por Marcio Pochamnn, para RBA
Sem plano estratégico e sob um governo desqualificado, o país se subverte rapidamente ao novo colonialismo, sem soberania e com perda de suas riquezas e patrimônio nacional
A ascensão do governo Temer gerou novas expectativas em relação à condução da política externa frente às críticas dos ministros tucanos que assumiram o Itamaraty à experiência altiva e ativa dos governos petistas. De imediato, as articulações sul-sul que estavam em curso foram imediatamente secundarizadas, o que logo indicou o quanto a temática da soberania nacional poderia ser abalada.
Pela sucessão de fiascos protagonizados pelos ministros de Temer no Itamaraty, o problema se revelou não apenas no enfoque ideológico e programático associado ao retorno da integração subordinada aos países ricos, sobretudo aos Estados Unidos. Apareceu ser também de competência, a começar pela escandalosa imprudência de apoio pré-eleitoral do então recém empossado ministro do Itamaraty de Temer, José Serra, à candidata Hillary Clinton.
Com a confirmação da vitória de Donald Trump nas eleições estadunidenses do final de 2016, a pretendida aproximação subordinada de Temer ao governo dos Estados Unidos sofreu abalo sísmico. Na sequência, a manifestação de desinteresse dos EUA pelo ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube dos 35 países ricos do mundo, revelou mais um fracasso do governo brasileiro, terminando por asfaltar o horizonte de irrelevância geral e crescente a que o país passou a se situar sob a governança de Temer e seus ministros de baixíssima qualificação e competência.
Concomitante com a irrelevância assegurada ao Brasil seguiu liberado o desmantelamento das bases da soberania, com o desfazimento de ativos nacionais, como o petróleo. Na agenda econômica, a pauta de privatização interessou ao grande capital estadunidense, seja na privatização, especialmente no petróleo, como na condução destrutiva dos competidores nacionais pela operação Lava a Jato.
Para além dos Estados Unidos, outros países se interessaram em participar da feira de liquidação de empresas estatais e do patrimônio de riquezas nacionais. Somente a China, por exemplo, adquiriu 21 empresas, equivalendo à somatória de 21 bilhões de dólares.
Ao mesmo tempo, o processo chinês de internacionalização de sua moeda nacional (Yuan) contemplou participar em diversas operações de fusões e aquisições. No mercado financeiro, os chineses começaram com o investimento de 100 bilhões de dólares, por meio de um dos seus bancos. Todas as regiões brasileiras foram impactadas pelos investimentos chineses, embora venha sendo a região Sudeste a que concentrou 56% do total dos empreendimentos, acompanhada pelo Nordeste (17%), Centro-Oeste (17%) e Sul e Norte, ambas com 6%, cada, no total dos investimentos.
Essa realidade brasileira, se ampliada para a América Latina, expressa a rapidez com que a China se recoloca no mundo, com perda relativa dos EUA. No ano de 2016, por exemplo, 1/3 de todas as importações da América Latina era proveniente dos EUA, a passo que em 1980 representavam a metade.
Em compensação à perda de importância relativa dos EUA, observa-se que a China passou a responder por 18% das importações da América Latina em 2016. No ano de 1980 era apenas de 3%. Destaca-se, além disso, que desde 2014, o presidente chinês (Ji Jinping) visitou três vezes a América Latina, tendo o seu ministro de Relações Exterior (Wang Yi) realizado duas viagens pela região em menos de 2 anos.
Como o Brasil segue à venda pelo governo Temer, a presença chinesa parece ser cada vez mais crescente. Sem um plano estratégico nacional, conjuntamente com o desfazimento da capacidade de coordenação econômica do governo golpista, o país se subverte rapidamente ao novo colonialismo, sem soberania e perda de suas riquezas e patrimônio nacional.
Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas
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