Roberto Malvezzi (Gogó) tem se mostrado um excelente analista social da conjuntura na perspectiva das vítimas do sistema. Com excelente formação sociológica e teológica trabalha nos meios populares e é um dos mais profundos conhecedores das águas do São Francisco. Apresentamos aqui sua síntese da crise brasileira. Merece ser lida como orientação e advertência do que poderá ainda ocorrer, especialmente a partir do estamento militar. É sabido hoje que nos USA quem realmente comanda o país, após o atentado às Torres Gêmeas, é o Pentágono. O Presidente é submetido às suas estratégias. Aqui, parece, estamos seguindo o mesmo caminho. Não é de estranhar, já que os grupos dominantes especialmente da área financeira (a que comanda a economia hoje) sempre se alinharam e hoje mais do que antes se alinham às estratégias do poder mundial dominante, no caso dos USA com o apoio da área militar. Lboff
Prisão de Lula. Do ponto de vista físico Lula está preso, os golpistas alcançaram seu objetivo. Do ponto de vista simbólico Lula já ganhou. A foto que roda o mundo nos braços do povo é imortal.
Longa prisão. O desejo da direita é que Lula fique preso por muito tempo, vão ajuntar outros processos, outros decretos de prisão preventiva, conforme os golpistas acharem necessário. O problema é que não há como prender a dimensão simbólica.
O voto de Rosa Weber. Não esperem pelo voto favorável de Rosa Weber e pela revisão da prisão em segunda instância. A determinação é dos generais. A ministra não tem estatura política para confirmar as convicções que ela diz ter.
Os generais estão no comando. Eles dão as ordens. Por hora não vão sujar as mãos com o trabalho que o Judiciário pode fazer. Eles dão os comandos como manipuladores de mamulengos, o Supremo só confirma. O Supremo só vai deliberar com autonomia em questões secundárias. A ameaça de pôr as tropas nas ruas, de fechar o algoritmo (General Mourão) será feita todas as vezes que for necessária.
Não interessa prender Aécio. Não interessa prender Aécio, Jucá, Temer et caterva. Essas pessoas são politicamente irrelevantes aos olhos dos Estados Unidos. O problema da estratégia global é que Lula uniu a América Latina, entrou pela África, era importante nos BRICs. Ali havia a proposta de um banco de investimento independente do Banco Mundial, e a criação de uma moeda independente do dólar. Ora, todas as vezes que alguém tentou enfrentar o sistema dólar foi assassinado: Kadafi na Líbia, Saddam Hussein no Iraque. Portanto, o único cidadão brasileiro politicamente importante para os Estados Unidos é Lula.
Povo na rua. O desafio é manter o inconformismo popular, nas praças, nas ruas. Com o tempo, a tendência é o povo cansar. Estratégias de mobilização permanente os movimentos sociais já apresentaram, mas ela terá que ser de longo prazo.
Pressão internacional. Esse golpe nunca teve credibilidade em nenhum lugar do mundo. Não estamos mais em 1964. Hoje há a internet, redes sociais globais, comunicação instantânea. Caberia ao PT organizar a pressão internacional, boicotes econômicos, constrangimentos internacionais.
A mídia e o simbólico. A grande mídia trabalha com os princípios nazistas de Goebbels, “repetir uma mentira infinitamente até que ela se torne uma verdade”. O povo trabalha com o sentimento de solidariedade e justiça. Quando alguém é visto pelo povo como um perseguido, um injustiçado, a tendência é a solidariedade. Então, é preciso trabalhar o simbólico, não só o político. Quando Lula foi condenado sem uma única prova o povo desconfiou, como que dizendo: “aí tem dente de coelho”. A tal República de Curitiba é politicamente muito curta para entender essa dimensão da psicologia popular. E velha mídia parece que padece dessa mesma estreiteza interpretativa. O fato é que batem, prendem e o Lula cresce.
Matar Lula. Num áudio vazado do voo que levou Lula a Curitiba alguém pede que os responsáveis do voo joguem Lula do avião. Portanto, era alguém de dentro da operação. Lula, na prisão, pode morrer de um tombo de esteira.
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