Glaucos trocou a banca do experiente João Mestieri - que defendeu Paulo Roberto Costa, uma das estrelas da Lava Jato em termos de delação premiada - pelo escritório Palomares Advogados
Jornal GGN - Glaucos da Costamarques, o co-réu que tenta ajudar os procuradores de Curitiba na ação penal em que Lula é acusado de receber vantagem indevida da Odebrecht, trocou de advogado no meio do julgamento. O motivo? Um mistério. Nenhuma das bancas quis falar à reportagem sobre o assunto.
Glaucos é criticado pela defesa do ex-presidente por já ter mudado de versão várias vezes e, além disso, está sob suspeita de colaborar com a Lava Jato incriminando Lula em troca de não envolver os filhos numa investigação sobre o patrimônio da família (leia mais aqui).
Ele trocou a banca do experiente advogado João Mestieri - que defendeu Paulo Roberto Costa, uma das estrelas da Lava Jato em termos de delação premiada - pelo escritório Palomares Advogados, que representou os interesses do filho Gustavo da Costa Marques, ex-diretor de Relações Institucionais da Camargo Corrêa. Uma das funções dele era acompanhar, em Brasília, os desdobramentos da CPMI da Petrobras e negociar com políticos. Já foi interrogado em processo que envolveu Marco Maia e Vital do Rêgo e prestou depoimento a Sergio Moro em 2016.
A troca de advogados foi confirmada pelo GGN com base em documentos da própria Lava Jato: a alteração é citada nas comunicações entre o novo escritório e o juiz Sergio Moro, por causa de um pedido para que o Hospital Sírio Libanês forneça imagens de câmeras internas de segurança à defesa de Glaucos.
A redação não conseguiu confirmar a data exata em que a troca de advogados foi efetivada, mas é certo que ela ocorreu no hiato entre o dia em que a defesa de Lula divulgou os recibos que atestam o pagamento do aluguel de um apartamento em São Bernardo do Campo (24 de outubro de 2017) e o segundo depoimento de Glaucos a Moro (15 de dezembro de 2017).
A CRISE DOS RECIBOS
Apesar de ter declarado à Receita Federal o recebimento do aluguel, Glaucos afirmou a Moro que Lula não pagou nada entre 2011 e novembro de 2015. E, para a Lava Jato, o petista não pagou porque o apartamento era uma vantagem indevida, pois a propriedade teria sido adquirida por Glaucos com recursos que supostamente sairam de uma transação que envolveu a Odebrecht (seria lucro que Glaucos obteve na compra e venda de um imóvel para o Instituto Lula). O blog questiona essa teoria aqui.
Após ter sido confrontado pelos recibos apresentados pela defesa de Lula, Glaucos fez voto de silêncio. Procurado pelo Estadão, no final de setembro de 2017, ele disse que foi orientado pelo "doutor João [Mestieri]" a não falar com a imprensa. A entrevista publicada no dia 27 daquele mês foi retratada pelo GGN aqui.
Os recibos acabaram virando objeto de um incidente de falsidade. No dia 15 de dezembro de 2017, Glaucos falou a Moro, no âmbito deste incidente, sobre a origem dos recibos e de outras contraprovas no processo. Àquela altura, já rebolando para dar uma explicação a todas as evidências que desmontam sua defesa, Glaucos já não era mais representado por João Mestieri.
O MISTÉRIO
Assumiu o caso o advogado Sergio Palomares, que tem escritórios em Brasília e Recife. A ferramento de busca específica sobre Lava Jato criada pelo JOTA mostra que Palomares representou Gustavo da Costa Marques em Brasília. Ele acusou Marco Maia e Vital do Rêgo, ex-membros da cúpula da CPMI da Petrobras, de pedirem doações por fora da Camargo Corrêa.
Sergio Palomares foi procurado pelo GGN na última quinta (11). A redação fez algumas perguntas:
Quando o escritório passou a defender Glaucos?
A mudança teve a ver com a crise dos recibos?
Como Glaucos chegou ao escritório de Palomares?
O escritório tem experiência com a Lava Jato?
Como a defesa responde às críticas de que Glaucos, sempre que confrontado por uma contra-prova, muda de versão conforme os interesses da força-tarefa?
Como a defesa lida com as crítica à situação de Glaucos, que é um co-réu que se comporta como delator informal?
Palomares respondeu ao GGN que "em razão de compromissos assumidos com os nossos clientes, não nos manifestarmos sobre casos em andamento fora dos autos."
Procurada por meio de sua assessoria de imprensa, o escritório de João Mestieri não se manifestou até o fechamento.
DELATOR INFORMAL
Em 2015, Mestieri concedeu uma entrevista ao Conjur defendendo a delação premiada. Ele avaliou como inadmissíveis duas situações: quando um candidato a delator é coagido a cooperar com as autoridades ou quando o delator não entrega provas do que diz ou falta com a verdade.
O GGN quis saber o que o advogado pensa da condição de um co-réu e delator informal, já que o expediente parece ter sido abraçado de vez pela Lava Jato nos processos contra Lula (vide Glaucos, Léo Pinheiro, Antonio Palocci, Renato Duque...)
O espaço está aberto.
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