sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Se Bolsonaro quer selva, nós temos Silva

REUTERS/Leonardo Benassatto


A América do Sul é perfeita geopoliticamente para se produzir uma guerra sangrenta entre seus países. Uma guerra entre Brasil e Venezuela mobilizaria a intervenção direta dos americanos e daria a eles um novo mercado para venda dos armamentos de segunda classe em início de sucateamento e precisando ser desovado.

Daria também o controle das novas fontes de petróleo. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo (300 bilhões de barris comprovados). O Brasil tende a ter riqueza similar em seu litoral.

Povos sucateados por mídias truculentas e acumuladoras de poder e ódio começam a permitir que essa maldição nos chegue com extrema rapidez e violência retórica. Bolsonaro é tudo o que a indústria armamentista americana sempre sonhou: um elemento político fortemente desestabilizador.

Alinhado às Forças Armadas, o bolsonarismo é o nosso suicídio coletivo em escala continental, com bases no fundamentalismo charlatão (a América do Sul é famosa por seus suicídios coletivos calcados em fundamentalismo extremista, haja vista o que o líder religioso Jim Jones fez na Guiana em novembro de 1978, levando 918 discípulos a cometer suicídio).

Agora, não serão 918. Serão milhões. De início, são indígenas, negros, comunidades LGBT, trabalhadores, idosos, crianças e as vítimas de sempre da testosterona assassina dos machos brancos e velhos: as mulheres. O grau de violência institucional que já está vigendo no Brasil é absolutamente sem precedentes. O lawfare, até aqui praticado contra o PT e as esquerdas, será ampliado para toda a população. É a isonomia do holocausto.

Com um infiltrado direto do governo americano no Ministério da Justiça, a tempestade perfeita para o patrocínio de uma guerra insana, duradoura, assassina, geopolítica e doméstica está mais do que dado.

O Brasil é vanguarda nessa nova ordem do horror explícito. Antecipou as fraudes eleitorais via plataformas digitais que irão varrer os países mais fragilizados institucionalmente – e as graves apreensão e atenção internacionais estão voltadas para os países africanos. Para ganhar uma eleição hoje, basta ter um péssimo caráter associado a empresários de índole siamesa. Conduzir o povo como gado – prática que começou a ser combatida no início do século 21 – voltou a ser uma espécie de esporte pequeno-burguês, fetiche interrompido decorrente de frustrações intelectuais de toda a sorte.

Trump e Bolsonaro são a expressão máxima dessa tendência. O complexo de inferioridade intelectual de ambos faz lembrar os insetos alienígenas dos “Homens de Preto”, filme de Barry Sonnenfeld (1997): imagine um inseto gigante que anda em bando devastando ecossistemas inteiros, de posse um imenso complexo de inferioridade.

O complexo de inferioridade é extremamente tóxico porque é ele o elemento que leva as pessoas à violência. A violência é a falta de conteúdo e do argumento (e da civilidade). Ao não saber como disputar espaços políticos nem espaços sociais, os segmentos ultraconservadores optam pela violência física e retórica que, por sua vez, está associada a incapacidades motoras básicas (a linguagem é também uma atividade motora, caso alguém não saiba).

Cúpulas militares também padecem, em seu DNA, desse complexo fundamental. Como é, em essência, um universo de força bruta, a caserna traduz “inteligência” em sua semântica interna como “estratégia”. A incompreensão do limitado general Heleno sobre a impaciência de Dilma Rousseff – leitora de Flaubert, Proust e Guimarães Rosa – com relação à “inteligência” do serviço institucional do governo retrata essa assimetria cognitiva elementar: para ele, ‘inteligência’ seria um valor incontestável, pleno de significação a priori – uma ingenuidade quase infantil.

No exército, ‘inteligência’ é sinônimo de ‘estratégia’. Não há ali – e em tese nem deveria haver – um trabalho intelectual. ‘Pensar’ para um general é sinônimo de ‘hesitar’. Claro que há exceções, como, por exemplo, o Almirante Othon, cientista que criou uma das mais avançadas tecnologias do mundo para centrífugas e para o enriquecimento de urânio. Talvez, por isso mesmo ele tenha sido preso pela Lava Jato: um militar que ‘pensa’ é uma ameaça ao sistema que ‘pasta’ na grama árida da manutenção do poder e dos privilégios.

Gustavo Conde

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