sábado, 5 de maio de 2018

Como a Argentina de Macri, o queridón do mercado, virou campeã mundial dos juros. Por Miguel Enriquez

    Deu ruim

POR MIGUEL ENRIQUEZ

Ao vencer por uma margem apertada as eleições presidenciais na Argentina, em novembro de 2015, batendo o candidato peronista Daniel Scioli por um diferença de 680 mil votos, o empresário Mauricio Macri, ex-prefeito da capital, Buenos Aires, foi efusivamente saudado como a grande esperança branca do mercado financeiro, na América Latina. 

Sua plataforma de reformas, dizia-se à época, recolocaria a economia do país nos trilhos, após mais de uma década descrita como de desvarios populistas do casal Néstor e Cristina Kirchner, reforçando, pelas urnas, a tendência conservadora iniciada na mesma época com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Brasil.

Menos de dois anos e meio depois, o exemplo de estadista a ser seguido corre o risco de se transformar numa versão mais elegante do presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, do que do assemelhar-se ao aristocrático Emmanuel Macron, da França.

Na primeira semana de maio, Macri teve de enfrentar uma gigantesca fuga de capitais, o que o obrigou a desvalorizar a moeda local em 8% perante dólar, que chegou a ser cotado a 23 pesos.

O grau de insegurança e instabilidade da economia, foi chancelado pelo Banco Central argentino, que aumentou os juros básicos de 27,5% para estratosféricos 40% – superiores aos 21,78% praticados pelo governo bolivariano –

batendo o recorde mundial em termos de taxa nominal, pegando os investidores de surpresa, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Mesmo tendo obtido uma vitória importante nas eleições legislativas do ano passado, quando ampliou sua bancada no Congresso em 9 senadores e 21 deputados, a vida não tem sido fácil para o governo Macri. A inflação continua em patamares insustentáveis, tendo fechado 2017 em 24,8%( bem distante da meta oficial de 10%), taxa que deverá repetir-se neste ano, e é a segunda maior da América Latina, atrás apenas da Venezuela.

Graças ao chamado “tarifazo”, que elevou às alturas os preços e tarifas administrados no mercado interno (o do gás chegou a ser majorado em 1 000%, mas foi barrado pela Suprema Corte) o desemprego e a pobreza cresceram em seu mandato.

A população pobre passou dos 4,7% registrados em 2013, último ano a ser medido anteriormente à posse de Macri, a nada menos de 32% da população total. O desemprego, que atingia 6% em 2015, aumentou em mais de 50%, passando aos 9,3% do ano passado.

Esse quadro explica como a Argentina, sob a batuta do Super Macri, como alguns bajuladores se referiam ao presidente até há pouco tempo, chegou ao pódio mundial com os 40% de taxa básica de juros. Mesmo assim, tal como vem acontecendo no futebol, nas últimas décadas, los hermanos continuam atrás dos macaquitos brasileiros nesse quesito.

Os 44,95% da taxa Selic alcançados em março de 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso, outro baluarte do neoliberalismo no continente, continuam imbatíveis.

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