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Existe um mito, muito difundido, que os lêmingues – espécie de roedor que vivem no ártico e tundras – seriam animais com um bizarro ímpeto suicida. Conta-se que se um dos líderes do bando se atira de um penhasco, todo o grupo de roedores o seguiriam sem pestanejar, morrendo todos juntos em uma marcha coletiva para a própria morte. Esse suposto hábito suicida dos lêmingues é uma noção muito antiga, nunca fundamentada, mas que se popularizou, principalmente graças a um documentário da Disney, chamado White Wilderness, ganhador do Oscar de Melhor Documentário em 1959.
No documentário aparecem dezenas de lêmingues pulando de um penhasco para o Oceano Ártico, enquanto o narrador conta que os pequenos roedores que nadam em direção ao horizonte vão morrer afogados após um exaustivo e inútil esforço.(cena disponível neste link: https://www.youtube.com/watch?v=xMZlr5Gf9yY ). O filme, no entanto, não passou de uma grande farsa. Os produtores da película produziram uma engenhosa montagem para sustentar um mito irreal, soube-se, décadas depois, que não houve suicídio em massa, mas que os animais foram encurralados e jogados deliberadamente na água.
Hoje sabemos que este mito suicida dos lêmingues, mesmo que muito popular (retratado em animações, jogos de videogame, etc) não corresponde a realidade. Mas o comportamento dos lêmingues serve como uma metáfora válida dos riscos de se seguir as massas estupidamente sem levar em conta riscos e consequências.
Valendo-se desta figuração dos lêmingues, é inescapável a comparação com os chamados “Bolsominions”, o barulhento grupo de apoiadores radicais do candidato Bolsonaro. Grupo de baixa capacidade argumentativa, eles basicamente repetem, de forma agressiva, os argumentos de seu líder, por mais absurdos e ilógicos que eles sejam. Incapazes de refletir sobre qualquer tema que escape a um binarismo primário, muitos destes abraçam abertamente as teses mais tresloucadas, muitas delas ferindo a seus próprios interesses imediatos.
Um exemplo: uma quantidade importante de apoiadores do Bolsonaro são trabalhadores, pessoas que dependem da renda de seu trabalho para sobreviver. Mesmo assim, abraçam e apoiam teses que lhes retiraram direitos básicos, como Carteira de Trabalho, 13º salário, férias remuneradas, etc.
Neste mesmo terreno, é interessante observar nas pesquisas do 2º turno apontam que, para a maioria dos eleitores, Bolsonaro representaria uma candidatura alinhada aos interesses dos ricos. Sabemos que a imensa maioria do povo brasileiro não é constituída por pessoas ricas, no entanto, a maioria dos eleitores entrevistados expressaram intenção em votar no militar da reserva. O que faria pessoas votarem em alguém que, sabidamente, não defenderá os seus próprios direitos, mas de uma minoria de privilegiados?
Outro exemplo é o próprio tema da democracia: abraçam teses autoritárias e de supressão da democracia sem refletir, por nenhum momento, que o fim da democracia não atingirá apenas seus oponentes, mas a todos e todas. O aliado circunstancial de hoje será o alvo da perseguição de amanhã. Todos os regimes ditatoriais do século XX tiveram este comportamento de, após eliminar as oposições, perseguir alguns setores que lhe deram sustentação, num movimento de “purificação” contra setores mais moderados (portanto, menos convictos da infalibilidade de seu líder) ou ainda contra setores excessivamente radicais (por estarem indo muito além da vontade expressa pelo regime).
A marcha suicida dos lêmingues é um mito, mas os seguidores do “mito” agem como os lêmingues da Disney: marcham decididamente para o abismo, mesmo que isso os leve ao seu próprio fim.
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