Rússia criará 'internet independente' para Brics
Decisão é resposta a ameaças na World Wide Web, mas especialistas são céticos quanto à possibilidade de se criar rede totalmente autônoma.
O Conselho de Segurança da Rússia encarregou o Ministério das Comunicações e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia de iniciar uma discussão entre os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) sobre a criação de um sistema de servidores raiz do DNS (do inglês Domain Name System, um sistema de gerenciamento de nomes hierárquico e distribuído para computadores conectados à internet) próprio.
De acordo com o documento, citado pelo jornal econômico russo RBC, o sistema "será independente do controle de [organizações internacionais] ICANN, IANA e VeriSign, e poderá atender às necessidade dos usuários dos países do Brics em caso de falhas ou ataques direcionados".
O protocolo da reunião do Conselho de Segurança foi assinado em 5 de novembro pelo presidente russo Vladimir Putin.
"O aumento das capacidades dos países ocidentais na realização de operações ofensivas no espaço da informação é uma ameaça séria para a segurança da Rússia. Os Estados Unidos e os países da União Europeia continuam a dominar na gestão da internet", lê-se no documento.
A Rússia afirma que o papel dos governos na gestão da internet deve ser claramente especificado e não pode ser meramente consultivo, segundo declaração à BBC do assessor do presidente russo, Ígor Schegolev.
Mass especialistas do setor de tecnologia e informação são céticos quanto à possibilidade de criação de um sistema próprio de servidores DNS do Brics.
O representante do Centro Técnico de Internet (TCI), que suporta a estrutura do DNS da Rússia, disse ao jornal RBC que a criação de um sistema do gênero é impossível, já que o sistema de nomes na internet é "hierárquico e só pode ter uma raiz".
"Na internet de hoje, é impossível adquirir autonomia completa. Todas as informações nos servidores-raiz são distribuídas de um único ponto, o IANA (da sigla em inglês, Autoridade para Atribuição de Números da Internet). Assim, a criação de um sistema de servidores-raiz independentes de administradores internacionais significa a criação de uma internet alternativa, independente da rede existente", disse.
Em 2014, o Ministério das Comunicações da Rússia testou a estabilidade da porção russa da internet contra ameaças externas, verificando a possibilidade de violações no sistema de endereçamento, segundo declaração do diretor-geral do TCI, Aleksêi Platônov, ao jornal Kommersant.
"Durante os testes, a rede de DNS não funcionou de forma adequada, porque as informações sobre o domínio russo '.ru' foram deletadas do banco de dados da ICANN. O TCI, a MSK-IX e outras empresas de telecomunicações russas tiveram que garantir o funcionamento do segmento nacional da internet no nível de rede local", disse Platônov.
Segundo ele, durante os testes, graças aos espelhos [cópias exatas de um conjunto de dados na rede] no servidor raiz do DNS da Rússia, foi possível garantir que o sistema continuasse funcionando.
"Ou seja, se a Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (ICANN, na sigla em inglês) remover as informações sobre o domínio russo dos servidores-raiz, elas serão armazenadas nos servidores locais. Se toda a internet russa estiver conectada a esse servidor, tudo funcionará normalmente", explica.
No entanto, tratava-se de uma situação de emergência, e não um modo permanente de funcionamento do sistema.
"A principal dúvida é: qual o objetivo da criação do próprio sistema de servidores-raiz do DNS para o Brics? A Rússia já criou uma infraestrutura de espelhos, ou seja, de duplicação dos dados para servidores de alto nível", diz o consultor do centro PIR, Oleg Demídov.
"A criação de uma infraestrutura própria que duplice o DNS global leva diretamente ou indiretamente à fragmentação da rede global, o que se contrapõe às iniciativas para construção de uma economia digital na Rússia", diz Demídov.
Já houve diversas tentativas de criar uma alternativa aos servidores-raiz do DNS. Além disso, várias organizações gerenciam os servidores alternativos (Open Root Server Network, OpenNIC e outros).
Os sistemas alternativos de nomes de domínio copiam o estado atual dos servidores-raiz, mas, caso necessário, podem criar seu próprio espaço de endereços com outro domínio de nível superior.
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