Da necessidade do ódio, por Rui Daher
Trato aqui de acontecimento recente que faz supor inexistir qualquer possibilidade de transformação política econômica e social no Brasil.
Os conceitos de infra e superestrutura em Karl Marx (1818-1883) são bem conhecidos. O conflito de classes na base da pirâmide abalaria os apetrechos culturais, morais, éticos, religiosos, jurídicos, etc., vigentes em seu topo, confirmando a passagem do capitalismo ao socialismo. Creio não precisar ir mais longe para os que aqui normalmente vêm.
Assim como desnecessário aprofundar as teses do italiano Antonio Gramsci (1891-1937) em seu aggiornamento do marxismo, que inverte o peso dos aparelhos de classe e sociais em conflito, para confirmar a mesma transição. Foi seguido pelo que escreveu o francês Pierre Bourdieu, ainda mais específico ao focar a educação (1930-2002).
Abstenho-me de comentar os demais tantos afluentes que durante três séculos vêm abastecendo esses caudalosos rios.
Assombraram-me, em país secularmente esfaqueado por um acordo de elites econômicas, políticas e culturais, o povo fadado a se defender em movimentos inatos de resistência, as mesuras, rococós e anódinas declarações com que políticos de oposição, intelectuais supostos clarividentes, folhas e telas cotidianas, se manifestaram sobre o atentado sofrido por Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora.
A mim, o fato serviu para ampliar a noção de que nós, os brasileiros, nunca sairemos do estágio de poltrões a dar de ombros e dizer “Deus quis assim”. De passagem pela Redação de CartaCapital, em momento de distração de seu diretor, ouso perguntar a seus botões se é possível transformar um país de miseráveis sem que haja ódio, luta e sangue. Não respondem, mas não creio que ouviria deles um “façamos um abaixo-assinado contra o fascismo”.
Vou ao Conselho Consultivo do “Dominó de Botequim” (Darcy, Ariano, Melodia, Walter Salles, pai). Ectoplasmas formam letras: “Morrerão alguns inocentes, como em todas as guerras de libertação ou em bares de chacina nas periferias brasileiras. Quem, afinal, seriam os quase 100 mil assassinados por ano? Todos culpados?”
Personagem feminina bonita das calendas de nossa televisão, depois de assediada, ingenuamente, costumava terminar o sketch, com a frase: “Brasileiro é bonzinho, não?”
E não é que somos mesmo? O militar-político em questão é merecedor de ódio e fatalidade. Por tudo o que fez, falou, incitou a fazerem e pior fará, a ser seguido por horda de inconsequentes fascistas.
E vejo comiseração, mas torço por faca mais amolada. Vejo notoriedade do bem, mas torço pelo mal. Vejo pedidos de armas, e também as quero, mas nos ventres de quem as pediu. Vejo um falso mártir, e o verdadeiro está preso em Curitiba.
Conseguimos não mais do que odiar o frio e o calor, o sertanejo brega, os paetês globais, a torcida do adversário, alguns as areias das praias, outros as filas. motoqueiros a trabalho, seitas religiosas, enfim, qualquer coisa que não traga transformação social.
Nota: BRD, N&P e Pi π, inconformados com a covardia brasileira e cientes de que ganhará as eleições quem mais estiver ajustado com o mercado financeiro e tirar as prioridades da inserção social, pede vênia à Mark Zuck Tools & Co. Ltd., para interromper a série de entrevistas gentilmente patrocinada por essa grande empresa.
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