quinta-feira, 5 de julho de 2018

Ira, desatino e pulha vincam nossos jornalistas de futebol


    Juninho Pernambucano, Didi, Falcão, Roberto Carlos etc etc etc

Omar dos Santos*

Já escrevi aqui sobre o tema futebol, pois um assunto que meche com a alma do brasileiro como ele meche, merece estar em qualquer pauta a qualquer tempo. Em tempos de copa do mundo então... é quase impossível não falar desta paixão, que para muitos, chega às raias do irracional. 

Com este texto proponho ao leitor uma reflexão sobre a postura dos jornalistas brasileiros em face o futebol nacional. Para isto o inicio, fazendo uma analogia de uma máxima que foi muito utilizada nos tempos em que outro tipo de jornalista, “os críticos literários” eram os donos da bola. Nesse tempo, o povo dizia: “Crítico literário é um escritor que não deu certo e se especializou em falar mal de obras alheias”. Hoje ainda encontramos essa espécie de artista frustrado neste “mercadão” da mídia. Pois bem, estou absolutamente convencido de que os jornalistas de futebol brasileiros, e é sempre importante ressalvar as raríssimas e honrosas exceções, apoderaram-se dessa prorrogativa dos críticos literários. 

Esses profissionais são, em sua maioria, apaixonados por esse esporte, chegando, a maioria deles, a jogar emocionantes peladas nos “terrões” deste nosso país. Outros tantos chegaram a jogar no que chamávamos antigamente de “aspirantes”, que hoje chamamos, modernamente, de categorias de base. E há uns poucos, poucos não, pouquíssimos, que foram craques de verdade, mas que se deixaram enredar no pelo hirsuto – no meu tempo era assim –, doença crônica e perigosa para a razão. 

Vamos pensar um pouco sobre algumas afirmativas dos jornalistas do Brasil, que comprovam a analogia acima citada. 

A primeira se refere à enorme e já histórica má vontade desses profissionais com nosso futebol. Toda a imprensa internacional sempre rendeu os devidos elogios e um grande respeito ao nosso futebol. Mas os nossos “gazetistas” não. Esses negam qualquer qualidade e virtude que nossos craques, treinadores e clubes possam ter. 

Para escrever este texto, fiz, nas duas últimas semanas, verdadeira “campana”, tentando compreender a opinião dos narradores, analistas e comentaristas da mídia escrita, televisada e radiofonizada a respeito do desempenho de nossa atual seleção. A conclusão a que cheguei é que para eles o nosso time é composto por um bando de “cabeças de bagre”, que não chegam aos pés dos craques do primeiro mundo e até de jogadores asiáticos e africanos. Se não como justificar o mau humor com que se referem ao time brasileiro. 

Para ilustrar o que digo, vejamos algumas expressões utilizadas por nossos incontestáveis doutores em matéria de futebol em relação a nossos jogadores: 

“Nossos jogadores mais famosos são mercenários, não amam a seleção e só jogam por dinheiro” ; 

“Os jogadores da seleção brasileira têm que criar ‘cunhão’ para ganharem das seleções de ponta da Europa”; 

“Na disputa de jogos da Copa, nossos jogadores demonstram insegurança e muito despreparo psicológico, cultural e profissional”; 

“Os grandes craques estão nas seleções europeias e em algumas sul-americanas. Até mesmo as seleções árabes e africanas possuem grandes jogadores, menos a brasileira”; 

“O técnico Tite é um encantador de jornalistas e não sabe nada de futebol”; 

“Na Copa, o técnico Tite está muito inseguro e nervoso”; 

“A comitiva de nossa seleção tem mais de 50 pessoas que não fazem nada e são pagas com o dinheiro do povo”. 

Poderia citar outras tantas, mas fiquemos com estas avaliações de alguns dos “oráculos” de nosso futebol. 

“O Neymar é um cai-cai"! É um enganador. 

Não é necessário ser um doutor no assunto para saber que o comportamento emocional dos jogadores de futebol, todos eles, nas disputas da copa do mundo justifica-se pela enorme importância do torneio, mas para nossos jornalistas isso é covardia e fraqueza de nossos craques. Como diz o poeta “(...) Chora, a nossa pátria mãe gentil, choram Marias e Clarices...”, na copa choram europeus, asiáticos, africanos e sul-americanos. Choram craques, técnicos e torcedores. Choram meninos, mulheres e homens, e todo choro é natural e justificável. É até lindo e emocionante. Mas jogador brasileiro que chora é frouxo e indigno de vestir a camisa da seleção, pois essa postura demonstra despreparo técnico, fraqueza de caráter e desiquilíbrio emocional, o que segundo nossos “sábios jornalistas” são características que só eles, os jogadores da terra têm. 

Juiz erra muito na copa, só não erra contra o Brasil. Nossos craques e que são malandros e tentam sempre ludibriar o árbitro, por isto podem e devem apanhar calados. Nossos patriotas jornalistas defendem o juiz que não pune nossos adversários quando empurram um de nossos craques, justificando que foi só um empurrãozinho de nada, a queda foi teatro. Como defendem também os que não punem os jogadores adversários que seguram os nossos até lhes rasgarem a camisa, usando a mesma justificativa. A enorme quantidade de pontapé que nossos craques sofrem, chegando ao absurdo do Neymar sofrer 10 faltas em um único jogo, o que para esses “sábios” da mídia brasileira faz parte do futebol moderno. 

O que deve ser dito a esses Senhores é que para ser falta não é necessária a fratura exposta. Que para as leis do futebol empurrãozinho é falta como qualquer empurrão. Que não há como segurar mais ou menos o adversário, se segura, e tudo é falta. Técnico que manda um, dois, três jogadores caírem em campo simultaneamente comete antijogo, devendo ser os dois, técnico e jogadores, punidos até com expulsão. 

Mas nossos jornalistas defendem os árbitros que erram grosseiramente contra nossa seleção, fazendo altas análises psicológicas, sociológicas e normativas, campos em que a quase totalidade deles é absolutamente ignorante. 

Os desportistas do mundo inteiro reconhecem a superioridade de nossos jogadores de futebol, menos os nossos atuais jornalistas. Vejamos quantos estão esparramados por times do mundo inteiro, sobretudo pelos da Europa. Antes de mais nada vejamos o favoritismo de nossa seleção nas bolsas de apostas internacionais em todas as copas do mundo, não sendo diferente nesta. 

Vejam, sobretudo, a histórica capacidade de nossos craques para lidar com a bola. Só para ilustrar lembremos algumas jogadas próprias do jogador brasileiro: Muito poucos craques do mundo têm a capacidade de surpreender o marcador com uma “Lambreta” como a que o Neymar deu no jogo contra a Costa Rica. São raros os que têm a visão de campo demonstrada pelo Coutinho quando fez aquele lançamento contra Sérvia. O Marcelo que é um lateral não marca, é marcado pelo atacante. Não há, entre todos os jogadores que estão disputando esta copa, um que seja capaz de “matar” a bola no peito ou no chão como ele. Há uma expressão entre os futebolistas daqui que diz: “O bom jogador chama a bola de você, não de Vossa Excelência”. Não há no mundo tantos jogadores que tenha tanta intimidade com ela como os nossos. 

Observe querido leitor como você raramente vê um drible ou um “chapéu” nos jogos das outras seleções, sobretudo nas europeias. A moda agora é o tique-taque. Esta aborrecível e enganadora moda de defender “a posse de bola” tão valorosa para os críticos como se fosse esta a finalidade do jogo. 

A verdade é que o que é normal para nós, o surgimento de craques excepcionais, para o resto do mundo é a exceção. Isto é tão verdade que hoje nossos jovens futebolistas viraram fonte de investimentos para os times da Europa e da Ásia. Só este ano é enorme o número de meninos e jovens que foi transferido para o futebol exterior. 

Por fim uma palavra para chamar à razão de todos os jornalistas de futebol deste país: 

Nosso país não precisa de vilipendiadores nacionais, já temos aviltantes estrangeiros o suficiente. Se os meios de comunicação, todos eles, têm grande importância na formação do povo, e acredito firmemente nisso, vocês têm uma enorme responsabilidade com isso. Contudo, não será com esta postura entreguista e antinacionalista que cumprirão seu papel. Ao contrário, vocês estão desempenhando o triste papel de criar uma juventude descrente e (de)formada. Não se trata de xenofobia, mas sim de tomar consciência de que o Brasil e o povo brasileiro são vítimas de sua história, que começa em sua colonização, passa pelo império e chaga a nossos dias. 

Não será esculhambando tudo, inclusive as coisas boas que temos que vocês contribuirão. 

Ou será que vocês têm outros interesses para defenderem o que ádvena os quais não sabemos? 

Omar dos Santos é professor aposentado. Mora em Brasília.


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