É muito provável que o educador Anísio Teixeira tenha sido morto após tortura, pela ditadura militar, em março de 1971
João Augusto de Lima Rocha
O resultado da pesquisa que iniciamos em 1988 e concluímos em 2016, assegura que a versão da queda (acidental ou não) do educador AnísioTeixeira no fosso do elevador, em março de 1971, é falsa. O livro que enfeixa essa pesquisa, intitulado "Breve história da vida e morte de Anísio Teixeira - desmontada a farsa da morte no fosso do elevador". com prefácio de Haroldo Lima, está prestes a ser lançado, na Bahia.
Deliberadamente, nele não incluímos afirmações taxativas sobre quem matou o educador, após o sequestro de que foi vítima, em 11 de março de 1971, na Praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, quando ia, a pé, da Fundação Getúlio Vargas para o Edifício Duque de Caxias, onde residia seu amigo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
No livro, sugerimos que a pesquisa subsequente seja levada á frente pelo Estado Brasileiro, isto é, pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, da Presidência da República, no sentido de que possa ser descoberto quem matou, onde foi morto e porque foi eliminado o educador brasileiro que mais inovações trouxe para a educação e a cultura brasileira, em todas as áreas. O Relatório circunstanciado da pesquisa que desenvolvemos, foi encaminhado à Comissão Especial, em abril de 2016.
No vasto material acumulado durante os 28 anos do trablahoi, reunimos indicações bastante seguras de que Anísio Teixeira prestou depoimento em instalação da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, entre o momento em que foi sequestrado, na manhã de 11 de março de 1971 e o de sua morte, ocorrida no dia 12 de março de 1971, segundo atesta o Auto do Exame Cadavérico, emitido pelo Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro. Aliás, essa informação sobre o dia da morte só recentemente foi recuperada, por iniciativa da Comissão Nacional da Verdade.
Como sugestão para para o trabalho da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, no sentido da elucidação completa do episódio da morte de Anísio, o livro observa que há uma curiosa relação entre as mortes de Rubens Paiva (janeiro de 1971, após tortura), Anísio Teixeira (março de 1971), e a Stuart Angel Jones (maio de 1971, após tortura), por conta da conexão com a caçada a Carlos Lamarca, que havia sido o principal responsável pelo sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, que passou 40 dias no cativeiro, sendo o sequestro encerrado em 13 de janeiro de 1971.
O sequestro representou a maior derrota, até então, para a ditadura militar, que foi obrigada a libertar 70 prisioneiros políticos. Após longa negociação, os libertados foram encaminhados para o Chile, então sob o governo socialista de Salvador Allende.
Lamarca, que pertencia à Vanguarda Popular Revolucionária, deixou essa organização, em março de 1971, e ingressou imediatamente no Movimento Revolucionário 8 de Outubro MR-8), organização à qual também pertencia Stuart Angel Jones.
Aposentado compulsoriamente pela ditadura, em 1964, Anísio Teixeira saiu do Brasil, a convite de universidades dos EUA, onde passou mais de um ano. Na volta, foi chamado pelo presidente chileno Eduardo Frei, em 1966, para dirigir o processo de reforma da Universidade Nacional do Chile. O educador passou algum tempo naquele país e, mesmo de volta ao Brasil, continuou na assessoria do longo processo de extensão da Universidade Nacional para todo o extenso território chileno.
A morte de Rubens Paiva ocorreu 7 dias depois do final do desfecho do sequestro do embaixador Bucher, em consequência da chegada de duas amigas dele que foram presas no Aeroporto do Galeão, vindas do Chile, trazendo escondido cartas de exilados no Chile destinadas a Rubens. Preso e troturado, morreu na noite do mesmo dia, no Rio de janeiro.
O mesmo ocorreu com Stuart Angel Jones, no dia 24 de maio de 1971, relacionado com a busca do paradeiro de Lamarca, da mesma organização do primeiro, relacionado com o Chile através dos 70 prisioneiros libertados, que foram para aquele país.
Recentemente, uma publicação, de 2017, a cargo da equipe da justiça de transição, desenvolvido na seção do MPF no Rio de Janeiro, revela que o major Rubens Paim Sampaio, responsável pela direção da Casa da Morte de Petropólis, um centro de tortura do Exército de onde somente uma pessoa conseguiu sair com vida (Inês Etienne Gusmão), que havia ordem expressa do ministro do Exército para que, após tiradas as informações sobre as respectivas organizações clandestinas de que faziam parte, fossem sumariamente eliminados todos os prisioneiros que tivessem passado pelo Chile!
Ora, Anísio esteve no Chile, e nada poderia confessar sobre atividades políticas ou sobre organização clandestina, pois não pertencia, certamente, a nenhuma organização. Porém, para os torturadores, suas negativas poderiam ser entendidas como prova da disciplina férrea que muitos torturados possuíam, e nem com o risco de morte, nada revelavam.
Pelo acima descrito, verifica-se que a morte do educador ocorreu em um momento situado entre a morte de Rubens Paiva e a passagem de Lamarca para o MR-8. A de Stuart Angel, dois meses depois da de Anísio. Lamarca morreria no interior da Bahia a 17 de setembro de 1971, quatro meses depois da morte de Stuart, em um local do sertão baiano não muito distante da terra onde nasceu Anísio Teixeira!
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