por Pepe Escobar
A arte de não negociar pode ser o único caminho de saída para o impasse entre os EUA e a Coreia do Norte
Conversações inter-coreanas de alto nível na aldeia fronteiriça de Panmunjon não só representam um passo vital na diplomacia das Olimpíadas de Inverno como também apresentam uma irresistível oportunidade de um grande passo em frente nas estagnadas discussões das seis partes.
Em agudo contraste com a habitual barragem de tweets, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , disse ao presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que a reunião podia produzir um resultado positivo.
Dentre as possibilidades está que Seul e Pyongyang possam retomar intercâmbios civis. A linha directa entre a Coreia do Sul e do Norte poderia reabrir, juntamente com a Região Industrial conjunta de Kaewong, a qual foi encerrada em 2016.
O potencial para revigorar as conversações marginalizadas das seis partes, envolvendo a China, Rússia, Japão, Coreia do Sul, EUA e Coreia do Norte é outra possibilidade.
Para além das Olimpíadas de Inverno, a feroz divisão entre o Norte e o Sul, naturalmente, não será rompida, muito embora o líder norte-coreano Kim Jong-un tenha enfatizado que o seu país não utilizará o nuclear a menos que "forças hostis" ataquem o seu regime.
Ele parece confiante em que não haverá um ataque nuclear antecipativo dos EUA devido ao dissuasor do Norte. Assim, a pergunta agora é como se posicionará a própria China após as conversações de Panmunjon?
Rumores de que Pequim estava resignada a uma guerra iminente entre Washington e Pyogyang nunca foram críveis. Certamente, uma visão saída do 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, em Outubro último, era que o presidente Xi Jinping protegeria o complexo relacionamento de Pequim com Washington em paralelo com relacionamentos com os principais parceiros comerciais por toda a Ásia.
Mas isso não significa necessariamente abandonar a Coreia do Norte. O imperativo estratégico número um para Pequim é manter o país como uma almofada contra a presença estado-unidense no Nordeste da Ásia. Uma península coreana reunificada, com soldados americanos estacionados na fronteira Nordeste da China, tem de ser impedida a todo custo.
Confrontação directa
Mas isso também significa impedir qualquer escalada que pudesse levar a uma confrontação directa com os EUA. Assim, é razoável argumentar Xi ter concluído que os negócios com os EUA ultrapassam muito o apoio incondicional ao Norte, o qual não avança interesses de Pequim.
O principal conselheiro chinês, professor Shi Yihong, descreveu de forma notável a Coreia do Norte como uma "bomba relógio", de modo que planos de contingência têm de ser postos em acção. A construção de uma auto-estrada de seis pistas entre Shuangliao, uma cidade em Jilin ocidental, através de Ji'an, uma cidade ao nível de prefeitura na região central de Jiangxi, e junto à fronteira coreana, é significativa.
Ela pode ser interpretada como um mapa rodoviária para proteger o arsenal nuclear do Norte num caso extremo. Isto envolveria a desintegração da dinastia Kim ou um movimento de Pequim para mudar o regime de Pyongyang – algo que tem sido discutido durante anos por think tanks chineses.
Na verdade, tal cenário suspende sugestões de que o Exército Popular de Libertação da China não interferiria mesmo se os EUA lançassem um ataque antecipativo. Oficialmente, contudo, a posição de Pequim é a favor da desnuclearização da península coreana.
Isto iniciaria um mecanismo de "duplo congelamento", permitindo o diálogo entre Washington e Pyongyang. Pequim está agudamente consciente de que conter o programa nuclear do Norte terá um efeito directo sobre o reforço militar do Japão e da Coreia do Sul. A China também está ansiosa por melhorar relações com Seul.
Desde 1953, existe apenas um frágil armistício na península coreana. E nenhum actor geopolítico tentou alterar o status quo. Afinal de contas, qualquer oscilação geraria uma mudança tectónica no tabuleiro de xadrez geopolítico da Ásia-Pacífico, com consequências imprevisíveis.
Agora, contudo, uma Coreia do Norte nuclear está a mudar a dinâmica quando a competição entre os EUA e a China na região se intensifica juntamente com a inclinação da Rússia para o Leste. A seguir, naturalmente, há o Japão e a Coreia do Sul, duas grandes potências económicas.
Na mesma medida em que o Norte pode temer o impacto do ataque geoeconómico comercial de Pequim sobre o seu próprio mercado interno, não é implausível Kim a olhar para Washington a tentar travar a Nova Estrada da Seda da China, conhecida como a Belt and Road Initiative .
Tal como Trump, Kim pode não ser um leitor fora de série. Mas certamente ele está consciente de como o Pentágono o encara, de que o Pacífico Ocidental, a par do Oceano Índico, é absolutamente estratégico para a contenção da China.
Estudos tais como o de Michael Green, By More Than Providence: Grand Strategy and American Power in the Asia Pacific Since 1783 , deixam claro que os EUA não tolerarão outra potência a estabelecer "hegemonia exclusiva".
Ainda assim, Washington está em prejuízo quando negocia com a Coreia do Norte. A Rússia e a China opõem-se a qualquer solução militar, a qual interferiria com os seus objectivos geopolíticos. Ao mesmo tempo, Pyongyang quer ser aceite como uma potência nuclear e um actor chave no tabuleiro de xadrez da Ásia-Pacífico.
Ataque devastador
Portanto, há apenas três opções em cima da mesa. A primeira é um ataque antecipativo devastador, nuclear assim como por forças de ar e mar. Isto levaria a uma imensa perdas de vida não só no Norte mas também em Seul, a qual estaria ao alcance da artilharia de Kim.
As conversações em Panmunjon são mais uma evidência de que o presidente Moon está a fazer tudo o que pode para impedir uma marcha rumo à guerra.
A segunda opção é aceitar a Coreia do Norte como uma potência nuclear sob estritos controles internacionais dos EUA, China, Rússia, Japão e Coreia do Sul. A desescalada teria de incluir um acordo para congelar o programa nuclear do Norte.
Há sinais de que canais secretos utilizados pelo secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, ainda estão abertos. O improvável resgate de um estado nuclear perigoso, contudo, significaria uma ligeira alteração do status quo. Também daria à China uma enorme vantagem na região.
Finalmente, a terceira opção é admitir que é um problema insolúvel e transformar Kim num actor racional e deixar o Norte manter a sua bomba. O regime de Kim seria então advertido de que qualquer tentativa para utilizá-la resultaria em "fogo e fúria".
Chame-se a isto a arte do não acordo.
O original encontra-se em thesaker.is/finding-the-answer-to-a-riddle-shrouded-in-a-mystery/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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