Com o projeto da Nova Rota da Seda, os chineses se mostram como guardiões da globalização.© Reuters
Por Lúcia Müzell
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Com os Estados Unidos se voltando para si, sob o comando de Donald Trump, e a Europa saindo da crise, ao mesmo tempo em que enfrenta a ascensão de nacionalismos no bloco, os chineses se firmaram como os maiores investidores estrangeiros no Brasil em 2017. Essa dinâmica deve permanecer em 2018, apesar das incertezas em torno das eleições presidenciais brasileiras.
O maior interesse de Pequim no Brasil – como em qualquer outro país em desenvolvimento – é no setor de commodities. Para atender à demanda interna de minérios e petróleo, por exemplo, a China investe pesado em infraestrutura em solo brasileiro – quase metade dos projetos são de energia (em especial geração e transmissão de hidrelétricas), ferrovias, mineração e portos.
De olho nas oportunidades, o governo brasileiro lançou um Fundo Brasil-China para a Expansão da Capacidade Produtiva, que seleciona e beneficia projetos prioritários para os dois países. Os primeiros escolhidos devem sair em janeiro. O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Jorge Arbache, confirma que a China é o parceiro estrangeiro número 1 do Brasil.
“Não só do Brasil, como a China se tornou grande parceiro do mundo, por conta de a carteira estar cheia: eles têm mais de US$ 3 trilhões e procuram diversificar a aplicação das reservas para além dos títulos americanos. É uma questão de diversificação, de redução de riscos e de aumento da taxa de retorno. Por isso, eles se tornaram atrativos para o mundo inteiro”, afirma. “Para quem tem uma necessidade de investimentos, como o Brasil e muitos outros países, a China se torna um candidato supernatural.”
Energias renováveis
A maior aproximação entre Brasília e Pequim ocorreu a partir de 2010, no boom das commodities. Os números de investimentos chineses diretos acumulados no Brasil divergem – para o Planalto, são de US$ 117 bilhões, enquanto o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que verifica quanto das promessas de fato de concretizaram, computa US$ 50 bilhões.
“Eu acredito que os investimentos em energia devem continuar os mais relevantes em termos de volume investido, até porque tem empresas consolidadas no Brasil, como a State Grid e a China Three Gorges, que vão modernizar algumas usinas compradas em anos anteriores e expandir a atuação no Brasil”, avalia Tulio Cariello, coordenador de pesquisas e análises do CEBC. “Na minha visão, também há bastante espaço em energia renovável, porque a China é uma das principais geradoras de energia limpa no mundo. Eles estão fazendo uma revolução nessa área, detêm tecnologia de ponta nos setores solar e eólico, que têm um grande potencial de ser explorado no Brasil.”
Para o governo, os projetos que atendam aos negócios mas também à população são preferenciais – é o caso da conclusão da linha 6 do metrô de São Paulo, que, ao que tudo indica, deve contar com a participação da China Railway Capital e a China Railway First Group. O desafio para os próximos anos, nota Arbache, é ampliar a diversificação do perfil de investimentos chineses, para manufaturas e tecnologia.
“A mudança na economia chinesa faz com que empresas chinesas estejam buscando boas oportunidades de negócios mundo afora. O mercado chinês deixou de ser grande suficiente para as suas empresas, que se tornaram gigantes, um movimento que faz parte do próprio processo de internacionalização, encorajada pelo governo chinês”, analisa. “Além disso, as empresas querem seguir no aprimoramento da forma como elas trabalham e buscam outras oportunidades, associadas a tecnologia, a escala e a redes de distribuição que já estão presentes.”
Chineses: guardiões da globalização
Cariello observa que, diante da subida dos nacionalismos na Europa e nos Estados Unidos, curiosamente os chineses despontaram como os guardiões da globalização – como indica o mega projeto de infraestruturas made in China em 60 países do mundo, chamado de Nova Rota da Seda. Neste contexto, ele avalia que as eleições presidências no Brasil não devem abalar a dinâmica de confiança que já se instalou entre os dois países.
“O interesse da China é pragmático. No Brasil, eu acho que só haveria problema se tivesse um candidato muito nacionalista que pudesse impedir a entrada de investimentos chineses. Fora isso, acredito que não haverá impacto: a relação bilateral está sendo construída há bastante tempo e, no longo prazo, ela tende a caminhar quase sozinha”, aposta.
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