, está rachado, o que nos aponta o caos, adiante?
Perdoem-me a impertinência, Excelências. É que sou fã do
escritor russo, tendo devorado quase todos os seus livros na juventude, com
“Crime e Castigo” me marcando sobremaneira, onde ele afirma não haver homens de
bronze.
Nesta altura da vida ter a decepção de perceber que ele
estava errado, dói.
Assim sendo solicito que na ata dos trabalhos de hoje, em
Porto Alegre, em todas as vezes em que aparecer que o Judiciário julga fatos,
substituam para o Judiciário julga homens, pelo menos o brasileiro, preservando
Dostoievsky..
Decepcionadamente,
Francisco Costa
Rio, 24/01/2018.
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