Enviado por Tiago Barbosa
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Ninguém tinha dúvida da subserviência dos três desembargadores do TRF-4 à sentença do colega Sérgio Moro. A Justiça no Brasil tem sido um clube de privilegiados a serviço de uma elite corporativista, mesquinha, irracional e vira-lata.
A decisão combinada pela prisão de Lula - com direito a pitacos políticos no autoproclamado julgamento técnico - prova como o vale-tudo esmaga o discurso e a lei quando o interesse comum é punir quem está no campo oposto da sociedade, do lado do povo e da esquerda.
Danem-se (a falta de) provas, circunstâncias, delações vazias ou interessadas. A convicção antecede a análise, o processo é detalhe na terra sem regra de um estado de exceção.
A tibieza jurídica usada para a condenação do ex-presidente deve ser omitida na sala de aula desses desembargadores ou em futuros processos. Vai desaparecer assim como o redivivo “domínio do fato”, usado apenas para condenar petistas.
Ninguém tinha dúvida também da celebração de parte do povo com a condenação. Houve fogos, hino, gritos, buzinaço e a camisa amarela dos patos.
É explicável: a elite só mantém privilégios intocados porque parte da população - sobretudo da classe média - é adestrada por capatazes do poder travestidos de especialistas, juízes, promotores, delegados, economistas, subjugados a toda prova pelo deus mercado.
Eles moldam a realidade para o chicote nas costas da massa estalar como recompensa pelo silêncio, pela obediência e pelo apoio cúmplices de todos os dias.
A dúvida recai, então, sobre o papel das esquerdas e dos campos progressistas na retomada democrática. A expectativa de redenção pelas mãos dos privilegiados mostrou-se, como sempre, um atalho para o suicídio.
A alternativa é reforçar a confiança no judiciário, carcomido pela união golpista com setores da imprensa e dos mais ricos em nome da manutenção do poder?
Como lutar socialmente quando o jogo é desequilibrado por quem pode manipular as regras para benefício próprio - a ponto de se viver o escárnio de ver o maior representante popular do país à beira da cadeia enquanto Aécio, Temer e asseclas pisoteiam o bom senso protegidos pelo judiciário?
As instituições ainda devem receber o crédito como se o país navegasse em mares democráticos? Quando a insurgência passa a ser necessidade diante de abusos contra interesses populares?
Os partidos à esquerda precisam de uma estratégia superior à mera divulgação de notas de protesto e da convocação ineficaz de manifestações pela internet.
Ou mesmo superar os atritos benéficos à direita ocorridos quando assumem como seus padrões de conduta eleitos pelos conservadores para manipular mentes mais frágeis, como definir a corrupção como principal problema de um país devorado pela desigualdade.
Em outras palavras: a esquerda precisa deixar de pensar com a cabeça da direita, como detecta o professor Jessé Souza (leiam, escutem Jessé urgentemente!).
A iminência da prisão de Lula não apenas enfraquece o lado progressista do ponto de vista eleitoral (um reducionismo medíocre), mas esmorece a pretensão de um Brasil mais igual e inclusivo.
Fragiliza a ideia de democracia e obriga a História e o tempo, de novo, a corrigir injustiças cometidas pela burrice dos homens.
Sem quebrar a inércia de tempos tenebrosos, o país está condenado a assistir a cenas de afronta social revestidas de formalismo jurídico como ocorreu na saideira no TRF-4.
Durante a leitura do último voto, o desembargador se disse um representante do povo para condenar, sem provas, o presidente brasileiro mais popular da história e, assim, subtrair desse mesmo povo o direito de escolher o seu representante.
Isso precisa mudar. Ninguém tenha dúvida.
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