segunda-feira, 19 de março de 2018

Políticos e amigos de Marielle se curvaram à Globo como as vítimas de sequestro aceitam o abraço do sequestrador


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Dois fatos chamaram a atenção no Fantástico de ontem: a canalhice da cobertura sobre a morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes, e a atração que a emissora exerce sobre as pessoas que são vítimas dessa manipulação.

Da esposa de Marielle ao deputado estadual Marcelo Freixo, todos se prestaram a dar entrevista à emissora como se estivessem diante da BBC.

É uma reverência inexplicável, já que conhecem o poder de distorção da emissora, pois Marielle era uma das que mais combatiam o cobertura que a mídia tradicional faz dos eventos que envolvem os setores populares da sociedade.

Pouco antes de ver a TV usar a morte de Marielle para reforçar a posição do Grupo Globo de fortalecer a intervenção federal/militar, vi um vídeo com a entrevista dela ao site Ponte.

Temer havia decretado a intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro:

“É um dia histórico, infelizmente de dor, principalmente para quem é favelado e para quem é favelada, quando, de supetão, na última sexta-feira, o presidente ilegítimo Michel Temer (…) estabelece uma intervenção federal no Rio de Janeiro (…), muito por conta e fruto desse último período, de críticas pesadas (ela provavelmente se refere ao desfile da Tuiuti), de rebaixamento da sua popularidade e de uma MÍDIA (leia-se Globo) que favoreceu e fortaleceu o que a gente entende de uma sensação de insegurança no Estado do Rio de Janeiro pelo período do Carnaval, que legitima esse processo de intervenção federal, que muitas vezes é colocada como intervenção militar, porque ele (Temer) requer e age, fundamentalmente , em cima das forças de segurança. É uma segunda-feira aonde, fazendo alusão a essa chuva que cai, a cidade do Rio de Janeiro chora por mais um corte na carne.”, disse.

Em seguida, ela relatou a lembrança que a ocupação da Maré durante 14 meses pelo Exército, Força de Segurança Nacional e PM deixou na comunidade. “O barulho do tanque ainda é muito latente, que ficava na frente do prédio onde eu morei. Esse medo, esse desespero é onde a gente chora porque corta na nossa carne, a iminência do confronto a qualquer hora”, afirmou.

Marielle não defende a impunidade, mas diz que é preciso enfrentar o problema da falta de segurança de outra maneira, porque, em última análise, o que acontece com a militarização da segurança pública é a ofensiva aos mais pobres.

“A vida no Rio de Janeiro fica ameaçada, mas também tem muito resistência. Não é à toa que a gente, não só contra a reforma, contra a PEC, contra a retirada de direitos, mas também contra essa mão que vem também de cerceamento, de controle, para cima dos corpos de favelados e faveladas, a gente vem ocupar a rua”, destacou.

Essa era Marielle, decidida, forte, que via com nitidez os alvos a serem combatidos.

No Fantástico, seus amigos prestavam referência à Globo como uma vítima de sequestro, de alguma maneira, se aproxima de seu algoz e desenvolve com ele laços afetivos.

É o que a psicologia chama de Síndrome de Estocolmo.

Só isso explica.

Ao final de uma extensa reportagem com muitas lágrimas, o apresentador chama para uma notícia de última hora em Brasília.

E o repórter, de frente para o Palácio do Alvorada, anuncia que Michel Temer havia acabado de decidir pela liberação de mais verbas para a intervenção federal/militar no Rio de Janeiro.

Era isso o que a Globo queria noticiar, e a morte de Marielle e Anderson criava o ambiente perfeito para avançar na política de segurança que ignora a complexidade da situação.

Militar na rua, com o barulho do tanque e a ponta do fuzil, cala a população.

Era como se o jornalismo da Globo pisoteasse sobre o cadáver de Marielle, pois, como vimos na entrevista à Ponte, ela sempre achou que a intervenção, nos moldes em que foi colocada, é um ataque à população mais pobre.

Os parentes de Marielle não têm obrigação de saber que a natureza da Globo é a do escorpião que crava o veneno no sapo depois de contar com ele para a travessia do Rio.

Mas os políticos como o deputado Marcelo Freixo e o vereador Tarcísio Motta sabem.

No entanto, continuam dando aos veículos do Grupo Globo a primazia da cobertura.

Na entrevista à Ponte, ela destacou a importância da mídia independente para mudar a narrativa presente na velha imprensa de que o debate é da segurança.

“Eles ganham nessa narrativa de que o debate é na segurança. Para mim, esse debate é da segurança no corpo do favelado e da favelada, onde vai apertar. Mas, objetivamente, (esse debate) é político”, comentou.

De uma vez por todas, como disse Marielle, não haveria intervenção se não fosse a Globo.

Ela manipulou o noticiário com cobertura intensa de notícias de crime que ocorreram durante o Carnaval.

Os dados estatísticos mostraram que o período teve menos crimes do que em outros Carnavais, mas como a Globo dedicou generosos minutos do Jornal Nacional a mostrar assaltos e arrastões em locais onde, estranhamente, não havia policia, o cidadão desavisado ficou com a sensação do caos.

Como disse Marielle, a mídia reforçou a sensação de insegurança e gerou o ambiente perfeito para que Temer decretasse a intervenção.

Com a política regressiva de direitos, fruto do golpe, óbvio que há impacto na vida dos mais pobres. Há consequências também.

Para calar o povo, a morte de Marielle e de Anderson cria o ambiente perfeito.

Para quem ganha com o aprofundamento do abismo que separa ricos e pobres no País, o tanque e o fuzil dão conta de cauterizar feridas, mesmo que isso represente a vida de inocentes.

A Globo é inimiga dos interesses verdadeiramente brasileiros, e é preciso que as forças populares encararem de frente seus inimigos e não aceite o seu ombro para chorar.

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