Publicado por Joaquim de Carvalho
A entrevista que Eduardo Bolsonaro concedeu à Fox News, tem várias impropriedades, além da declaração dele de que o Brasil já foi uma república socialismo alguma vez na história.
“Estamos realmente otimistas porque o Brasil está mudando de uma gestão bem socialista para uma economia muito mais liberal. Portanto, o que vim fazer aqui nos Estados Unidos é dar os primeiros passos no resgate da nossa credibilidade. E mandar uma mensagem clara de que não seremos mais um país socialista”, disse.
O âncora Lou Dobbs poderia ter objetado, já que é um jornalista experiente e até 2009 trabalhou na CNN, que não é uma emissora de direita como a Fox, mas esta é uma impropriedade (ou inépcia) que diz respeito à audiência dele.
Na relação econômica entre os países, a credibilidade é verificada por agências especializadas, que, durante os governos de Lula e Dilma, recomendaram investimentos no Brasil.
Para o público americano mais qualificado — entre os quais, os investidores —, deve causar estranheza que o portador da mensagem de resgate da credibilidade seja o filho do presidente eleito.
Em países com democracia consolidada, os assuntos de estado não são tratados como negócios de família.
Como lembrou Kiko Nogueira, em artigo neste site, esse comportamento é comum em ditaduras na África ou nos países árabes.
Um dos filhos do ditador Muamar Kadafi, Saif al-Islam Kadafi, por exemplo, costumava se movimentar fora das fronteiras da Líbia como primeiro-ministro do pai.
Deu no que deu.
Para quem pensa em investir no Brasil, ver o filho falar como será o governo do pai não gera segurança. Pelo contrário.
O que passa credibilidade é a força das instituições democráticas. Governos passam, elas ficam. E investidores pensam na estabilidade.
Além disso, a beligerância contida na mensagem de Eduardo Bolsonaro não ajuda em nada o Brasil.
Na mesma entrevista, ele disse que o governo de seu pai estuda não reconhecer as eleições da Venezuela — uma hostilidade gratuita.
Também voltou a falar de um tema que o pai foi aconselhado a manter em banho-maria.
“Adoraríamos mudar a embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém, em Israel”, disse, para justificar a suposta semelhança entre seu pai e Donald Trump.
“Estamos bem animados de estarmos tão próximos dos Estados Unidos”, afirmou.
Bolsonaro sendo entrevistado pela Fox, num programa comandado por um jornalista experiente, que já foi até cogitado para disputar eleições presidenciais, lembra a fábula do jabuti em cima da árvore.
Jabutis, como se sabe, não sobem em árvore.
Na fábula, a cena incomoda um único animal, o cão, que, com seu instinto, achava que aquele jabuti fora de lugar, sem função alguma, desequilibrava o ecossistema. Bicho errado no lugar errado, sem nada para fazer, é um perigo. Cedo ou tarde, dá confusão.
Com latidos insistentes, chama a atenção do rei da Floresta, o leão, que acaba revelando que foi ele quem colocou o jabuti lá.
“Tenho meus motivos”, disse, depois de dar uma patada no cão e expulsá-lo da mata.
A fábula termina com a frase:
“Jabutis não sobem em árvores. Se ele está lá, alguém com esse poder o colocou lá.”
A família Bolsonaro é um jabuti bem pesado que ameaça derrubar o galho.
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